Anuência da presidente foi dada em 2006, quando chefiava a Casa Civil. Hoje, ela afirma que só concordou porque recebeu 'documentos falhos' para análise
DE PAI PARA FILHO - A refinaria de Pasadena, no Texas: comprada na gestão de Gabrielli, acabou se transformando em um problemão do qual Graça Foster (no detalhe) quer se livrar (Agência Petrobras e Glaicon Enrich/News Free)
Um dos mais malsucedidos negócios da história da Petrobras foi
fechado com a anuência da presidente Dilma Rousseff, quando ela ainda
era ministra-chefe da Casa Civil e comandava o conselho da estatal.
Documentos revelados nesta quarta-feira em reportagem do jornal O Estado de S. Paulo mostram que
Dilma votou, em 2006, a favor da compra de 50% de uma refinaria em
Pasadena, no Estado americano do Texas.
A outra metade ficou com a
trading belga Astra Oil. A parceria foi desfeita em junho de 2012,
depois de acirrada disputa judicial. A Petrobras, então, adquiriu as
ações da Astra Oil e ficou como única dona da refinaria – e também com
um prejuízo superior a 1 bilhão de dólares.
O caso, revelado por VEJA, está sob análise do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público, que investigam suspeitas de superfaturamento.
Leia também:
Dois anos após a negociação, em 2008, Dilma levantou dúvidas sobre a transação. Na ocasião, a estatal e sua sócia belga divergiam sobre a condução da refinaria, e a Petrobras propôs comprar os 50% restantes. Por quanto? Setecentos milhões de dólares.
A então ministra criticou
duramente o presidente da estatal à época, José Sérgio Gabrielli, e a
operação foi rechaçada pelo conselho. Em 2009, porém, a Petrobras perdeu
na Justiça e foi obrigada a pagar 839 milhões de dólares à Astra pela
sua metade.
Quando percebeu que não havia o que fazer e o melhor era se
livrar da refinaria, a única proposta de compra foi de 180 milhões de
dólares. Diante do rombo iminente de mais de 1 bilhão de dólares, a
Petrobras desistiu da venda.
Em 2006, a estatal havia pago 360 milhões de dólares por 50% da
Pasadena Refining System Inc. A planta fora adquirida um ano antes,
desativada, pela belga Astra Oil, por 42,5 milhões de dólares.
O que
levou a refinaria a ter uma valorização de dezessete vezes em um ano
permanece um mistério. Documentos obtidos pelo jornal mostram que Dilma
foi favorável à aquisição, embora já houvesse questionamentos sobre a
planta, considerada obsoleta.
A companhia até hoje não conseguiu
explicar o que a levou a investir 1,2 bilhão de dólares em uma refinaria
pequena, ultrapassada e sem condições de processar o petróleo extraído
na costa brasileira, que não vale 15% disso.
Ouvida pelo jornal O Estado de S. Paulo, Dilma manifestou-se
pela primeira vez sobre o assunto. Afirmou que recebeu "informações
incompletas" de um parecer "técnica e juridicamente falho". Em nota, a
presidente afirma que o material que embasou sua decisão em 2006 não
trazia justamente a cláusula que obrigaria a Petrobras a ficar com toda a
refinaria, reporta o jornal.
Dilma prossegue afirmando que também não
teve acesso à cláusula Marlim, que garantia à sócia da Petrobras um
lucro de 6,9% ao ano mesmo que as condições de mercado fossem adversas.
Essas cláusulas "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" se
fossem conhecidas, informou a nota da Presidência.
A nota encerra esclarecendo que, após tomar conhecimento das
cláusulas, em 2008, o conselho passou a questionar o grupo Astra Oil
para apurar prejuízos e responsabilidades.
Em sua decisão, segundo o
jornal, Dilma foi seguida pelos então ministros Antonio Palocci
(Fazenda) e Jaques Wagner (Relações Institucionais), hoje governador da
Bahia pelo PT. Ambos integravam o conselho da estatal.
O que a
presidente não explica é por que aprovou a compra por 360 milhões de
dólares de uma refinaria negociada um ano antes por 42,5 milhões de
dólares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário