quarta-feira, 19 de março de 2014

Crescimento da classe média brasileira pressiona alta de preços.Governo estuda " trava"


Para o presidente do BC, a incapacidade do governo de oferecer infraestrutura adequada e a ineficácia da indústria provocaram um descompasso entre a oferta e a demanda. 

País não se preparou para absorver a entrada de 40 milhões de pessoas no mercado

Deco Bancillon

Publicação: 19/03/2014  Correio Braziliense

No entender de Tombini, nem o governo nem o setor privado se prepararam para atender o expressivo avanço da demanda (Antonio Cruz/Agencia Brasil)
No entender de Tombini, nem o governo nem o setor privado se prepararam para atender o expressivo avanço da demanda

A ascensão social de cerca de 40 milhões de brasileiros antes considerados pobres à classe média e ao mercado de consumo produziu inflação no país. 
 
A avaliação é do presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, que creditou à ampliação da renda familiar, por meio da forte correção do salário mínimo e do reforço do Bolsa Família, o fato de o custo de vida se manter sistematicamente acima do centro da meta de 4,5% ao ano perseguida pela autoridade monetária. 
 
Para ele, a persistência da carestia em patamar elevado — média de 6% ao ano — é estrutural. “Quarenta milhões de pessoas disputando consumo, não só de serviços, mas infraestrutura, têm impacto (nos preços)”, disse ontem, ao participar de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.

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No entender de Tombini, nem o governo nem o setor privado se prepararam para atender o expressivo avanço da demanda. Do lado público, faltaram obras para a ampliação, por exemplo, dos aeroportos. Com a nova classe média entrando pela primeira vez em um avião, os preços das passagens aéreas dispararam. 
 
Também ficaram mais caros serviços básicos que antes eram luxo para esse público, como cabeleireiro, manicure, mecânico de carro e pintor de parede. Os aumentos acompanharam o salário mínimo e foram facilitados pelo fato de não se ter como importar esse tipo de mão de obra.

Do lado da indústria, faltaram produtos. Sem capacidade de investimentos e com a produtividade em baixa, as empresas tiveram que abrir espaço para os importados, o que, ressalta-se, ajudou a segurar parte dos aumentos de preços. 
 
O varejo, por sua vez, não se intimidou em remarcar constantemente as tabelas, certo de que, com a sensação de riqueza, inflada pela queda do desemprego e com os consumidores ávidos por satisfazerem necessidades reprimidas há tempos, pagariam o que fosse pedido. 
 
Essa festa do consumo foi amplificada pela oferta maciça de crédito. 
 
Não à toa, a nova classe média está sofrendo hoje com o superendividamento.
 

Governo planeja “trava” para manter a nova classe média

Elaine Cotta e Simone Cavalcanti   (redacao@brasileconomico.com.br) -

18/07/11 13:06

"A sociedade sabe que o governo só pode gastar o que ganha e que precisa ter a vida organizada"

Comunidade

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Secretaria de Assuntos Estratégicos lança até o fim do ano a segunda geração de programas sociais, que terá como objetivo evitar que os brasileiros que ascenderam de nível socioeconômico corram o risco de voltar para a pobreza.

O governo federal começa a estruturar dentro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) o que o ministro Wellington Moreira Franco chama de "segunda geração" das políticas sociais.

O projeto, que está em processo de elaboração e que deve ser lançado efetivamente até o final do ano, pretende funcionar como uma "trava" para evitar que os cerca de 49 milhões de brasileiros que ingressaram na classe média desde meados dos anos 1990 voltem para a pobreza.

"Já provamos que é possível o país se desenvolver com distribuição de renda", disse Moreira Franco ao receber o Brasil Econômico em seu gabinete na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, na quinta-feira (14/7).

Para ele, o legado dos oito anos de gestão do ex-presidente Lula foi a mudança no desenho econômico e social do Brasil, mas é necessário avançar ainda mais. 

Assim, é preciso ter um projeto que dê sustentabilidade à melhora da renda e à ascensão do brasileiro, levando em consideração solavancos e retrocessos que a economia possa sofrer na próxima década.

Para avançar nessa conta, a SAE vai mapear a nova classe média e identificar o que impediu trabalhadores pobres de subir de classe social. 

Isso é necessário para desenhar um programa que dê novas oportunidades de ascensão, além de levantar os riscos que podem provocar um retrocesso de quem melhorou de vida.

"Precisamos saber quem são essas pessoas, suas aspirações e valores para elaborar um projeto que atenda de fato seus anseios e necessidades e criar mecanismos para que esse ganho não se perca", explica.

Até há pouco tempo, depois de quitadas as contas do mês, a nova classe média não tinha um centavo para consumir mais do que os itens da cesta básica. 

De acordo com dados do instituto de pesquisa Data Popular, hoje, a classe C é responsável por 78% do que é comprado nos supermercados, 60% das mulheres vão a salões de beleza, detêm 70% dos cartões de crédito no Brasil e 80% das pessoas acessam a internet.

"As políticas sociais do primeiro momento (leia-se programas como o Fome Zero e o Bolsa Família) praticamente cuidavam da sobrevivência", diz Franco. "Agora, não teremos mais o foco no programa e sim no cliente".

Afinal, a escolaridade dos jovens de classe média é maior que a de seus pais. Segundo a pesquisa, hoje o sonho de muitos jovens desse estrato não fica apenas nos bens, mas é o de conseguir um diploma de Ensino Superior e o MBA. 

E criar oportunidades para atingir esses objetivos, como o de gerar potencial inovador nesses jovens, será a meta da "segunda geração" dos programas sociais, que terá ações focadas em três segmentos: 1) Crianças de zero a três anos; 2) Jovens e 3) Habitação.

O primeiro, explica Franco, se justifica porque a criança é ‘moldada' até os três anos de idade. É nessa fase que ela desenvolverá todas as capacidades cognitivas que definirão que tipo de cidadão será no futuro. 

Nos projetos voltados para o jovem, o objetivo é, em primeiro lugar, dirimir os elevados índices de mortalidade, especialmente nas periferias.

"Um jovem que nasce na favela, se não dá para jogador de futebol ou cantor de funk, é cooptado pelo tráfico", lamenta o ministro. E o problema das favelas está também no terceiro e último foco dos novos programas, que é a habitação. Afinal, ter uma moradia digna, com água, luz e tratamento de esgoto, é direito de todo brasileiro.

Segundo o ministro, o que se deseja para o país é um cidadão diferente, com valores de vida que ajudem a construir uma sociedade. "Queremos democratizar as oportunidades e só vamos avançar e nos tornar de fato uma das grandes economias do mundo quando a sociedade for o agente de produtividade e produtor do desenvolvimento. 

Para chegar à posição de 5ª maior economia do mundo, é preciso se organizar. Senão, não se chega", afirmou Franco.

Gargalos

O ministro, no entanto, reconhece que junto com ascensão econômica vieram desafios. O principal é manter a demanda por bens e serviços crescendo sem pressionar preços. "Não queremos inflação", diz, lembrando ainda do câmbio valorizado, do juro alto e da indústria operando com baixíssima ociosidade e em busca de ganhos de produtividade.

Qual a nossa preocupação?, pergunta Franco, emendando na resposta: "Surgiu um novo segmento social que consome, que teve acesso a crédito e que evidentemente vai elevar as operações de crédito. Isso tem virtudes, mas também gera apreensões pois a adimplência é um componente importante para se manter a confiança na economia. 

Vamos acompanhá-la com lupa", diz, lembrando ainda que está entre os objetivos do governo uma campanha que ajude a desenvolver no brasileiro a cultura da poupança.

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