16/02/2014 09h00
Município de Extrema desenvolve o Programa Conservador das Águas.
Em áreas conservadas, a água se infiltra encharcando o solo e o subsolo.
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A grande estiagem do verão no Sudeste nos últimos dias provocou a
realização de uma campanha para economizar água na Grande São Paulo.
Extrema, em Minas Gerais,
aposta na proteção das nascentes para garantir o estoque de água. O
município está ganhando fama mundial com o Programa Conservador das
Águas, o projeto recebeu o prêmio da ONU de melhores práticas ambientais
no planeta.
São Pedro foi mais uma vez acusado de negacear com as chuvas. Na terra,
o grande vilão da vez é o conjunto de represas chamado de Sistema
Cantareira, acusado de baixar o nível. O cabeça do complô seria o
reservatório Jaguari, o coração do sistema que nos últimos dias mostrava
as gengivas e parte dos fundos com menos de 10% da capacidade,
assombrando com a falta d'água a região metropolitana de São Paulo. Mas,
a responsabilidade material seria do Rio Jaguari, que corre na divisa
entre São Paulo e o sul de Minas, e é principal alimentador do sistema.
Ele é bebido inteirinho pela população paulistana.
O Rio Jaguari é caudaloso na época de chuva e verte por toda cortina de
pedra. Nos picos de cheia alcança uma vazão de até 200 mil litros por
segundo. A vazão média do rio é de 22 mil litros por segundo. Em um dia
nessa semana a vazão foi de 1.350 litros, quando o Jaguari contribuiu
com o Sistema Cantareira com apenas 6% do que costuma levar. O Rio
Jaguari é abastecido pela água que vem das nascentes. O Sistema
Cantareira conta com aproximadamente dez mil nascentes.
O Rio Jaguari engrossa e ganha corpo na divisa paulista de Joanópolis com Extrema,
no extremo sul de Minas. O município está ganhando fama mundial com o
Programa Conservador das Águas, um projeto de proteção de nascentes que,
entre tantos prêmios, levou o troféu da ONU de melhores práticas
ambientais no planeta.
A grota pioneira do programa tinha sido desmatada e formada de pasto.
Em 2008, foi concluído o trabalho de cercada e replantio. Hoje, o lugar é
um vistoso capoeirão revigorado. “Ela está com 60% da vazão original,
da vazão média. Ela teve um pouco da sua capacidade, mas está uma
nascente viva”, diz o secretário de Meio Ambiente de Extrema, Paulo
Pereira.
O programa de Extrema reconhece o proprietário rural como prestador de
serviços ambientais já que ele abre mão de ter lucro em áreas protegidas
para garantir um bem comum que é a água. A chuva quando cai em terreno
limpo corre direto para o rio e logo volta para o mar. Em áreas
conservadas, a água se infiltra no solo, forma bolsões freáticos na
montanha, por exemplo, encharca o solo e o subsolo. Depois, vai se
liberando devagar pelas nascentes, garantindo o abastecimento nos
períodos secos. O proprietário inscrito no projeto ganha por ajudar a
estocar água.
A propriedade de João Batista de Oliveira tem 122 hectares no Programa
Conservador das Águas. Ele foi um dos primeiros produtores a participar
do projeto na região e recebe atualmente cerca de R$ 2,3 mil por mês
como compensação. “A água para o gado não falta, mas o volume caiu 40%”,
diz.
O criador Hélio de Lima é proprietário de 90 hectares na serra da
Mantiqueira. Praticamente a metade do local é coberta de mata que compõe
um mosaico de pasto e áreas de roça com grotas sadias. “Hoje, temos
água. Nove minas todas preservadas. Nenhuma secou”, diz.
As nascentes da fazenda fornecem água capaz de abastecer seis mil
pessoas na cidade de São Paulo. O criador poderia ter mais 30 ou 40
cabeças de gado nas áreas reflorestadas. Ele recebe R$ 1,6 mil de
compensação. Mas, não tem nada que pague ver as minas perenes.
Nas áreas com reservas de mata as nascentes sofreram menos com a
inédita estiagem de verão, o que reforça uma lição que parece ter sido
esquecida por parte da população. Como o alimento que vem da fazenda, a
água consumida na maioria das cidades brasileiras também é produzida na
propriedade rural.
O município de Extrema já conta com 7,5 mil hectares no Programa
Conservador das Águas e avança ao ritmo de plantio de 800 mudas por dia
na meta de agregar 150 hectares ao ano. Na composição do Sistema
Cantareira, o programa participa com apenas 7% das nascentes. Mas,
segundo o secretário Paulo Pereira, tem um balanço positivo.
O programa de Extrema foi inspirado no modelo de Nova York, nos Estados
Unidos. Há 25 anos, ao invés de gastar bilhões em reservatórios, o
estado optou por investir milhões em propriedades que produzem água a
200 quilômetros de distância.
A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp)
abastece a Grande São Paulo.
O coordenador de mananciais Ricardo Araújo
disse que a empresa já plantou R$ 1,3 milhão de mudas para melhorar o
Sistema Cantareira, mas não tem planos, no momento, de pagar compensação
aos proprietários rurais, como acontece em Extrema.
Em Brasília, há
projeto que cria uma política nacional de pagamento por serviços
ambientais parado na Câmara Federal.
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