sexta-feira, 14 de março de 2014
Rodrigo Constantino: Carta aberta a Letícia Spiller e um oportuno esclarecimento
Caros leitores,
Embora
já tivesse tido a oportunidade de divergir de rodrigo Constantino - e
eu nem ninguém precisamos concordar com alguém sempre, pois gozamos de
nossas liberdades - fato é seus artigos ultimamente têm sido muito bem
escritos, muito bem fundamentados e dotados daquele bom senso que a
maturidade traz àqueles que se esforçam para compreender as coisas da
vida.
Neste
contexto, sugiro a todos lerem a Carta Aberta a Letícia Spiller e o PS
que Rodrigo escreveu devido à repercussão de seu artigo.
Carta aberta a Letícia Spiller
Prezada Letícia,
Antes
de mais nada, gostaria de dizer que admiro seu talento como atriz e
também te considero muito bonita. Infelizmente, você tem endossado
certas ideias um tanto estapafúrdias, aplaudido regimes nefastos como o
cubano, e alegado que se arrepende de ter usado uma camisa com a
bandeira americana no passado, chegando a afirmar que se fosse hoje
usaria uma com o Che Guevara.
Ontem,
sua casa no Itanhangá foi assaltada por bandidos armados, que lhe
fizeram de refém enquanto sua filha dormia logo ao lado. Lamento o que
você passou, pois deve ser, sem dúvida, uma experiência traumática.
Nossa casa é nosso castelo, e se sentir inseguro nela é terrível, especialmente quando temos filhos menores morando com a gente. A sensação de impotência é avassaladora, e muitos chegam a decidir se mudar do país após experiências deste tipo.
Nossa casa é nosso castelo, e se sentir inseguro nela é terrível, especialmente quando temos filhos menores morando com a gente. A sensação de impotência é avassaladora, e muitos chegam a decidir se mudar do país após experiências deste tipo.
O
que eu gostaria, entretanto, é que você fosse capaz de fazer uma
limonada desse limão, ou seja, que pudesse extrair lições importantes
desse trauma que ajudassem a transformá-la em uma pessoa melhor, mais
consciente dos reais problemas que nosso país enfrenta. Se isso
acontecesse, então aquelas horas de profunda angústia não seriam em vão.
Como você talvez saiba, sou o autor do livro Esquerda Caviar,
que fala exatamente de pessoas com seu perfil (aproveito para lhe
oferecer um exemplar autografado, se assim desejar). Artistas e
“intelectuais” ricos, que vivem no conforto que só o capitalismo pode
oferecer, protegidos pela polícia “fascista”, mas que adoram pregar o
socialismo, a tirania cubana ou tratar bandidos como vítimas da
sociedade: eis o alvo da obra.
Essa
campanha ideológica feita por esses artistas famosos acaba tendo
influência em nossa cultura, pois, para o bem ou para o mal (quase
sempre para o mal), atores e atrizes são formadores de opinião por aqui.
Quando um Sean Penn, por exemplo, abraça o tiranete Maduro na
Venezuela, ele empresta sua fama a um regime nefasto, ignorando todo o
sofrimento do povo venezuelano. Isso é algo abjeto.
No
Brasil, vários artistas de esquerda têm elogiado ditaduras socialistas,
atacado a polícia, o capitalismo, as empresas que buscam lucrar mais de
forma totalmente legítima, etc. Muitos chegaram a enaltecer os
vagabundos mascarados dos black blocs, cuja ação já resultou na morte de
um cinegrafista.
Pois
bem: a impunidade é o maior convite ao crime que existe. Quando vocês
tratam bandidos como vítimas da sociedade, como se fossem autômatos
incapazes de escolher entre o certo e o errado, como se pobreza por si
só levasse alguém a praticar uma invasão dessas que você sofreu, vocês
incentivam o crime!
Pense
nisso, Letícia. Gostaria de perguntar uma coisa: quando você se viu
ali, impotente, com sua propriedade privada invadida, com armas
apontadas para a sua cabeça, você realmente acreditou que estava diante
de pobres vítimas da “sociedade”, coitadinhos sem oportunidade diferente
na vida? Ou você torceu para que fossem presos e punidos por escolherem agir de forma tão covarde contra uma mãe e uma filha em sua própria casa?
Che
Guevara, que você parece idolatrar por falta de conhecimento, achava
que era absolutamente justo invadir propriedades como a sua. Afinal, o
socialismo é isso: tirar dos que têm mais para dar aos que têm menos,
como se riqueza fosse jogo de soma zero e fruto da exploração dos mais
pobres. Você se enxerga como uma exploradora? Ou acha que sua bela casa é
uma conquista legítima por ter trabalhado em várias novelas e levado
diversão voluntária aos consumidores?
Nunca
é tarde para aprender, para tomar a decisão correta. Por isso, Letícia,
faço votos para que esse desespero que você deve ter sentido ontem se
transforme em um chamado para uma mudança. Abandone a esquerda caviar,
pois ela não presta, é hipócrita, e chega a ser cúmplice desse tipo de
crime que você foi vítima. Saia das sombras do socialismo e passe a
defender a propriedade privada, o império das leis, o fim da impunidade e
o combate ao crime, nobre missão da polícia tão demonizada por seus
colegas.
Te
espero do lado de cá, o lado daqueles que não desejam apenas posar como
“altruístas” com base em discurso hipócrita e sensacionalista, daqueles
que focam mais nos resultados concretos das ideias do que no regozijo
pessoal com as aparências de revolucionário engajado. Será bem-vinda,
como tantos outros que já acordaram e tiveram a coragem de reconhecer o
enorme equívoco das lutas passadas em prol do socialismo.
Um abraço,
Rodrigo Constantino
***
Um post scriptum na carta para Letícia Spiller
A carta aberta que
escrevi para a atriz Letícia Spiller, assaltada em sua própria
residência ontem, causou enorme celeuma e já foi, em poucas horas, lida
por mais de 250 mil pessoas.
A grande maioria tem elogiado, o que nos enche de esperança com o país, pois muitos estão cansados do sentimento de impunidade que reina por aqui.
A grande maioria tem elogiado, o que nos enche de esperança com o país, pois muitos estão cansados do sentimento de impunidade que reina por aqui.
Mas
várias críticas têm surgido sobre o momento inoportuno, a falta de
respeito por “usar” o sofrimento dela para promover meu livro, ou um
suposto tom de “bem feito”. Nada mais falso.
A carta não contém ironia, tampouco eu desejaria que algo tão terrível, como ter bandidos armados em sua própria casa, acontecesse com ela (não desejo isso nem ao Sakamoto!). Eu realmente lamento o ocorrido.
A carta não contém ironia, tampouco eu desejaria que algo tão terrível, como ter bandidos armados em sua própria casa, acontecesse com ela (não desejo isso nem ao Sakamoto!). Eu realmente lamento o ocorrido.
Também
não preciso promover meu livro, pois ele já é um best-seller, com mais
de 20 mil exemplares vendidos, e eu sequer dependo desta renda para
viver (o que não quer dizer que seja ruim ganhar um extra com meu
trabalho, viu, Record?). Portanto, essa crítica de oportunismo não se
sustenta e mais parece projeção da própria esquerda materialista, que só
pensa em dinheiro, por mais que sempre diga o contrário.
O
momento foi inoportuno devido ao sofrimento da atriz? Não creio!
Afinal, ela está bem, nada de pior aconteceu (felizmente), está em
segurança, com a família, apesar de provavelmente ainda sentir angústia
com a noite assustadora que passou. Mas isso quer dizer que o momento é
justamente oportuno! Explico.
Alguns
perguntam se já tive arma apontada na cabeça, como se com tal pergunta
pudessem me desmoralizar como alguém insensível diante da dor alheia.
Respondo: já, sim. E foi muito desagradável. Não foi em casa, e sim no
carro. Uma arma prateada que bateu no meu vidro, com o marginal
demandando meu relógio, que fora presente de casamento dos meus pais
(valor emocional, se é que alguns esquerdistas compreendem isso).
Eu
até já contei esse caso aqui em outra ocasião. O fato é que tinha minha
filha com apenas um aninho em casa me esperando, e mantive a maior
calma do mundo, entregando o relógio sem gestos bruscos. Quando me vi em
segurança, longe do vagabundo, a perna tremeu um pouco. Não é uma
sensação boa estar entre a vida e a morte sob a mira de uma arma.
Mas
aqui vem a parte importante: esse momento tenso ajudou a mudar, em
parte, minha vida, quem eu sou, e para melhor. Eu era muito jovem, e
mais ligado a bens materiais. Na verdade, tinha coleção de relógios,
pois os adorava. Tudo isso pareceu pouco importante perto de continuar
vivo e poder chegar em casa e ver o sorriso de minha filha.
Experiências traumáticas podem, sim, mudar a gente. E foi exatamente com isso em mente que escrevi a carta para a atriz, aproveitando este
momento delicado que ela enfrenta. Oportunismo sim, mas no bom sentido.
Como eu acredito no livre-arbítrio, tanto dos bandidos como dos
artistas, acho que a Letícia Spiller pode mudar, usar essa experiência
para se dar conta de que vem defendendo bandeiras muito erradas, que
apenas incitam a criminalidade ao tratar bandidos como vítimas da
“sociedade”.
Infelizmente,
a reação de muita gente diz mais sobre eles mesmos do que sobre mim.
Felizmente, foi uma minoria perto da imensa maioria que compreendeu o
espírito da coisa. Há luz no fim do túnel…
Rodrigo Constantino
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