Resultado de pesquisa mostrou que mais de 50% das casas brasileiras não têm coleta de esgoto e 40% do que é recolhido é tratado adequadamente.
Um novo estudo sobre o saneamento básico põe o Brasil em uma das piores posições do mundo no atendimento por serviços de esgoto. O resultado é alarmante: mais da metade das casas não têm coleta e apenas 40% do que é recolhido é tratado de forma adequada.
Resolver um problema desse tamanho poderia diminuir os custos para a economia do país e melhorar a saúde de todo mundo. São milhares de internações todos os anos por causa da falta de coleta de esgoto. Milhões gastos com tratamento e bilhões perdidos com funcionários que não podem trabalhar. Isso sem contar com as crianças que ficam doentes e não podem ir para a escola.
Um estudo inédito comparou o Brasil com outros 199 países. No ranking do saneamento, estamos na posição 112, atrás de Equador, Chile, Honduras e Argentina. E o que mais preocupa é que o ritmo de expansão do serviço perdeu velocidade.
Dona Helena teve uma infecção no pé depois de entrar em contato com o esgoto. “Quase perdi meu pé. Medico falou que mais um pouco eu perdia o pé por causa da agua suja”, conta.
O esgoto da casa da Dona Helena e de todas as outras da rua já é coletado. A obra foi feita há alguns meses.
O problema é que elas são vizinhas do córrego que passa bem no fim da rua e recebe o esgoto de outras casas que não têm coleta. Resultado: quando chove, o córrego transborda, a água suja toma a rua e os moradores continuam sofrendo com a falta de saneamento.
Os moradores de Macapá nem coleta de esgoto têm. Só 1% da população tem acesso ao serviço.
A maioria recorre às fossas, e o pior: como agua encanada também não chega para todo mundo, eles bebem água dos poços. Quando chove, tudo se mistura.
“Tomando água contaminada agua porque a agua da chuva encheu as fossa então não tem até mesmo como você usar a agua de dentro do poço”.
A situação de quem vive em bairros de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, também piora com a chuva. “O problema de esgoto quando chove ele jorra tudo para a rua”.
“As chuvas vêm e essas águas contaminadas retornam para as residências causando vários problemas na saúde pública”.
Segundo o estudo do Instituto Trata Brasil, no ano passado, em todo o país, foram mais de 340 mil internações por infecções gastrintestinais. Se toda a população tivesse coleta de esgoto, esse número cairia para 266 mil. O gasto público com hospital, que foi de R$ 121 milhões, diminuiria em R$ 27,3 milhões.
“O indivíduo que fica doente por conta de uma infecção causada pela falta de saneamento ele falta ao trabalho, se jovem, falta à escola. Isso acaba tendo desdobramento. Aumenta o custo das empresas, diminui a produtividade do trabalhador e as crianças têm um desempenho escolar comprovadamente menor”.
Em 2012, o estudo estimou que os brasileiros perderam quase 850 mil dias de trabalho porque ficaram doentes, com vômito ou diarreia.
O gasto com horas pagas e não trabalhadas foi de R$ 1,112 bilhão. Se houvesse saneamento para todo mundo, as licenças médicas diminuiriam 23% e a economia seria de R$ 258 milhões.
Tem também o impacto na educação: os alunos que vivem sem coleta de esgoto estão atrasados na escola em relação aos que têm, porque faltam muito às aulas. Essa defasagem no ensino poderia ser reduzida em quase 7%, e os trabalhadores chegaria mais preparados ao mercado.
“Você já tem uma falta de mão de obra especializada no mercado e com a falta da universalização do saneamento você tende a ter uma próxima geração ainda com esse déficit, ainda precisando de uma melhoria pra que de fato consiga ser incorporada no mercado de trabalho. Sem dúvida alguma a questão do saneamento é um dos maiores desafios que o Brasil como Estado deve superar”.
O Ministério das Cidades informou que ainda não teve acesso ao estudo, mas que resolver o problema de saneamento é um desafio de todos, inclusive dos estados e municípios. Diz ainda que entre 2011 e 2013 o valor comprometido para saneamento foi de R$ 41,6 bilhões.
No caso de Duque de Caxias, a Secretaria de Estado e Ambiente declarou que lançará em abril o edital de licitação para a elaboração do plano municipal de saneamento básico.
Em São Paulo, a prefeitura informou que as obras de canalização do córrego que corta o bairro do Itaim devem ser iniciadas no começo do ano que vem.
O governo do Amapá informou que a rede de esgoto de Macapá está sendo recuperada com investimento de R$ 11 milhões com dinheiro do Governo Federal. A companhia de abastecimento declarou que um novo sistema de fornecimento de água deve ser inaugurado ainda este ano.
Falta de saneamento afeta educação e produtividade do país, diz estudo
País tem 35,5 milhões de moradias sem coleta de esgoto, aponta estimativa.
Brasil precisaria aplicar R$ 313 bi até 2033 para ter 100% de saneamento.
Imagem
de 2011 mostra crianças da comunidade São Nicolau, em São Paulo, em
área onde esgoto passava a céu aberto. Área sofria com a ausência da
coleta e tratamento de esgotos
Estudo brasileiro divulgado nesta quarta-feira (19) indica que a falta
de saneamento básico nas cidades pode afetar a economia nacional por
reduzir a produtividade do trabalhador, impactar o aprendizado de
crianças e jovens, além de afastar o interesse turístico de regiões que
sofrem com o despejo de esgoto e ausência de água encanada.
A pesquisa sugere que a queda na eficiência de trabalhadores e
estudantes é causada por doenças provocadas pela ausência de saneamento,
como as infecções gastrointestinais, que levam a diarreia e vômito –
resultantes do consumo de água contaminada.
Segundo o relatório "Benefícios econômicos da expansão do saneamento
brasileiro", lançado nesta quarta-feira (19), essa deficiência de
infraestrutura influencia a posição do país nos principais índices de
desenvolvimento, como o de mortalidade infantil e longevidade da
população.
No contexto mundial, o país ocupa a 112ª posição num ranking de saneamento que engloba 200 países. A pontuação do Brasil no Índice de Desenvolvimento do Saneamento -- indicador que leva em consideração a cobertura por saneamento atual e sua evolução recente -- foi de 0,581 em 2011, inferior às médias da América do Norte e da Europa.
No contexto mundial, o país ocupa a 112ª posição num ranking de saneamento que engloba 200 países. A pontuação do Brasil no Índice de Desenvolvimento do Saneamento -- indicador que leva em consideração a cobertura por saneamento atual e sua evolução recente -- foi de 0,581 em 2011, inferior às médias da América do Norte e da Europa.
O índice
brasileiro também está abaixo ao de países latino-americanos como
Honduras (0,686) ou Argentina (0,667).
"Queremos mostrar que o saneamento traz também outras formas de
riqueza, como a geração de trabalho, evolução do turismo, melhora na
escolaridade e que a falta dele pode provocar uma crise de
produtividade", disse Édison Carlos, presidente-executivo do Instituto
Trata Brasil, um dos organizadores do documento com o Conselho
Empresaria Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o CEBDS.
saiba mais
Crise econômica
O estudo estima que 14,3 milhões de moradias não têm água encanada e 35,5 milhões de moradias vivem sem coleta de esgoto. As informações são provenientes do cruzamento de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades, e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o novo relatório, o Brasil precisa investir pouco mais que R$
313 bilhões até 2033 para que o saneamento básico alcance 100% da
população.
Para exemplificar os danos que a ausência desses serviços básicos podem
causar à população, foram formuladas estatísticas baseadas na Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e em outros levantamentos do
governo federal.
De acordo com a pesquisa, ausências no trabalho de funcionários que
tiveram sintomas de infecção gastrointestinal representam por ano a
perda de 849,5 mil dias de trabalho – baseado em dados de 2012 e que
para cada afastamento por diarreia ou vômito, o trabalhador precisa de
três dias para se recuperar.
Estima-se que ao ano, as empresas gastam R$ 1,11 bilhão em horas pagas
não trabalhadas, dinheiro que, segundo o estudo, poderia ser revertido
em investimentos e contratações.
A análise apontou também que os trabalhadores sem acesso à coleta de
esgoto ganham salários, em média, 10,1% inferiores aos daqueles com as
mesmas condições de empregabilidade.
Para as organizações que elaboraram o levantamento, a universalização
dos serviços de água e esgoto reduziria em 23% o total de dias de
afastamento por diarreia e diminuiria o custo das empresas em R$ 258
milhões.
"Quisemos fazer correlações para ver como a falta de saneamento impacta
a vida do cidadão, mostrando os custos que temos nas empresas e como
isso impacta a produtividade do trabalho.
Para conseguirmos um país mais
competitivo, temos que resolver esses problemas", disse Marina Grossi,
presidente do CEBDS.
Moradores sofrem com córrego com falta de canalização na Zona Leste de SP
Impacto na educação e no turismo
De acordo com o relatório, alunos sem acesso à coleta de esgoto e água tratada sofrem um atraso escolar maior em comparação com estudantes com as mesmas condições socioeconômicas, mas que moram em locais onde há saneamento.
A pesquisa aponta que a universalização do saneamento reduziria em 6,8% o atraso escolar, com reflexos no ganho de produtividade do trabalho e aumento na remuneração futura.
"A partir do momento que a pessoa fica doente, ela se afasta do estudo.
Isso tem consequência para a sociedade: se ela estuda menos, seu
desempenho no mercado de trabalho será pior e sua remuneração poderá ser
inferior em comparação com a dos demais", disse Fernando Garcia, um dos
autores do estudo e consultor do Trata Brasil.
Outro problema apontado é que o país poderia arrecadar anualmente R$
7,2 bilhões com atividades turísticas em áreas onde atualmente não há
serviços de coleta de esgoto e água encanada.
O setor geraria 500 mil
postos de trabalho com o saneamento e valorização ambiental das áreas
beneficiadas.
"Não é a toa que países do Caribe e Oceania, que dependem do turismo,
têm saneamento total. Eles cuidaram dessas condições para evitar essa
perda de renda", explica Garcia.
Ele complementa dizendo que o governo "investe metade do que deveria"
por falta de capacitação humana, indispensável para elaboração de
projetos para as cidades. "Nós temos dinheiro para a universalizar o
saneamento", conclui.
De acordo com o Ministério das Cidades, entre 2011 e 2014 foram
investidos R$ 45 bilhões para a área de saneamento dentro do Plano de
Aceleração do Crescimento 2, o PAC.
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