quarta-feira, 7 de maio de 2014

O PT e o Plano Real







A partir da iniciativa do Congresso Nacional em fevereiro e no decorrer deste ano, estaremos comemorando os vinte anos do exitoso Plano Real, que teve como principal objetivo extirpar a hiperinflação presa a uma armadilha inercial (quando a origem da inflação passa a ser a própria inflação), que por alguns anos corroeu a economia brasileira.




Os contínuos Planos Econômicos Emergenciais (Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão, Brasil Novo ou “Plano Collor”, Collor II) que o precederam, foram basicamente heterodoxos, intercalados por períodos de ortodoxia, todos criados após o fim do Regime Militar e o início da redemocratização do País,  por iniciativa de sucessivos governos, o que envolveu um espaço temporal de aproximadamente dez anos.



Durante este período, o Brasil trocou sua moeda cinco vezes, chegando até a cortar três zeros, mas não alcançou o sucesso desejado por vários motivos, principalmente por não existir um ambiente internacional mais favorável. A profundidade do abismo conjuntural econômico agravou-se com os efeitos convulsivos da retroalimentação da inflação, deixando as classes trabalhadoras aterrorizadas com a perda do seu poder de compra.



A sensação que transpirava naquela época é que estávamos dentro de um laboratório de aventuras macroeconômicas, onde as equipes técnicas multidisciplinares faziam suas experiências mirabolantes, desde congelamento de preços até o confisco da poupança, baseando-se em argumentos monetaristas de que a inflação era originada unicamente pelo excedente de moeda na nossa economia, sendo as verdadeiras cobaias a desesperada sociedade brasileira.



O Brasil sofria, com sua economia totalmente enlouquecida após enfrentar uma inflação de 2.477,15% em 1993. Somente no decorrer do mês junho de 94 atingiu 46,58%; a partir daí, quando o Plano Real deslanchou, tivemos uma acentuada queda para 244,86% a.a., ao final do segundo semestre daquele exercício. Estávamos sendo vistos como uma Nação internacionalmente desacreditada, atrasada tecnologicamente, empobrecida e bloqueada para o mundo.



O Plano Real foi lançado em 27 de feveriero de 1994 e, mesmo com todos os problemas enfrentados, algumas medidas liberais foram adotadas. Diversos segmentos da nossa sociedade foram consultados e assim, o Cruzeiro Real foi sepultado, dando lugar ao vigoroso Real em 01 de julho de 1994, através de uma Medida Provisória.



Os fundamentos do plano não se limitavam somente à estabilização econômica, mas traziam com eles uma ampla abertura comercial e financeira, dentro de um programa de privatização de estatais, com um ajuste fiscal, prevendo uma forte redução das funções do Estado na sociedade e buscando também manter os níveis de produção e de emprego.



Lula e o PT, na época, combatiam frontalmente o plano, apontavam que se tratava de um “estelionato eleitoral”, concebido exclusivamente para eleger FHC à Presidência da República, adicionando outras expressões sarcásticas para definir melhor a iniciativa que transformou a nossa economia – “medida de efeito passageiro” e “golpe das elites”. Votaram contra a MP do Real em junho de 1995 e foram além - recorreram ao Supremo com uma ADI (Ação Direita de Inconstitucionalidade) contra o Plano. 


E, mais, retornaram ao tribunal para tentar derrubar a Lei de Responsabilidade Fiscal. O Real enfrentou também forte oposição do movimento sindical e até mesmo do Fundo Monetário Internacional (FMI).



Lideranças petistas na época, após analisarem o novíssimo Plano Econômico,  pronunciaram-se iluminados por uma notável “visão de futuro”:



Lula – Ex-presidente do Brasil
 “Esse plano de estabilização não tem nenhuma novidade em relação aos anteriores. Suas medidas refletem as orientações do FMI. O fato é que os trabalhadores terão perdas salariais de no mínimo 30%. Ainda não há clima, hoje, para uma greve geral, mas, quando os trabalhadores perceberem que estão perdendo com o plano, aí sim haverá condições” (Publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 15 de janeiro de 1994).



Guido Mantega – Ministro da Fazenda
 “Existem alternativas mais eficientes de combate à inflação. É fácil perceber por que essa estratégia neoliberal de controle da inflação, além de ser burra e ineficiente, é socialmente perversa” (Publicado na Folha de S. Paulo em 16 de agosto de 1994).



Aloizio Mercadante – Ministro-Chefe da Casa Civil
 “O Plano Real não vai superar a crise do país. O PT não aderiu ao plano por profundas discordâncias com a concepção neoliberal que o inspira” (Publicado no livro “O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de Conto).



Gilberto Carvalho – Ministro-Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República
 “Não é possível que os brasileiros se deixem enganar por esse golpe viciado que as elites aplicam, na forma de um novo plano econômico” (Publicado no livro “O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de Conto).



Marco Aurélio Garcia – Assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais
 “O Plano Real é como um relógio Rolex, destes que se compra no Paraguai e têm corda para um dia só. A corda poderá durar até o dia 3 de outubro, data do primeiro turno das eleições, ou talvez, se houver segundo turno, até novembro” (Publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 07 de julho de 1994).



Vicentinho - Líder do PT na Câmara dos Deputados
 “O Plano Real só traz mais arrocho salarial e desemprego” (Publicado no livro “O Milagre do Real”, de Neuto Fausto de Conto).



Maria da Conceição Tavares – Filiada ao Partido dos Trabalhadores; Ex-deputada Federal pelo Rio de Janeiro

 “O Plano Real foi feito para os que têm a riqueza do País, especialmente o sistema financeiro” (Publicado no Jornal da Tarde em 02 de março de 1994).

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