quarta-feira, 18 de junho de 2014

Aumenta risco de extinção do tatu-bola, animal-símbolo da Copa





Status de conservação do mamífero passa de 'vulnerável' para 'em perigo'. 


ONG diz que Fifa ofereceu verba baixa para preservação da espécie.

Eduardo Carvalho Do G1, em São Paulo
Tatu-bola do zoo do Rio 'posa' ao lado do mascota da Copa, o Fuleco (Foto: Esther Nazareth/RioZoo)Tatu-bola do zoológico do Rio de Janeiro com o mascote da Copa, Fuleco 
 
 
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, informou ao G1 que o Brasil deve anunciar em novembro deste ano a piora na classificação do status de conservação do tatu-bola, que passará de “vulnerável” para “em perigo” – uma categoria mais grave e que alerta para a necessidade de mais políticas públicas para preservação da espécie.


A mudança ocorre após cientistas calcularem que entre 2002 e 2012 houve redução de 30% do total de exemplares desta espécie, distribuídos entre os biomas Caatinga e Cerrado. 


Ainda não se sabe o tamanho da população existente no país, pois são necessários mais estudos para se chegar a esse dado.


A espécie foi escolhida pela Fifa para ser o mascote oficial da Copa do Mundo de 2014, batizado de Fuleco. O nome, escolhido pelo público, mistura as palavras futebol + ecologia. 

Porém, segundo organizações ambientais, a intenção inicial do órgão máximo do futebol mundial de promover a preservação da espécie ao torná-la um dos símbolos da Copa teria sido deixada de lado.


“Não há uma interlocução simples com a entidade, que parece não ter interesse de se envolver em questões do país-sede. Houve muitas críticas da mídia internacional sobre a exploração comercial do tatu-bola sem nenhum retorno para conservação da espécie. 


Não é justo para a sociedade brasileira”, disse Rodrigo Castro, secretário-executivo da Associação Caatinga, organização não-governamental que sugeriu a escolha desse tatu para mascote.


Castro sugere que uma das provas da não importância dada ao tatu-bola ocorreu no último dia 12, quando o mascote não apareceu na cerimônia de abertura, realizada na Arena Corinthians, em São Paulo. Procurada pelo G1, a Fifa não enviou resposta.

'Oferta insuficiente'

 
O porta-voz da Associação Caatinga afirma que, na última semana, um representante da Fifa entrou em contato com a ONG para propor uma doação. Segundo ele, a verba foi recusada por ser insuficiente à realização de trabalhos de pesquisa e conservação da espécie.


O valor exato não foi divulgado, mas, segundo Castro, equivalia a pouco menos de 5% do investimento total necessário para executar o Plano de Ação Nacional do Tatu-bola, criado pelo Ministério do Meio Ambiente para reverter a mortalidade de espécimes. 

O montante exigido para este plano é de R$ 6,2 milhões, distribuídos em cinco anos.

“A proposta foi rejeitada porque não contribuiria de forma mínima para a proteção do tatu-bola. É insuficiente para as ações”, explica. De acordo com Castro, ainda haverá novas negociações com a Fifa, apesar delas terem sido travadas por enquanto.

"Nós havíamos proposto à Fifa que uma parte das vendas dos bonecos do Fuleco fosse revertida para atividades de conservação ou ainda divulgar o projeto de preservação nas redes sociais da entidade, dando a oportunidade do mundo saber quem é o tatu-bola. Mas não houve êxito", complementa.

Bola como defesa
Tatu-bola se defende de predadores enrolando seu corpo. A carapaça do animal lembra uma bola de futebol. (Foto: Divulgação/Associação Caatinga/Mark Payne-Gill/NaturePL)Tatu-bola se defende de predadores enrolando seu corpo. A carapaça do animal lembra uma bola de futebol. 
 
 
A relação desta espécie de tatu com o futebol é o formato de bola que adquire ao se defender de predadores. Ao perceber a presença de onças ou raposas, seu corpo se contorce e o animal esconde partes frágeis como o tronco, a cabeça e as patas no interior de uma dura carapaça – que se fecha e fica em formato de bola.


O animal consegue ficar nesta posição de defesa por mais de uma hora, até que a situação de perigo passe. Porém, o instinto de defesa do tatu-bola o deixa frágil para caçadores, que ainda procuram espécimes pelo Nordeste e Centro-Oeste do país para consumo.

De comportamento arredio, a espécie é diferente dos outros tatus porque ela não cava buracos. Assim, fica vulnerável aos humanos por não conseguir se esconder.

Plano de ação
 
De acordo com o ministério do Meio Ambiente, a espécie integra a lista nacional de espécies da fauna brasileira ameaçadas de extinção. Sua população está distribuída por nove estados brasileiros, na Caatinga e no Cerrado, que perdem vastas áreas de vegetação devido à expansão urbana, às queimadas e à produção de carvão vegetal.


Segundo informações o governo federal, o Cerrado já perdeu 48,5% de sua cobertura vegetal original, enquanto a Caatinga tem preservada apenas 54% de mata nativa.

Se nada for feito agora, Rodrigo Castro afirma que o tatu-bola pode desaparecer da natureza em até 25 anos.

Devido a isso, foi lançado em maio o Plano de Ação Nacional do Tatu-bola, que tem o objetivo de aumentar a população deste animal em cinco anos. 

Segundo Ugo Vercillo, coordenador-geral de manejo para conservação do ICMBio, entre as ações de preservação estão previstas o retorno do monitoramento anual do desmatamento da Caatinga e o aumento da fiscalização contra a caça.

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