ESTAÇÃO DA NOTICIA
18 de junho de 2014
Upiara Boschi, Diário Catarinense
A influência eleitoral dos resultados das vitórias ou derrotas em Copas do Mundo faz
parte da mitologia política brasileira.
Por mais que a população dê amostras seguidas de que não há padrão histórico entre o que acontece nos gramados e nas urnas, o tema volta a cada quatro anos.
Não seria diferente agora com o Mundial realizado no Brasil e chamado de “A Copa das Copas” pela presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT).
“A proximidade entre Copas do Mundo e política no Brasil começou na edição de 1970 do Mundial, quando o desempenho da Seleção foi amplamente utilizado pelo regime militar, comandado pelo general Emílio Garrastazu Médici”
Foi em 1970, durante o regime militar, que a Copa do Mundo e a política brasileira começaram a tabelar.
Não havia eleições presidenciais a serem vencidas, mas o desempenho da seleção naquele mundial foi largamente utilizado pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici para referendar um clima de otimismo nacional que sustentava, junto com as armas e oligarquias locais, a ditadura.
Esse clima já havia sido visto antes, em 1958, mas de forma menos instrumentalizada pelo marketing de governo. A primeira vitória em Copas era apenas um dado a mais naqueles anos de Juscelino Kubitschek em que o Brasil aprendeu a gostar do Brasil.
“A primeira vitória da Seleção Brasileira em Copas do Mundo foi conquistada durante o governo de Juscelino Kubitschek, num contexto de forte valorização nacional”
Como uma espécie de castigo pelo mau uso da seleção de Pelé, Tostão, Gerson, Jairzinho e tantos outros craques, o Brasil só voltou a vencer o Mundial quando o torneio passou a coincidir com eleições diretas para presidente da República, 24 anos depois.
Em 1989 o país voltava a eleger seu presidente - no caso, Fernando Collor de Mello – um ano antes do torneio.
A partir de 1994, com a redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos, escolher presidentes e torcer pelo Brasil na Copa passaria a ser praticamente simultâneo.
Os brasileiros já tinham passado pela experiência de eleição e Copa no mesmo ano em duas oportunidades. Em 1930, primeiro Mundial, no Uruguai, e vitória de Júlio Prestes sobre Getúlio Vargas na última disputa pela Presidência na República Velha.
Uma Copa ainda sem a expressão que alcançaria, uma eleição que não valeu porque o regime acabou deposto pela revolução liderada por Vargas.
“A primeira Copa do Mundo coincidiu com as eleições que deram a vitória a Júlio Prestes na última disputa da República Velha. Com a revolução liderada por Getúlio Vargas, Prestes acabou nem assumindo a Presidência”
Passados 20 anos, em 1950, o emblemático Mundial realizado no Brasil, também coincidiu com eleição e com Vargas. Fora do poder desde 1945, ele tentava retornar pelas urnas. Em campo, a Seleção Brasileira entrou para a história pela derrota na final para os uruguaios. O palco foi o Maracanã, maior estádio do mundo e símbolo do torneio.
Foi ele o responsável pelos tímidos protestos que envolveram aquela Copa – primeiro sobre a necessidade de construí-lo, depois sobre sua localização. Quem liderava as críticas era o vereador carioca Carlos Lacerda, que ganharia dimensão maior anos depois. Vargas venceria a eleição dois meses após o Maracanazzo.
Apesar da tristeza nacional, é difícil encontrar reflexos dos gols sofridos por Barbosa na vitória do antigo ditador.
A volta da coincidência entre eleição presidencial e Copa também marca a gênese da rivalidade política – e às vezes quase clubística – entre o PSDB e o PT. Foi em 1994 que
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva se enfrentaram pela primeira vez.
A bordo do otimismo gerado pelo Plano Real e pelo fim da inflação, o tucano FHC venceu em primeiro turno. Esse otimismo nacional começara nos pés de Romário, que levou uma seleção que não era dos sonhos de ninguém a uma vitória sofrida, mas muito comemorada.
“A partir deste ano, as Copas do Mundo voltaram a coincidir com as eleições presidenciais no Brasil. O Brasil levou o tetra neste ano e o tucano FHC venceu petista Lula pela primeira vez”
Oito anos depois, a vez de Lula vencer pela primeira vez também era acompanhada de um título mundial. Comandado por Ronaldo, Rivaldo e Felipão, o penta campeonato injetou otimismo em um país que reclamava das taxas de desemprego e do baixo crescimento econômico e que, três meses depois, decidiu dar uma chance ao PT.
“A quinta vitória da seleção em Copas do Mundo foi no mesmo ano da primeira do PT nas eleições presidenciais. Na foto, Lula em campanha segura uma réplica da taça. Naquele ano, o tucano Aécio Neves disputou e ganhou o governo de Minas Gerais”
Em outras três oportunidades, a eleição presidencial coincidiu com derrotas da seleção. É possível enxergar um ponto comum nesses nesses momentos em que a bola não entrou: os eleitores decidiram pela continuidade.
Fernando Henrique foi reeleito em 1998 após o Mundial marcado pela convulsão de Ronaldo na manhã da derrota para a França na final; Lula ganhou o segundo mandato em 2006, quando a seleção de estrelas de Parreira também parou para os franceses nas quartas-de-final; Dilma Rousseff conquistou o terceiro mandato petista quando a seleção de Dunga caiu diante da Holanda.
“A campanha pelo pentacampeonato esbarrou na seleção francesa, que venceu a final contra o Brasil por 3 a 0. Nas urnas, Fernando Henrique continou em vantagem contra Lula, sendo o primeiro presidente reeleito no país”
“A seleção parou nas quarta de final na Copa, mas o desempenho ruim não atrapalhou a reeleição do presidente Lula. O petista venceu a disputa nas urnas contra Geraldo Alckmin (PSDB)”
“
“A seleção rumo ao hexa foi derrotada pela Holanda no Mundial. O PT rumo ao terceiro mandato na Presidência conseguiu eleger a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, a primeira mulher no comando da República”
Desta vez, mais do que o sucesso de Neymar e companhia, o vínculo maior entre o torneio e a política é a própria organização do evento.
As diferenças entre o Mundial – e seu legado em obras – prometido e o entregue serão parte do discurso que vai balizar a continuidade dos petistas no poder, a volta do tucanos ou o surgimento de uma terceira via.
Um aperitivo foi dado nas manifestações de junho do ano passado, quando os gastos com o evento foram utilizados como argumento por quem defendia mais educação, saúde e menos corrupção.
É nesse contexto que os brasileiros entram na Copa do Mundo mais política de sua história.
Por mais que a população dê amostras seguidas de que não há padrão histórico entre o que acontece nos gramados e nas urnas, o tema volta a cada quatro anos.
Não seria diferente agora com o Mundial realizado no Brasil e chamado de “A Copa das Copas” pela presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT).
“A proximidade entre Copas do Mundo e política no Brasil começou na edição de 1970 do Mundial, quando o desempenho da Seleção foi amplamente utilizado pelo regime militar, comandado pelo general Emílio Garrastazu Médici”
Foi em 1970, durante o regime militar, que a Copa do Mundo e a política brasileira começaram a tabelar.
Não havia eleições presidenciais a serem vencidas, mas o desempenho da seleção naquele mundial foi largamente utilizado pelo governo do general Emílio Garrastazu Médici para referendar um clima de otimismo nacional que sustentava, junto com as armas e oligarquias locais, a ditadura.
Esse clima já havia sido visto antes, em 1958, mas de forma menos instrumentalizada pelo marketing de governo. A primeira vitória em Copas era apenas um dado a mais naqueles anos de Juscelino Kubitschek em que o Brasil aprendeu a gostar do Brasil.
“A primeira vitória da Seleção Brasileira em Copas do Mundo foi conquistada durante o governo de Juscelino Kubitschek, num contexto de forte valorização nacional”
Como uma espécie de castigo pelo mau uso da seleção de Pelé, Tostão, Gerson, Jairzinho e tantos outros craques, o Brasil só voltou a vencer o Mundial quando o torneio passou a coincidir com eleições diretas para presidente da República, 24 anos depois.
Em 1989 o país voltava a eleger seu presidente - no caso, Fernando Collor de Mello – um ano antes do torneio.
A partir de 1994, com a redução do mandato presidencial de cinco para quatro anos, escolher presidentes e torcer pelo Brasil na Copa passaria a ser praticamente simultâneo.
Os brasileiros já tinham passado pela experiência de eleição e Copa no mesmo ano em duas oportunidades. Em 1930, primeiro Mundial, no Uruguai, e vitória de Júlio Prestes sobre Getúlio Vargas na última disputa pela Presidência na República Velha.
Uma Copa ainda sem a expressão que alcançaria, uma eleição que não valeu porque o regime acabou deposto pela revolução liderada por Vargas.
“A primeira Copa do Mundo coincidiu com as eleições que deram a vitória a Júlio Prestes na última disputa da República Velha. Com a revolução liderada por Getúlio Vargas, Prestes acabou nem assumindo a Presidência”
Passados 20 anos, em 1950, o emblemático Mundial realizado no Brasil, também coincidiu com eleição e com Vargas. Fora do poder desde 1945, ele tentava retornar pelas urnas. Em campo, a Seleção Brasileira entrou para a história pela derrota na final para os uruguaios. O palco foi o Maracanã, maior estádio do mundo e símbolo do torneio.
Foi ele o responsável pelos tímidos protestos que envolveram aquela Copa – primeiro sobre a necessidade de construí-lo, depois sobre sua localização. Quem liderava as críticas era o vereador carioca Carlos Lacerda, que ganharia dimensão maior anos depois. Vargas venceria a eleição dois meses após o Maracanazzo.
Apesar da tristeza nacional, é difícil encontrar reflexos dos gols sofridos por Barbosa na vitória do antigo ditador.
A volta da coincidência entre eleição presidencial e Copa também marca a gênese da rivalidade política – e às vezes quase clubística – entre o PSDB e o PT. Foi em 1994 que
Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva se enfrentaram pela primeira vez.
A bordo do otimismo gerado pelo Plano Real e pelo fim da inflação, o tucano FHC venceu em primeiro turno. Esse otimismo nacional começara nos pés de Romário, que levou uma seleção que não era dos sonhos de ninguém a uma vitória sofrida, mas muito comemorada.
“A partir deste ano, as Copas do Mundo voltaram a coincidir com as eleições presidenciais no Brasil. O Brasil levou o tetra neste ano e o tucano FHC venceu petista Lula pela primeira vez”
Oito anos depois, a vez de Lula vencer pela primeira vez também era acompanhada de um título mundial. Comandado por Ronaldo, Rivaldo e Felipão, o penta campeonato injetou otimismo em um país que reclamava das taxas de desemprego e do baixo crescimento econômico e que, três meses depois, decidiu dar uma chance ao PT.
“A quinta vitória da seleção em Copas do Mundo foi no mesmo ano da primeira do PT nas eleições presidenciais. Na foto, Lula em campanha segura uma réplica da taça. Naquele ano, o tucano Aécio Neves disputou e ganhou o governo de Minas Gerais”
Em outras três oportunidades, a eleição presidencial coincidiu com derrotas da seleção. É possível enxergar um ponto comum nesses nesses momentos em que a bola não entrou: os eleitores decidiram pela continuidade.
Fernando Henrique foi reeleito em 1998 após o Mundial marcado pela convulsão de Ronaldo na manhã da derrota para a França na final; Lula ganhou o segundo mandato em 2006, quando a seleção de estrelas de Parreira também parou para os franceses nas quartas-de-final; Dilma Rousseff conquistou o terceiro mandato petista quando a seleção de Dunga caiu diante da Holanda.
“A campanha pelo pentacampeonato esbarrou na seleção francesa, que venceu a final contra o Brasil por 3 a 0. Nas urnas, Fernando Henrique continou em vantagem contra Lula, sendo o primeiro presidente reeleito no país”
“A seleção parou nas quarta de final na Copa, mas o desempenho ruim não atrapalhou a reeleição do presidente Lula. O petista venceu a disputa nas urnas contra Geraldo Alckmin (PSDB)”
“
“A seleção rumo ao hexa foi derrotada pela Holanda no Mundial. O PT rumo ao terceiro mandato na Presidência conseguiu eleger a sucessora de Lula, Dilma Rousseff, a primeira mulher no comando da República”
Desta vez, mais do que o sucesso de Neymar e companhia, o vínculo maior entre o torneio e a política é a própria organização do evento.
As diferenças entre o Mundial – e seu legado em obras – prometido e o entregue serão parte do discurso que vai balizar a continuidade dos petistas no poder, a volta do tucanos ou o surgimento de uma terceira via.
Um aperitivo foi dado nas manifestações de junho do ano passado, quando os gastos com o evento foram utilizados como argumento por quem defendia mais educação, saúde e menos corrupção.
É nesse contexto que os brasileiros entram na Copa do Mundo mais política de sua história.
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