quarta-feira, 18 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014 = a COPA das TROPAS



Começa a Copa das Tropas

A Copa do Mundo no Brasil começou com a repressão de uma manifestação pacífica na Zona Leste de São Paulo com o uso desproporcional de força pela Polícia Militar de São Paulo. Diversos manifestantes e jornalistas, incluindo uma repórter da CNN, ficaram feridos e pessoas foram detidas. 

O Brasil nem entrou em campo contra a Croácia e o brasileiro que vai a rua reivindicar direitos de forma pacífica já ganhou bala de borracha, bomba de gás lacrimogêneo, tapa na orelha e demissões massivas de grevistas. Ao que tudo indica, esta não será a Copa das Copas, e sim a Copa das Tropas.





Manifestantes foram dispersados antes mesmo do início do ato marcado para ocorrer no metrô Carrão, em São Paulo. Na sequência, a mesma força policial encurralou manifestantes e trabalhadores dentro do Sindicato dos Metroviários, perto dali, no Tatuapé. A polícia lançou bombas de efeito moral no interior do prédio. Segundo os socorristas do GAPP (Grupo de Apoio a Protestos Populares), vinte e oito pessoas foram atendidas com ferimentos causados em decorrência do confronto, incluindo três socorristas.

No Rio de Janeiro, manifestantes foram fortemente reprimidos na região central da cidade. Metroviários e professores que entraram em greve nos últimos dias, além de serem reprimidos fisicamente pela polícia, foram também demitidos por decisão judicial. Desde junho de 2013, e principalmente desde o início deste ano, temos vivenciado um recrudescimento da violência estatal contra as manifestações – sejam elas feitas por trabalhadores, estudantes ou indivíduos que decidiram exercer seu direito constitucional de livre expressão.

É inaceitável que o Estado continue usando seu aparato repressivo e meios judiciais para silenciar as vozes dissonantes. É lamentável que o governo insista em fechar os olhos e não estabeleça um canal de diálogo efetivo com os manifestantes que estão nas ruas buscando construir uma sociedade mais justa e democrática. [dois pontos a serem destacados: - o Greenpeace se envolver em assuntos referentes ao meio ambiente é aceitável, assuntos de reprimir baderneiros é competência da polícia; - a ilustre articulista esquece que a Constituição Federal também assegura o direito de 'IR E VIR'  e as manifestações restringem, muitas vezes até impedem, o exercício de tal direito constitucional e, o mais greve, muitas vezes colocam também em risco o direito à VIDA.]
 
O Greenpeace repudia toda e qualquer forma de violência e repressão contra manifestantes. O direito de se manifestar é garantido pela Constituição, e o medo da truculência estatal não pode ser o motivo pelo qual brasileiras e brasileiros deixam de ocupar as ruas para demandar direitos básicos que lhes vem sendo negados: direito a transporte, moradia, educação, saúde, saneamento e um meio ambiente cuidado e equilibrado.

Postado por Gabriela Vuolo - JusBrasil


Henrique Braga Headshot

A copa das tropas

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PROTESTS WORLD CUP


A Copa do Mundo no Brasil já está marcada como a "Copa das Tropas". Não só pela atuação de forças militares na repressão a protestos da população, mas sobretudo pelo embate, supostamente ideológico, entre grupos que tentam dar ao evento esportivo o significado mais conveniente a seus interesses - sejam estes confessáveis ou não.


Do lado dos movimentos sociais, a recente entrevista concedida por Guilherme Boulos - um dos líderes do MTST - ao canal Fluxo traz, muito possivelmente, a visão progressista mais madura possível sobre o tema. 


Para ele, há sim o risco de que, mal conduzida, manifestações contra a Copa sirvam para na verdade fortalecer o discurso mais perigoso que vimos nas Jornadas de Junho, o discurso despolitizado dos que, ingênuos diante do jogo político, limitam-se a cantar o hino nacional e a gritar "sem partido", servindo como massa de manobra para o fortalecimento do nosso pior conservadorismo. 


O líder do MTST considera ainda que, a despeito disso, a Copa do Mundo tem um peso simbólico capaz de, neste momento de agitação política, potencializar a pressão sobre o Estado, para que se adotem políticas públicas mais à esquerda. 


Nesse sentido, a recente sinalização de que recursos do "Minha Casa, Minha Vida" poderão ser geridos diretamente pelo movimento social, sem intermédio de grandes construtoras, aparece como importante vitória das manifestações por moradia feitas nesse contexto que vivemos.


Outra tropa que muito tem se pronunciado sobre o evento é a do "Imagina na Copa". Ao contrário do MTST, não se trata de um grupo organizado em prol de alguma causa, mas sim de uma classe média que, tradicionalmente, sente certa vergonha de ver-se como parte de uma coletividade à qual nunca quis pertencer.


Indignados com os pequenos avanços sociais dos últimos anos, estão nessa frente os que dizem que no Brasil "tem bolsa pra tudo" - embora estejamos muito distantes do estado de bem-estar social da Europa com que essas mesmas pessoas tanto sonham. 


Para este grupo, o "Não vai ter Copa" tem um significado muito distinto do que lhe atribuem os movimentos sociais: enquanto estes veem na "hashtag de ordem" um grito contra os avanços do capital, aqueles não têm condições de enxergar nela um palmo além do simplista "Fora PT".


Em sua limitada visão de mundo, essa classe média mais conservadora acha que toda a precariedade dos serviços públicos é fruto de políticas do governo federal implementadas nos últimos 12 anos (até mesmo quando se trata de serviços como a educação básica, que é gerida em nível municipal e estadual). 


Para eles, é impossível entender que o drama da gestão pública no país se deve em primeiro lugar ao modo como as grandes empresas aqui instaladas se apropriam regularmente dos recursos do Estado, com uma voracidade de fazer qualquer FIFA sentir inveja.


Em meio a esse caldeirão, o fato é que, às vésperas de seu início, a Copa de Mundo ainda não criou o tradicional sentimento de união nacional, que poderia ser direcionado inclusive para que a sociedade civil, organizada, pautasse os governos com vistas à implementação das políticas públicas de que precisamos. 

Em vez disso, o que se criou foi um certo clima de constrangimento: mesmo os que apoiam o evento e já estão de churrasco marcado, têm um certo pudor em manifestar sua empolgação, menos verde que amarela. 


Ainda assim, arrisco afirmar que a "Copa das Tropas" deixa um grande legado, que não é algo material, visível, palpável, mas algo muitíssimo mais precioso: trata-se da consolidação desta sociedade mais interessada na política, ainda que nosso precário acesso à educação e à informação interfiram na nossa capacidade de julgamento. 

O saldo? É que vai ter Copa. Mas vai ter luta.

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