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Por Vera Cascaes de Souza
Exma. Senhora Presidente Dilma: Ouso
chama-la, corretamente, de Presidente. Desde o começo achei “Presidenta”
péssima ideia, arrogância incontida e rima infame.
Não votei na senhora, mas torci que
conseguisse fazer uma boa administração. Acreditei no seu propósito de fazer um
governo sério, de colocar “a casa em ordem”.
Dizem que nós, mulheres, temos
vocação nata para a organização; imaginei que seria mais sensível às
causas que tocam à população como educação e saúde. Apesar de tudo, acreditei.
Acreditamos, senhora Presidenta.
Aos poucos, a decepção tomou conta da esperança e atualmente o que sinto é uma enorme mágoa – e vergonha.
Hoje cedo assisti ao vídeo de uma jovem
nordestina dando à luz, na escada de acesso de um hospital. Senti-me humilhada
como aquela moça de vestido vermelho que deita, agarrada a grade, enquanto uma
enfermeira retira-lhe a calcinha, para que nasça ali, sem nenhuma folha de
papel para ampará-lo, mais um filho desse descaso que sua administração se
transformou.
Francamente, gostaria de saber o que a
senhora sente quando assiste – se é que assiste – essas imagens que ultimamente
são tão comuns. O fotógrafo que morre na calçada de um hospital sem que ninguém
se mexa para dar-lhe uma chance de sobreviver ao ataque cardíaco fulminante. E
outros tantos que mostram a desgraçada falta de atenção do seu governo,
Presidente.
A senhora sabe quanto se gasta com
assistência médica TOP para quem faz parte de sua equipe? Ou do Congresso? Como
pode alguém do Partidos Trabalhadores, que se gaba de ter sofrido tortura por
lutar pelos direitos do povo, admitir tamanha diferença? Como? Em algum momento
a senhora pensou no quanto precisamos de investimento em educação e saúde?
O que a senhora sente quando uma criança
morre num hospital sem exames, sem medicamentos?
Alguém me diz que não deveria dizer-lhe essas coisas, que é uma “falta de respeito”. Não, Excelência, não é.
Falta respeito não a mim, mas a todos que
sangram a saúde pública sem dor ou remorso. Falta respeito pelo povo brasileiro
quando vemos uma estrada, tão fundamental para essa região esquecida, se
transformar num mar de lama.
A senhora lembra que o ex-presidente Lula
da Silva com o intuito de elegê-la, incluiu as Rodovias Transamazônica e
Santarém Cuiabá nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
A
terceira maior rodovia do Brasil, com 4 223 km de comprimento, deveria ligar a
cidade de Cabedelo, na Paraíba, à Lábrea, no Amazonas, cortando sete estados:
Paraíba, Ceará, Piauí, Maranhão Tocantins, Pará e Amazonas – nesses dois,
permanece, desde 1972 (42 anos!) sem pavimentação em 90% do trecho.
Os seus estádios são lindos, mas a senhora
teria coragem de fazer uma viagem pela Transamazônica?
Nem eu, mas a senhora
deveria ter pelo norte do (seu) país a mesma crise de responsabilidade que a
levou a investir em Cuba – onde ninguém jamais votou ou votará na senhora.
Não engrossaria o coro que lhe dirigiu palavrões. O que eu e um número descomunal de brasileiros, sentimos é muito maior.
Não engrossaria o coro que lhe dirigiu palavrões. O que eu e um número descomunal de brasileiros, sentimos é muito maior.
Aos poucos o povo foi perdendo, inclusive,
o respeito à si mesmo. Pode parecer-lhe que cada pobre deste país tem um preço;
saiba que um dia, de alguma forma, irão cobrar-lhe por transformar pessoas que
queriam trabalho e cuidados básicos, em pobres profissionais, vivendo dos
benefícios que a senhora multiplica, sem dar-lhes chance de conquistar sustento
próprio e familiar dignamente.
A senhora os sentenciou à dependência,
condenou-os a um destino que não permitirá que cresçam ou progridam.
Vivemos à beira de uma convulsão social, o que acontecerá nos próximos anos, com a conta que a Copa deixará como herança?
O que podemos esperar da sua “Política
Nacional de Participação Social”, que não cai bem a quem deveria defender a
democracia?
Raiva, Presidente, pode levar alguns ao
xingamento. A decepção, por outro lado, não permitirá que muitos a esqueçam.
Que vergonha, Presidente.
Vera Cascaes de Souza é Cidadã.
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