21.06.2014
01:49 pm
A presidente Dilma Rousseff será aclamada hoje candidata à reeleição
pelo PT. Mas não restam dúvidas entre os petistas de que ela dará a
largada na disputa por mais quatro anos no Palácio do Planalto muito
mais fraca que em 2010, quando o Brasil saboreava os ganhos de um
crescimento espetacular — 7,5% — e a inflação ainda estava em níveis
toleráveis.
Nos três anos e meio de governo, ninguém mais enfraqueceu a candidata
Dilma do que a própria Dilma. Ela conseguiu destruir a fama de
gerentona, de excelente gestora, e também pôs em risco os pilares da
estabilidade econômica — metas de inflação, câmbio flutuante e ajuste
fiscal. Eles permitiram a seu antecessor e mentor, Lula, executar
políticas sociais que resultaram na ascensão social de quase 40 milhões
de pessoas à classe média.
Por ter comandado a Casa Civil no governo Lula, liderando a elaboração
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e colocado na rua o
Minha Casa, Minha Vida, marqueteiros encarregados da campanha
presidencial de 2010 difundiram, de forma eficiente, a imagem de que,
eleita, Dilma daria uma eficiência nunca vista à máquina pública. Um ano
depois de empossada, porém, o que se viu foi exatamente o contrário. Um
governo emperrado, sem projetos e pouco amigável ao capital.
O tempo foi passando e as fragilidades de Dilma se agigantaram. Sem
capacidade para delegar, a presidente instalou, no Palácio do Planalto, a
política do medo, do grito. Ninguém de sua equipe foi capaz de
enfrentá-la e contrapor ideias. Esse quadro de paralisia se consolidou
porque a presidente optou por auxiliares pouco capacitados para os
cargos. Na escolha, prevaleceram os acordos políticos, em vez de
competência.
Tal opção não teria provocado tanto estrago se Dilma não houvesse
decidido mudar as bases que garantiram a estabilidade do país. Apoiada
em um elevado índice de aprovação popular, ela decidiu adotar uma nova
matriz econômica, que levaria o país ao tão sonhado juro real de 2% ao
ano. Ao mesmo tempo que abria os cofres e reduzia o superavit primário
(economia para o pagamento de juros da dívida pública), o governo passou
a forçar a alta do dólar a fim de estimular a indústria e as
exportações.
Mesmo com os efeitos inflacionários das duas medidas, a presidente
capturou o Banco Central, que passou a cortar a taxa básica de juros
(Selic). Em outubro de 2012, os juros chegaram o piso de 7,25% ao ano,
para alegria do Palácio do Planalto, já elencando o feito como uma das
bandeiras políticas a serem apresentadas durante a campanha à reeleição.
A certeza era de que, com a nova matriz, o Produto Interno Bruto (PIB)
deslancharia.
O saldo, contudo, foi mais inflação e uma coleção de pibinhos. Em 10
dos 41 meses da administração Rousseff, o Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) estourou o teto da meta perseguida pelo Banco Central, de
6,5%. E é bem possível que, entre junho e agosto, mais uma vez o limite
de tolerância seja rompido. Quanto ao PIB, há previsões de que o
resultado deste ano seja inferior a 1%.
Ruídos com empresários
» Não bastassem os equívocos ao defender a nova matriz econômica,
Dilma, em seu isolamento, criou ruídos enormes no meio empresarial e
semeou a desconfiança. Deixou explícito a sua contrariedade contra o
lucro, ponto básico para a sustentação de qualquer negócio. Amarrou o
quanto pôde o processo de concessão de rodovias, portos, aeroportos e
rodovias à iniciativa privada. E só se rendeu à privatização porque o
país corria o sério risco de parar, inclusive na Copa do Mundo, por
falta de infraestrutura.
Inflação de 7% em 2015
» A gestão de Dilma foi ainda marcada pela interferência pesada do
governo na economia. Além de segurar os reajustes dos combustíveis,
minando o caixa da Petrobras, mudou, unilateralmente, os contratos de
energia elétrica para reduzir as tarifas. Parte da conta caiu no colo do
Tesouro Nacional, que foi obrigado a dar um socorro de mais de R$ 12
bilhões às distribuidoras. Outra parcela será bancada pelos
consumidores, porque a conta está ficando mais cara. Por causa do
represamento das tarifas públicas, a inflação projetada para 2015 é de
7%.
Expectativa nos mercados
» A expectativa dos investidores é de que, candidata formal, e com a
aprovação do governo despencando, Dilma adote um discurso mais favorável
aos investimentos produtivos. E, sobretudo, indique qual será a equipe
econômica a partir de 2015, caso saia vitoriosa das urnas. Os donos do
dinheiro reconhecem que, recentemente, já de olho das eleições, o
governo começou a mudar o discurso. Reempacotou medidas a fim de
estimular a indústria. Mas, no entender deles, ainda é pouco para
reverter a onda de desconfiança que nocauteou o PIB.
Obras na campanha
» A Secretaria de Relações Institucionais convocou representantes de
todos os ministérios para uma reunião no Palácio do Planalto com uma
pauta bem clara: a lista de obras a serem inauguradas neste ano. O
governo quer fazer barulho nas cerimônias, ainda que só com a presença
dos ministros de cada pasta — candidata à reeleição, a presidente Dilma
Rousseff não poderá aparecer nos
eventos a partir de julho.
eventos a partir de julho.
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