Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Paulo Roberto Gotaç
O Sociólogo Herbert José de Souza, o
Betinho, falecido em 2007, figura lendária, com agitada história de vida,
notabilizou-se por ter coordenado, durante a década de 90 do século passado, o
projeto "Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida", do
qual o PT se apropriou quando assumiu o poder, dando-lhe a denominação de
"fome zero", hoje extinto.
O propósito de Betinho era aliviar o
estado de abandono pelo poder público e de fome endêmica de milhões de
brasileiros que viviam (e ainda vivem!) excluídos da sociedade, seres humanos
marginalizados e, de uma forma ou de outra, direta ou indiretamente, usurpados
pelos poderes constituídos.
É de sua autoria a frase que simbolizou a
dinâmica da sua ação humanitária: "Quem tem fome, tem pressa".
Por outro lado, foi com absoluta
surpresa que se assistiu pela televisão ao Ministro do STF, Luís Roberto
Barroso, indicado há pouco mais de um ano pelo governo do PT, ora sorteado para
substituir Joaquim Barbosa na relatoria do mensalão, afirmar que pretendia
acelerar ao máximo o andamento das demandas dos condenados e presos em decorrência
do processo, que solicitavam a revisão de regimes prisionais de modo a
permitir-lhes trabalhar fora da cadeia, complementando que "quem está
preso tem pressa".
A analogia com a frase do sociólogo,
pretendida pelo Ministro, é, no entanto, das mais infelizes, pois os que estão
agora presos, ao contrário daqueles aos quais Betinho se referia não são seres
famintos nem usurpados pelos poderes constituídos mas bem alimentados
usurpadores dos mesmos.
Por outro lado, será que em algum momento
se lembrou Sua Excelência dos milhares de encarcerados, que, por lentidão da
mesma justiça da qual agora é integrante na sua mais alta instância, permanecem
indevidamente presos, naturalmente apressados, congestionando o nosso quase
falido sistema prisional?
E dos que ficam largados, sem pressa, nos
pisos das emergências, sem atendimento, no contexto de um sistema de saúde
moribundo por não poder contar, entre outros, com os recursos que foram
desviados pelos hoje apressados condenados, segundo o Ministro, artífices do
mensalão?
E dos cidadãos que, Brasil afora, estão com
o direito de ir e vir prejudicado, estes também com muita pressa.
É, Ministro, existe muita gente com pressa
no país.
Será que a atenção aos condenados ora
demonstrada encaixa-se numa prioridade justa? Parece que não.
Na verdade, a repentina comiseração
demonstrada é desalentadora.
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e
Guerra, reformado.
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