Se,
no Brasil, muita gente prefere olhar de lado e fazer de conta que nada
aconteceu, não é assim em países e entidades em que a liberdade de
expressão é levada a sério. Tomei conhecimento, primeiro, por intermédio
do blog do jornalista Claudio Tognolli, cujo post reproduzo abaixo: a entidade “Repórteres Sem Fronteira” publica um texto em seu site (versão em inglês) em
que expressa a sua preocupação com o fato de o PT criar uma “lista” de
jornalistas que não agradam ao regime. Leiam. Volto depois.
*
*
A tensão entre o governo e os jornalistas da oposição acaba de subir de tom. Num artigo publicado
a 16 de junho de 2014 no site do Partido dos Trabalhadores (PT),
atualmente no poder, o vice-presidente do partido Alberto Cantalice
estabelece uma lista negra de jornalistas designados como os “pitbulls
da grande mídia”.
Para o dirigente petista, o ódio de Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes Diogo Mainardi, Lobão e dos humoristas Danilo Gentili e Marcelo Madureira contra
as medidas progressistas dos governos Lula e Rousseff se tornou ainda
mais evidente desde o começo do Mundial, que esperam que fracasse.
Esses “inimigos da pátria” não demoraram a responder. O jornalista Demétrio Magnoli denunciou em Globo um
artigo “calunioso” e uma ação de propaganda por parte do PT. Magnoli se
mostra preocupado pelo fato de um político do partido no poder convidar
à “caça” dos jornalistas opositores “na rua”. Já Reinaldo Azevedo, da
revista Veja, afirmou sua intenção de processar Alberto Cantalice por “difamação”.
“Repórteres
sem Fronteiras expressa sua inquietação pelas graves acusações
dirigidas contra os jornalistas provenientes de um alto cargo do PT”, declara Camille Soulier, responsável da seção Américas da organização. “Não
ignoramos o contexto polarizado da mídia, que pode exagerar o
descontentamento geral. No entanto, as dificuldades sentidas pelo PT não
justificam o recurso à propaganda de Estado.”
Essas
acusações foram lançadas num clima social tenso, com a multiplicação de
movimentos populares contra as despesas do governo com a Copa do Mundo. A
polícia militar tem respondido através da força e alguns jornalistas
foram agredidos.
No total, a Associação Brasileira de Jornalismo
Investigativo (ABRAJI) já contabilizou 17 agressões de jornalistas no
âmbito de manifestações desde a abertura do Mundial.
Entre as vítimas,
contam-se correspondentes da CNNe de agências internacionais, como a Reuters e a Associated Press, assim como jornalistas da mídia local ou profissionais independentes. Karinny de Magalhães, jornalista e ativista do coletivo Mídia NINJA, foi detida e espancada até desmaiar.
Aos 17 casos citados se juntou a detenção arbitrária de Vera Araújo, do diário O Globo,
no passado dia 15 de junho, elevando para 18 o número de abusos. A
jornalista estava filmando a detenção de um turista argentino e acabou
também sendo presa. Uma investigação foi aberta contra o policial
militar responsável pela detenção.
O Brasil se situa no 111º lugar em 180 países na última Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa, elaborada
por Repórteres sem Fronteiras. Por ocasião da Copa do Mundo de futebol,
a organização lançou uma campanha para sensibilizar o público sobre a
situação da liberdade de informação nos países participantes.
Voltei
As pessoas sérias não hesitam em repudiar
“listas de inimigos do Estado”. Atuam em favor da liberdade, não de um
partido ou de uma ideologia.
Lendo o
texto de “Repórteres Sem Fronteiras”, eu me dou conta de algo que chega a
ter a sua graça: algum outro jornalista, de centro, direta ou esquerda,
pode ter sido tão duro como fui com as manifestações contra a Copa;
mais duro, acho que não houve.
Está em
arquivo tudo o que escrevi sobre os protestos de junho do ano passado
até agora. Quem passou a mão na cabeça de baderneiros foi Dilma, foi o
PT. Não eu. Tentem achar um único texto meu antevendo que a Copa seria
um fiasco. Nunca entrei nessa! Podem não gostar de mim, mas não sou
burro.
A
perseguição a mim e aos outros nada tem a ver com a Copa do Mundo. O que
eles não toleram é a divergência. Fazem listas para tentar intimidar os
nove citados e para ganhar o silêncio dos demais — no que, parece,
estão sendo bem-sucedidos.
Por mim,
tudo bem: mais convicto do que ontem e menos do que amanhã. O PT quer
cabeças. Eu quero liberdade, especialmente para os que divergem de mim.
Para chegar a esse ponto, a liberdade tem de ser um valor, não um mero
instrumento. Antes do PT, só as ditaduras fizeram listas de jornalistas.
E encerro dizendo que há pessoas que estão se borrando por nada. O
partido sabe reconhecer “contestadores a favor”.
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