terça-feira, 1 de julho de 2014

Choro do Brasil em campo extrapola e preocupa, dizem psicólogos



Gustavo Franceschini e Pedro Ivo Almeida
Do UOL, em Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG)




A seleção não se cansa de chorar


Julio Cesar é encorajado por Luiz Gustavo antes dos pênaltis contra o Chile; goleiro também chorou antes dos pênaltis Buda Mendes/Getty Images

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Decisão por pênaltis e o Brasil se prepara para os chutes que decidirão sua vida na Copa do Mundo. O goleiro do time e o capitão, peças-chave naquele momento, são flagrados pela TV com os olhos marejados. 


A seleção passou da primeira grande provação no torneio, é verdade, mas psicólogos ouvidos pelo UOL Esporte alertam que o choro antes de um momento decisivo extrapola o que se espera de uma boa preparação, e pode ser um mau sinal para os comandados de Felipão.


As lágrimas de Júlio César e Thiago Silva antes da disputa de pênaltis com o Chile, no último sábado, não foram as primeiras da seleção naquele torneio. Não foram as primeiras, na verdade, nem daquela partida, já que David Luiz também não segurou o choro após marcar o gol do Brasil. Depois de errar seu pênalti, foi Willian que não se aguentou. Neymar e Felipão, por último, puxaram a fila de mais uma porção de "chorões" que apareceram depois que a vaga foi garantida.


"Não é uma reação de alta performance. Mostra que o time está dando atenção demais para o ambiente e merece um cuidado por parte da comissão técnica", explica Suzy Fleury, psicóloga esportiva.


"Você tem três zonas na alta performance. Você pode estar desligado, ligado ou pode passar do ponto. A Holanda, por exemplo, entrou desligada contra o México. O Brasil passou do ponto. Quando o time começa a chorar é porque ele perdeu um pouco do controle", diz o psiquiatra Roberto Shinyashiki.


Além de Suzy Fleury e Roberto Shinyashiki, a reportagem também conversou com um outro profissional da área, com larga experiência em psicologia esportiva, que preferiu não se identificar. Todos são unânimes em dizer que o choro é um sinal de desequilíbrio emocional antes de um momento decisivo.


"Não sei se [o choro] chega a atrapalhar, mas é uma coisa que está bem intensa mesmo. Para mim, é tranquilo. E acredito que para todos também. Mas temos que conversar e não deixar isso influenciar. Só não acredito que emoção possa ser uma coisa ruim. É algo normal, por jogar em casa e pela demonstração no hino", disse Willian.


Na visão dos especialistas, porém, o excesso de emoção pode, sim, atrapalhar. Shinyashiki, por exemplo, compara o momento atual com o que ocorreu com a seleção brasileira há quatro anos, sob o comando de Dunga. "A gente viu isso contra a Holanda. Depois do primeiro tempo, ele disse alguma coisa para os jogadores no vestiário que eles voltaram daquele jeito e espanaram", disse o psiquiatra.


A pressão em 2014 não vem só do banco de reservas. A Copa em casa, a perspectiva de um novo Maracanazo e o favoritismo imposto pela comissão técnica pesam. "O hino está sendo um fator de desconcentração. Se você fica prestando atenção no hino, é porque você está sendo afetado demais pelo ambiente", diz Suzy Fleury. Os jogadores não encaram dessa forma.


"As emoções estão cada vez mais fortes. O choro reflete isso. Mas acredito que estaremos mais preparados para essas situações depois de um jogo como esse [contra o Chile]. As coisas serão naturais", disse Fernandinho, após a partida contra o Chile.
Para os psicólogos, a fala dos jogadores é um mau sinal. "A negação de um problema é o principal sintoma de uma patologia. Saber qual é o problema é o primeiro passo para poder resolvê-lo", diz o profissional ouvido pela reportagem que não quis se identificar.


Felipão acompanha os pupilos e não tem se alongado quando é questionado sobre os problemas do time, mas tem reagido às circunstâncias. No início do trabalho, ele e o coordenador-técnico Carlos Alberto Parreira esbanjaram otimismo e chegaram a falar em "uma mão na taça". Nos últimos dias, têm batido na tecla de que uma eliminação não seria o fim do mundo.


"Acho que isso começou como uma estratégia bem intencionada de passar confiança, mas não é muito inteligente. O Felipão não pode garantir o título, como ele chegou a fazer. Não depende só dos jogadores. E não adianta mudar agora, no meio do caminho, porque o jogador percebe que não se sustenta", disse Suzy Fleury. 


A solução, explicam todos, passam por um trabalho intenso com o auxílio psicológos especializados. Na seleção, quem faz, ou deveria fazer, esse papel é Regina Brandão. Profissional de confiança de Felipão, ela foi chamada no início da preparação para traçar o perfil de cada um dos convocados. Depois disso, até onde se sabe, não voltou a ter contato com o elenco. 


A reportagem procurou a psicóloga da seleção no último domingo, para que ela opinasse sobre o choro da seleção brasileira em campo e a opinião de seus colegas da área. "Eu não posso dar entrevistas. É um pedido da comissão técnica da seleção", disse ela.

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