Confundido com ladrão, ele improvisou sobre conteúdo para
não ser espancado
01/07/2014 6:00 / Atualizado 01/07/2014 15:13 O GLOBO
SÃO PAULO — Confundido com um ladrão, um professor de
História foi espancado por moradores da periferia de São Paulo e só conseguiu
se livrar do linchamento quando, segundo ele, foi obrigado a dar uma aula sobre
Revolução Francesa. Ainda assim, André Luiz Ribeiro, mulato de 27 anos, foi
levado para a delegacia, onde ficou por dois dias, já que o dono do bar
assaltado confirmou em depoimento que André seria o ladrão.
O professor contou que, socorrido por bombeiros, teve de
falar sobre a Revolução Francesa para provar sua inocência. Os bombeiros
informaram que “informações são improcedentes” e que não houve “desrespeito ou
deboche”. André conta que estava correndo na última quarta-feira no bairro
Balneário São José, quando um bar foi assaltado.
— Eu corro dez quilômetros todos os dias, estava de fone
de ouvido, sem identificação porque moro por perto, e fui confundido com um dos
três assaltantes. O dono do bar e o filho dele me acorrentaram. Umas 20 pessoas
me cercaram e começaram a me bater. Acorrentaram meus braços e pernas e me
colocaram de barriga para baixo na rua.
O professor foi socorrido por bombeiros que passavam no
local. Um deles, segundo Ribeiro, teria dito: “Se você é professor de História,
então dá uma aula sobre Revolução Francesa”.
— Falei que a França era o local onde o antigo regime
manifestava maior força, e que a burguesia comandou uma revolta junto com as
causas populares, e que havia fases da revolução. Falei por uns três minutos e
perguntei se já estava bom.
Ribeiro também diz que foram os bombeiros que salvaram a
vida dele pois enquanto ele dava a aula sobre a Revolução Francesa para provar
que era professor, ouviu o proprietário do bar dizer que ia buscar um facão. Em
seguida, a Polícia Militar chegou no local, o levou para o pronto-socorro da
região e depois o encaminhou para o 101º Distrito Policial (Jardim das
Imbuias), onde ficou preso até sexta-feira.
O proprietário do bar assaltado, Djalma dos Santos, 70
anos, negou que tenha espancado o professor. Questionado se tinha certeza de
que Ribeiro era um dos assaltantes, ele desconversou.
— A população que acorrentou, que bateu, eu não fiz nada.
O que eu tinha que falar já falei na delegacia. Não adianta nada ficar
perguntando, não vou retirar o que disse.
Eu gritei que era ladrão e a população da rua foi atrás
dele. Se ele não devia nada, vai dar uma mancada dessas de estar correndo no
meio dos bandidos na hora do assalto? — afirmou o proprietário do bar.
O advogado de Ribeiro, Cláudio Reimberg, afirmou que irá
amanhã até o 58º DP (Jardim Mirna) registrar a ocorrência de lesão corporal e
tentativa de homicídio.
— Inicialmente, nossa prioridade era a liberdade dele,
até pela integridade dele.
Agora, vamos registrar a ocorrência e pedir ação indenizatória
tanto do proprietário do bar, quanto do estado, já que no 101º DP não foi
registrada a ocorrência de agressão a ele, só do assalto ao bar — afirmou o
advogado.
A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que o
delegado André Antiqueira, titular do 101º DP, “se coloca à disposição para
ouvir em depoimento quem tenha novas informações para acrescentar à
investigação”, já que os criminosos que participaram do crime ainda não foram
presos.
“O professor foi preso em flagrante em cumprimento do
artigo 302 do Código Penal, já que a vitima o reconheceu como um dos
participantes do roubo ao estabelecimento comercial em duas oportunidades. A
Justiça concedeu liberdade provisória ao acusado”, diz nota da SSP.
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