Carlos Chagas
Publicado: 25 de junho de 2014 às 0:00 -
Um estranho fenômeno vem marcando a
copa do mundo, depois da partida inicial no Itaquerão: a fuga dos
políticos. Não é apenas a presidente Dilma, que em seguida à vaia
inicial decidiu ficar diante de seu aparelho de televisão. Os demais
candidatos presidenciais também não aparecem.
Governadores, nem pensar.
Ministros, só bissextamente, por obrigação, como o das Relações
Exteriores para acompanhar o príncipe Henry, ou o dos Esportes, por sua
própria razão de ser. Pior ficam as ausências quando se trata do
Congresso. Nem presidentes da Câmara e do Senado, nem dirigentes dos
partidos ou líderes da maioria e minoria. Todos fogem dos estádios como o
diabo da cruz, com medo das vaias.
Se algum político desmentir essa conclusão, provando
ter comparecido, basta indagar com que disfarce ele esteve presente:
bigodes falsos ou peruca?
Logo depois da copa do mundo de 1950, com o Maracanã
aberto ao povão por conta do baixo preço dos ingressos, o presidente
Getúlio Vargas compareceu a um fla-flu de no mínimo cem mil torcedores.
Anunciada sua presença pelos alto-falantes, ninguém vaiou, mas poucos
aplaudiram.
Atrás dele estava o prefeito do Rio, Angelo Mendes de
Moraes, por sinal o construtor do maior estádio do mundo. Fiado em que
seria aplaudido, mandou o locutor oficial registrar seu nome. Seguiu-se a
primeira das centenas de milhares de vaias que marcam os campos de
futebol: a multidão em peso gritou por muitos minutos: “água! Água!”,
uma referência explosiva a uma das maiores mazelas da cidade
maravilhosa, a falta da própria.
Nas décadas seguintes, Juscelino comparecia, mas nada
de querer seu nome anunciado. No período militar, só Garrastazu Médici
gostava de futebol, mas ia escondido, numa das cabines destinadas aos
narradores do rádio. Isso até a conquista da copa pelo Brasil, em 1970,
no México.
Na véspera, o general reuniu a imprensa , alertada para não
fazer perguntas políticas, só esportivas. Um puxa-saco indagou se ele
arriscaria um palpite e veio a resposta: “Brasil, quatro a um”. Faltando
dez minutos para o encerramento, ganhávamos de três a um, com o país
dividido de alto a baixo. Quando o Pelé pegava na bola, metade da
população colada nos aparelhos de televisão gritava “mais um, mais um”,
enquanto a outra metade exortava o craque a chutar para trás ou para a
lateral.
Pois não é que depois de driblar um monte de italianos ele
passa para Carlos Alberto, que vinha desabalado e consagrou a previsão
do ditador! Dali por diante, Médici mandava anunciar sua chegada na
tribuna de honra e, durante meses, era aplaudido de pé nas arquibancadas
e na geral, do povão. Claro que durou pouco aquela ilusão, mas como foi
difícil de aguentar…
Esses episódios se recordam porque agora tudo mudou. É
o povo, elitizado ou não, segundo comentário do ministro Gilberto
Carvalho, que manifesta seu repúdio a qualquer tipo de autoridade,
começando pela presidente da República.
Nos estádios e fora dos
estádios, como ainda se viu dois dias atrás no Amapá. Os políticos estão
certos quando preferem assistir os jogos pela televisão…
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