terça-feira, 1 de julho de 2014

Fidel tinha ilha particular e aquário de golfinhos, diz ex-guarda-costas

BBC



Atualizado em  30 de junho, 2014 - 07:01 (Brasília) 10:01 GMT




Juan Reinaldo Sánchez, ex-guarda-costas de Fidel Castro | Crédito: Arquivo pessoal/Juan Reinaldo Sánchez
Juan Reinaldo Sanchéz resolveu contar em livro bastidores da vida de ex-líder cubano, quem acompanhou de perto durante 17 anos


Um livro recém-lançado traz novas e bombásticas revelações sobre o estilo de vida do ex-líder de Cuba Fidel Castro. Entre elas, a de que o ex-mandatário possuía uma ilha particular com restaurante flutuante e um aquário de golfinhos.

A Vida Secreta de Fidel, lançado no Brasil pela Editora Paralela, foi escrito pelo jornalista francês Axel Gyldén e por um ex-guarda-costas do ex-líder cubano, Juan Reinaldo Sánchez.

Durante 17 anos, Sánchez diz ter feito parte do círculo mais íntimo destinado a proteger Fidel. Desempenhou tarefas das mais variadas, como "provar cada prato ou vinho que traziam a Fidel" durante uma viagem à Espanha, em 1992, para "assegurar que não estavam envenenados".

Ou acompanhar o comandante durante uma pesca submarina em que "minha tarefa era espantar tubarões e barracudas que se aproximavam dele".

Desgraça

Sánchez aparece em fotos ao lado de Fidel Castro e histórias de bastidores reforçam a sua identidade. Em um vídeo gravado pela BBC na ilha em 1993, o ex-guarda-costas aparece ao lado do comandante.

Duas décadas atrás, porém, Sánchez caiu em desgraça aos olhos do regime.
Após seu irmão desertar, o ex-guarda-costas pediu aposentadoria e foi preso, mas conseguiu escapar e fugiu da ilha em direção a um destino comum a perseguidos políticos de Cuba: Miami, nos Estados Unidos.

Hoje, ele conta à BBC detalhes do que diz ser uma vida de luxo e ostentação gozada pelo líder comunista.



Juan Reinaldo Sánchez com Fidel Castro | Crédito: Arquivo pessoal/Juan Reinaldo Sánchez
"Ao contrário do que dizem, Fidel nunca renunciou as comodidades capitalistas ou escolheu viver na austeridade", diz Sánchez

"No livro, ofereço provas de que Fidel levava uma vida de luxos", conta o ex-guarda-costas. "Nem todas as pessoas no mundo podem dizer que têm uma marina privada com quatro iates, um barco de pesca e mais de cem homens que cuidam de seus imóveis."

"Ninguém em Cuba sonha em ter uma reserva de caça pessoal, mais de 20 residências que eu pessoalmente conheci e uma ilha privada, Cayo Piedra (ao sul da Baía dos Porcos), que conta com um restaurante flutuante e um aquário de golfinhos, aonde Fidel levava sua família e seus amigos mais próximos".

"Ao contrário do que dizem, Fidel nunca renunciou às comodidades capitalistas ou escolheu viver na austeridade. Seu estilo de vida é de um capitalista sem nenhum tipo de limite", diz Sánchez.

Patrimônio


Fidel Castro com Gabriel García Márquez | Arquivo Pessoal/Juan Reinaldo Sánchez
Segundo Sánchez, apenas amigos íntimos de Fidel eram convidados a visitar ilha particular

A suposta fortuna de Fidel Castro é até hoje alvo de muita controvérsia.

Em 2006, a revista Forbes incluiu o ex-líder cubano em sua lista dos 10 "reis, rainhas e ditadores" mais ricos do mundo. A publicação estimou a fortuna de Castro em US$ 900 milhões (R$ 2 bilhões, em valores atuais).

A reportagem citava fontes não identificadas que afirmavam que Fidel possuía uma fortuna amealhada a partir dos lucros das estatais cubanas.

Na ocasião, o ex-líder cubano negou veementemente o conteúdo da publicação.
O governo de Cuba, por sua vez, sempre desmentiu informações sobre um suposto patrimônio milionário do seu líder, alegando que Fidel vivia de seu salário oficial de US$ 36 (R$ 72) por mês.

Fidel deixou oficialmente o poder em 2008, dois anos após adoecer. Desde então, aparece pouco em público.

Dupla personalidade

Sánchez descreve Fidel como um homem carismático e inteligente, mas manipulador, egocêntrico e de sangue frio.

Para Cuba e para os cubanos, sua vida privada sempre foi tratada como um legítimo segredo de Estado.

"Eu diria que Fidel tinha uma vida dupla. Ele tinha uma imagem pública de uma pessoa sensível e modesta, até afável, mas no âmbito privado era muito diferente", acrescenta.

"Eu nunca o vi com uma expressão de carinho com sua família, nunca o vi dar um beijo em seus filhos pela manhã. Suas relações com seus parentes também eram frias e distantes", conta.

"A julgar pelo que pude ver em sua residência de Punto Cero, a relação com sua esposa Dalia Soto del Valle não era muito diferente. Ela era como sua ajudante pessoal, lhe trazia documentos para ler, o que ele necessitava. Mas nunca vi qualquer afeto entre eles, algo que se imagina em qualquer casamento".

"Já com suas amantes, a atitude era outra. Ele era mais cortês e até lhes levava flores em seus aniversários".

Drogas

No livro, Sánchez também acusa Fidel de ter dado proteção a um conhecido traficante de drogas colombiano.

Ele diz, no entanto, que nunca escutou nada que vinculasse o ex-líder cubano ao suposto tráfico de drogas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Sánchez também diz não saber se houve qualquer tipo de contrapartida econômica em ter dado asilo ao traficante.

"Esse foi o momento em que Fidel deixou de ser meu ídolo. Para mim, ele era o maior, o homem pelo qual eu estava disposto a morrer", relembra.

"Mas a partir desse momento, decidi encontrar uma maneira de deixar aquela vida, porque não conseguia entender como podia estar protegendo um homem que havia negado publicamente qualquer relação com o tráfico de drogas."

Protegendo Castro

Sánchez diz que em Cuba não havia trabalho de maior prestígio do que dedicar a vida a proteger o "comandante".

"Não era um trabalho fácil. Fidel sempre estava sob ameaça e seu sistema de segurança é um dos mais efetivos, sem ter os mesmos recursos de países desenvolvidos", afirma o ex-guarda-costas.

"Não sou quem estou dizendo isso. O aparato de segurança pessoal de Fidel é conhecido por agências de inteligência como a CIA (americana) e o Mossad (israelense)."

O ex-segurança diz que Fidel foi alvo de centenas de atentados, mas considera exagerada a estimativa de 600 do governo cubano.

Segundo Sánchez, muitas desses atentados eram realizados pelo próprio sistema de segurança pessoal do ex-líder cubano. O objetivo era provar a sua efetividade e ajustar possíveis falhas. "Eu estimaria entre cem e 200 as tentativas reais de assassinar Fidel".

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