sexta-feira, 28 de março de 2014

Jornal britânico aponta alta da violência no Rio às vésperas da Copa


  • ‘Financial Times’ vê uma grave crise na política de segurança. Especialista, porém, não acredita que ocorram ataques durante o evento
O GLOBO 

Atualizado:
A reportagem no ‘Financial Times’ sobre a alta da violência no Rio Foto: Reprodução
A reportagem no ‘Financial Times’ sobre a alta da violência no Rio Reprodução
RIO - O aumento da violência na cidade do Rio às vésperas da Copa do Mundo não escapou dos olhos da mídia internacional. 

O jornal britânico “Financial Times” publicou em seu site, nesta quinta-feira, uma reportagem intitulada “O Brasil se prepara para a Copa em meio à alta da violência no Rio”, na qual a correspondente Samantha Pearson relata os recentes ataques às Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 

Segundo ela, a recente escalada da violência vem sendo considerada, por organizações da sociedade civil, como uma das maiores crises na ofensiva contra as quadrilhas de traficantes e as milícias que há décadas assolam o Rio.

O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, assegurou ao “Financial Times” que a reação do tráfico já era esperada. “As pessoas que sempre viveram dos frutos da atividade criminosa não vão desistir fácil, e nós já sabíamos disso.”

Com relação ao momento escolhido para os ataques às UPPs, este não seria mera coincidência, afirmou ao jornal britânico o cientista político Carlos Melo, do Insper — Instituto de Ensino e Pesquisa, de São Paulo. 

Ele lembrou que o Rio está sob os holofotes globais devido à preparação para a Copa e as Olimpíadas de 2016. Isso, segundo Melo, encoraja os traficantes a explorarem “um momento de visibilidade e vulnerabilidade do governo”. 

Outro fator, explicou, é a crescente revolta dos moradores de favelas contra o uso excessivo de força por parte da polícia.

Mas há quem considere que a ação dos bandidos também esteja ligada à proximidade das eleições para presidente e governador, em outubro. 

Como Sandro Costa, vice-coordenador de segurança humana do Viva Rio. Segundo ele, no passado alguns candidatos foram acusados de fazer acordos com milícias a fim de entrar nas favelas para angariar votos.

Sandro Costa, porém, acredita que não deve haver ataques a UPPs durante a Copa do Mundo. “Os índices de assassinatos e roubos geralmente caem durante o carnaval, então esperamos que esse padrão se repita na Copa”, afirmou.

A reportagem do “Financial Times” ainda aponta o aumento de crimes dentro das próprias favelas. Isso se deveria ao fato de a polícia ser menos temida que a “lei” do tráfico, que punia assaltos e estupros com “punições bárbaras”. 

Outro problema seria o crescente recrutamento de menores de idade pelo tráfico, devido ao fato de, para eles, as punições serem mais brandas.

“O narcotráfico continua ali (nas favelas pacificadas). Os traficantes apenas se adaptaram ao novo modelo”, disse ao jornal um policial militar, que não quis ser identificado, em Manguinhos.

O próximo passo, de acordo com especialistas ouvidos pelo jornal, é “conquistar os corações e mentes” dos moradores das comunidades pacificadas, recorrendo à inteligência policial, bem como “levar mais serviços públicos às favelas, a fim de reduzir os graves problemas sociais”.

“Neste momento, a polícia está apenas apagando incêndios”, afirmou Melo, do Insper. “A verdadeira batalha será atacar a raiz do problema.”

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