27/03/2014
às 23:01
Foi
ao ar na noite desta quinta o horário político do PSB. Do ponto de
vista técnico, impecável. Foi inteiramente dedicado a um suposto diálogo
— tratou-se de uma montagem — entre Eduardo Campos, que vai disputar a
Presidência da República, e Marina Silva, a líder da Rede, provável vice
na chapa.
Procurou-se simular um olho no olho entre os dois e de cada
um deles com o telespectador. O filme foi rodado em película, em preto e
branco, como a dizer que ali não havia pirotecnia nem truque.
Ambos
evocaram as respectivas histórias para se dizer “filhos da esperança” e
“companheiros de luta e de paz”, deixando claro, de saída, com quem
queriam falar. Nas palavras do ainda governador de Pernambuco: “um povo
alegre, mestiço, misturado, guerreiro”. Campos incorporou, vamos dizer
assim, a mística lulista.
O governo
Dilma apanhou bastante, mas Lula foi preservado. Lá estava a Petrobras: o
pré-candidato observou que a empresa perdeu metade de seu valor de
mercado e viu sua dívida ser multiplicada por quatro.
Afirmou que a
economia vinha melhorando desde o governo Itamar e reconheceu o legado
de FHC, com as grandes conquistas do governo Lula. Até que… Bem, até que
Dilma veio estragar tudo. E aí a presidente virou alvo.
O
peessebista falou de uma nova política, sem salvadores da pátria e donos
da verdade. Referindo-se a Dilma como “ela”, foi duro: “Ela teve a
oportunidade de receber o legado e poderia ter feito o que se
comprometeu a fazer”.
Acusou-a, em seguida, de “desmanchar o que havia
sido feito”. Na conclusão, numa clara alusão à Copa do Mundo, convidou
os brasileiros a “entrar em campo e fazer o Brasil campeão”.
Campos era
o mais incisivo, o mais focado na disputa terrena propriamente. Marina,
conforme o esperado, emprestava à cena um certo apelo etéreo, com
coisas quase do outro mundo.
De saída, afirmou que seu grande sonho, ora
vejam, é uma “agenda estratégica, que possa ser implementada
independentemente de partidos e de quem esteja no governo”.
É claro que
isso não existe e, em certa medida, representaria a morte da política.
Ocorre que Marina sempre fala bem com os setores da sociedade que
repudiam a… política!
Não
faltaram também espertezas certamente definidas por pesquisas de
opinião: lá estava a chefe da Rede a defender a sustentabilidade, como
sempre, mas deixando claro que é possível desenvolver a agricultura sem
agredir “as nossas florestas”, definidas como “a galinha dos ovos de
ouro”.
Parece que
o candidato do PSB escolheu uma estratégia: colocar-se como o
verdadeiro herdeiro das conquistas do lulismo; aquele capaz de fazer o
Brasil avançar.
Dilma, na sua construção, jogou fora uma herança
bendita. Os dados não corroboram essa leitura, mas se está diante de uma
construção para a disputa eleitoral.
Funciona?
Ela me parece dotada de uma fragilidade essencial: basta que Lula venha a
público para dizer, afinal, quem é a sua continuadora.
Como já escrevi
aqui, se o discurso de Campos for extremamente eficiente e se Dilma se
inviabilizasse como candidata, haveria o risco da volta de Lula como
candidato do PT. E contra este, o que Campos teria a dizer? A julgar
pelo discurso desta quinta, nada”
Tudo somado e subtraído, no entanto, foi um programa eficiente, que certamente atraiu a atenção de muita gente.
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