Congresso em Foco
Procurador-geral da República afirma ver com “muita preocupação” denúncia de que jornalista incitou à violência ao comentar ação de “justiceiros”. Mas prega cautela com censura. Ele encaminhou para São Paulo representação movida contra a apresentadora e o SBTO procurador-geral da República, Rodrigo Janot, diz ver com “muita preocupação” a denúncia de que a apresentadora Rachel Sheherazade, do SBT, fez comentários que incitam à violência ao exaltar a ação dos chamados “justiceiros” no Rio de Janeiro contra um adolescente acusado de furto.
Em entrevista ao Congresso em Foco, Janot diz que só poderia falar em tese, pois ainda não viu as imagens das declarações da jornalista e, por isso, não emitiria opinião especificamente sobre o caso.
Para ele, é preciso tomar cuidado para não incorrer em censura aos veículos de comunicação, mas também é necessário deixar claro que incitação à violência é crime e, como tal, não se insere na liberdade de imprensa.
O procurador-geral despachou para São Paulo, na semana passada, uma
representação movida pela liderança do PCdoB na Câmara contra a
jornalista e a emissora. O documento, assinado pela líder da bancada,
deputada Jandira Feghali (RJ), pede a abertura de inquérito contra Rachel Sheherazade e o SBT, por apologia e incitação ao crime, à tortura e ao linchamento, e a suspensão da verba publicitária oficial da TV durante as investigações.
“Não assisti ao vídeo ainda.
Mas vejo isso com muita preocupação”, afirmou o procurador-geral ao Congresso em Foco.
Segundo ele, os veículos de comunicação precisam ter responsabilidade
com o que divulgam. “Se essas informações já são sensíveis em reuniões
até privadas com mais pessoas, quem dirá quando você veicula isso por um
meio de comunicação de massa”, declarou.
Na entrevista ao site, ele ressaltou que, por não ter visto o
vídeo com as declarações da jornalista, não poderia falar sobre o caso
concretamente. “O que eu posso falar, em tese, é que é preciso ter
cuidado para não caminhar para a censura aos meios de comunicação. Mas
a liberdade de imprensa, que é um dos sustentáculos do processo
democrático, deve ser exercida com certa responsabilidade. Incitação é
crime e não se insere na liberdade de imprensa.
A veiculação de práticas
discriminatórias e de racismo, no meu entendimento, também não se
insere na liberdade de imprensa”, acrescentou o procurador-geral.
São Paulo
A Procuradoria-Geral da República encaminhou a representação contra
Rachel e o SBT para o Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo. A
procuradora da República Ryanna Veras, do MPF-SP, já declinou da
competência para apreciar o pedido de investigação criminal sobre o caso
e o mandou para o Ministério Público Estadual.
A procuradora também
mandou para o MPE-SP outras representações protocoladas por cidadãos
comuns que consideraram ofensivo o comentário da apresentadora.
A procuradora entendeu que “não se trata de suspeita de crime
praticado em detrimento de bens, serviços ou interesse da União, de suas
autarquias ou empresas públicas”.
O pedido de suspensão da verba publicitária do governo federal para o
SBT, feito pela líder do PCdoB, foi encaminhado à divisão cível do
MPF-SP para análise, segundo a assessoria do órgão.
A deputada ainda
aguarda manifestação da Secretaria de Comunicação Social da Presidência
da República a respeito de pedido semelhante. Só em 2012, o SBT recebeu
R$ 153 milhões do governo federal para veicular campanhas publicitárias
do governo federal.
Procurados pela reportagem, o SBT e a apresentadora não comentam o
caso. A Secom também não retornou os contatos feitos pela reportagem.
A denúncia
Na edição do telejornal SBT Brasil, do último dia 4 de fevereiro,
Rachel disse que era “compreensível” a ação de um grupo de pessoas que
acorrentou a um poste um adolescente acusado de furto no bairro do
Flamengo, na Zona Sul do Rio.
O jovem foi acorrentado, nu, pelo pescoço
com uma trava de bicicleta. Ele teve parte da orelha cortada e só foi
solto após a intervenção de uma moradora.
Para Rachel, a ação dos “justiceiros” se justifica por causa do clima
de insegurança nas ruas e da ausência de Estado. Ela também criticou a
atuação de militantes dos direitos humanos. “Faça um favor ao Brasil.
Leve um bandido para casa”, declarou. Dias depois de ser acorrentado e
solto, o adolescente foi detido novamente, desta vez por tentar assaltar
um turista na cidade. Até o mês passado, o menor acumulava três
passagens pela polícia.
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