Imagine que um sujeito tenha uma fama de pegador e 10 anos atrás fez o
serviço de conquistar uma mulher da qual você queria se livrar. Você
contratou esse pegador pois queria tirar fotos dessa mulher, uma
vigarista, e não queria que ela se desse bem na partilha de bens. (Sim,
eu sei que essa história hipotética é maquiavélica, mas é vital para
minhas ilustrações)
Agora imagine que hoje em dia você viva o mesmo problema. Novamente,
sei que nesta história estou propondo que você tenha um baita azar para
mulheres, e sempre acaba se metendo com alguma que tende a lhe fazer de
trouxa.
Você decide contratar o mesmo pegador. Mas aí você se defronta com um problema: ele se converteu em uma doutrina estilo harekrishna
e agora acha que usar as técnicas de sedução que ele usava algo
extremamente imoral. Tanto que ele editou tais técnicas de sua mente,
tornando-se um completo inepto nessas técnicas. Para piorar, ele se
castrou fisicamente, o que tornaria qualquer flagrante inviável, pois um
castrado jamais iria seduzir uma mulher para levá-la pra cama.
Simplificando: o pegador que poderia seduzir sua mulher já não é mais
um pegador, e nem sequer tem condições físicas se resolvesse voltar a
se tornar um. Moral da história: se a sua única alternativa para
resolver o problema é essa pessoa (até por que você não tem outros
contatos), desista dessa ilusão.
O que isso tem a ver com os direitistas que ainda nutrem esperanças de uma “intervenção militar”? Absolutamente tudo.
Eu não era nascido em 1964, mas a história nos diz que as Forças
Armadas eram uma instituição respeitável. Por causa disso, eles se
sentiam imbuídos de um senso de retribuição para com larga parte da
população. Ainda que eu seja contra intervenção militar hoje e achasse
que eles deveriam ter feito a guerra cultural em 1964 (ao invés da
intervenção armada), entendo que eles tinham um respaldo popular para
fazê-lo. E muito mais do que isso, tinham uma aura de respeito (e
auto-respeito) que os motivava a reagir, assim como lhes dava tal
possibilidade.
Hoje em dia, a situação é praticamente a inversa. A Comissão da
Verdade foi uma ofensa deliberada, especialmente ao propor tratar apenas
a questão dos militares, mas exonerar os terroristas. Ao mesmo tempo,
as indenizações para os ex-presos políticos e o desrespeito para com os
militares fazem parte de uma campanha que se tornou um padrão. O mesmo
desrespeito é dado às vítimas dos terroristas, que jamais receberam
indenizações.
Hoje em dia, uma escola chamada Médici tem seu nome alterado para Marighella,
um dos líderes terroristas da época. Quando um militante aparelhado
cospe no rosto de um militar octogenário, nada acontece com o agressor.
Eu não estou dizendo que os militares deveriam reagir com ações
armadas, mas com uma ação política contundente, uma guerra de processos e
uma conscientização popular com base em controle de frame. Ao
contrário, décadas de ausência de reação às maiores infâmias possíveis
tem simplesmente aniquilado a fibra de nossos militares. Hoje em dia,
por causa disso, muitos se envergonham de serem militares.
Quem levou à essa ação de constrangimento dos militares? A
responsabilidade é compartilhada. Primeiro, a esquerda, que elaborou
táticas para a guerra cultural eficientíssimas. Segundo, a direita, que
se recusou durante décadas a obter conscientização política, algo que
tem mudado somente nos últimos anos.
Em suma, se muitos militares hoje perderam as bolas, isso ocorreu por
diversos fatores, mas o principal deles foi a sucessão de humilhações
que eles tem sofrido ao longo das últimas décadas. Humilhação esta
promovida pela esquerda, com a conivência da direita, especialmente pela
ausência de consciência política desta última.
Ao invés de olhar para os fatos, os adeptos da Marcha da Família
ignoram tudo isso que a direita deixou acontecer com os militares ao
longo dos anos. Agora idealiza em sua mente que hoje eles possuem a
mesma condição e autoestima que os militares de 50 anos atrás. Doce
ilusão.
Hoje em dia, qualquer coisa relacionada aos militares é motivo de
denúncia. A PM deve deixar de existir por qual motivo? Por que não faz
sentido uma polícia ser “militarizada”, na concepção dos esquerdistas. A
campanha contra os militares é incessante e feita de diversas formas. O
mais irônico de tudo: essa campanha é feita exclusivamente via guerra
cultural, não via luta armada.
Por terem vencido várias batalhas na guerra cultural, a esquerda hoje
tirou toda a autoridade moral dos militares, assim como a autoestima de
muitos deles. Hoje, vários deles pedem desculpas por serem militares. E
se for Policial Militar então nem se fala. Aí a morte deles deve ser
comemorada, como quando Carlos Latuff disse que o garoto que teria matado os pais, policiais militares, merecia uma medalha. Enfim, não há autoestima de uma categoria profissional que resista com isso.
Sendo assim, é vital o reconhecimento do óbvio por esse pessoal da
Marcha da Família: quem aniquilou a autoestima dos militares não foram
nem os próprios militares, mas principalmente grande parte da direita
que não disputou a guerra cultural em seu devido tempo. É exatamente por
isso que hoje em dia “apelar aos militares” (além de ser um erro em
termos democráticos e éticos), é uma aposta tão absurda como tentar
contratar um castrado, ex-pegador, para levar para a cama uma mulher
vigarista.
Além de tudo, essa mera proposição é uma ofensa, que deveria ser
respondida pelos militares dessa forma: “Vocês não fizeram nada pela
gente em décadas de guerra cultural da esquerda e agora vem pedir ajuda?
Tomem vergonha, no mínimo! Vocês realmente não percebem o quanto é
indigno o que vocês estão fazendo?”.
Em síntese. Os militares não são tão burros
para fazer uma intervenção militar. Mas mesmo que a intervenção militar
fosse legítima ou viável politicamente (e não é, que fique bem claro),
eles também não tem sequer a autoestima e nem mesmo o prestígio perante a
população para fazer qualquer tipo de intervenção. Eles não tem nem
sequer condições técnicas, pois o sucateamento das Forças Armadas foi
intencional. Os méritos dessa aniquilação moral dos militares vão em
grande parte para a direita que se omitiu da guerra cultural.
Por isso mesmo, a direita deveria fazer um único investimento: guerra
cultural em retorno, contra a esquerda. Isso seria o mínimo para pagar
em retorno o tanto de danos que a omissão da direita causou aos
militares. E que se esqueça o discurso de “intervenção militar” de uma
vez por todas.
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