quinta-feira, 3 de abril de 2014

O que é pior? Pedir intervenção militar hoje ou esperar que um castrado aja como um “pegador”? Difícil saber…


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Imagine que um sujeito tenha uma fama de pegador e 10 anos atrás fez o serviço de conquistar uma mulher da qual você queria se livrar. Você contratou esse pegador pois queria tirar fotos dessa mulher, uma vigarista, e não queria que ela se desse bem na partilha de bens.  (Sim, eu sei que essa história hipotética é maquiavélica, mas é vital para minhas ilustrações)


Agora imagine que hoje em dia você viva o mesmo problema. Novamente, sei que nesta história estou propondo que você tenha um baita azar para mulheres, e sempre acaba se metendo com alguma que tende a lhe fazer de trouxa.


Você decide contratar o mesmo pegador. Mas aí você se defronta com um problema: ele se converteu em uma doutrina estilo harekrishna e agora acha que usar as técnicas de sedução que ele usava algo extremamente imoral. Tanto que ele editou tais técnicas de sua mente, tornando-se um completo inepto nessas técnicas. Para piorar, ele se castrou fisicamente, o que tornaria qualquer flagrante inviável, pois um castrado jamais iria seduzir uma mulher para levá-la pra cama.


Simplificando: o pegador que poderia seduzir sua mulher já não é mais um pegador, e nem sequer tem condições físicas se resolvesse voltar a se tornar um. Moral da história: se a sua única alternativa para resolver o problema é essa pessoa (até por que você não tem outros contatos), desista dessa ilusão.
O que isso tem a ver com os direitistas que ainda nutrem esperanças de uma “intervenção militar”? Absolutamente tudo.


Eu não era nascido em 1964, mas a história nos diz que as Forças Armadas eram uma instituição respeitável. Por causa disso, eles se sentiam imbuídos de um senso de retribuição para com larga parte da população. Ainda que eu seja contra intervenção militar hoje e achasse que eles deveriam ter feito a guerra cultural em 1964 (ao invés da intervenção armada), entendo que eles tinham um respaldo popular para fazê-lo. E muito mais do que isso, tinham uma aura de respeito (e auto-respeito) que os motivava a reagir, assim como lhes dava tal possibilidade.


Hoje em dia, a situação é praticamente a inversa. A Comissão da Verdade foi uma ofensa deliberada, especialmente ao propor tratar apenas a questão dos militares, mas exonerar os terroristas. Ao mesmo tempo, as indenizações para os ex-presos políticos e o desrespeito para com os militares fazem parte de uma campanha que se tornou um padrão. O mesmo desrespeito é dado às vítimas dos terroristas, que jamais receberam indenizações. 


Hoje em dia, uma escola chamada Médici tem seu nome alterado para Marighella, um dos líderes terroristas da época. Quando um militante aparelhado cospe no rosto de um militar octogenário,  nada acontece com o agressor.

Eu não estou dizendo que os militares deveriam reagir com ações armadas, mas com uma ação política contundente, uma guerra de processos e uma conscientização popular com base em controle de frame. Ao contrário, décadas de ausência de reação às maiores infâmias possíveis tem simplesmente aniquilado a fibra de nossos militares. Hoje em dia, por causa disso, muitos se envergonham de serem militares.

Quem levou à essa ação de constrangimento dos militares? A responsabilidade é compartilhada. Primeiro, a esquerda, que elaborou táticas para a guerra cultural eficientíssimas. Segundo, a direita, que se recusou durante décadas a obter conscientização política, algo que tem mudado somente nos últimos anos.

Em suma, se muitos militares hoje perderam as bolas, isso ocorreu por diversos fatores, mas o principal deles foi a sucessão de humilhações que eles tem sofrido ao longo das últimas décadas. Humilhação esta promovida pela esquerda, com a conivência da direita, especialmente pela ausência de consciência política desta última.

Ao invés de olhar para os fatos, os adeptos da Marcha da Família ignoram tudo isso que a direita deixou acontecer com os militares ao longo dos anos. Agora idealiza em sua mente que hoje eles possuem a mesma condição e autoestima que os militares de 50 anos atrás. Doce ilusão.

Hoje em dia, qualquer coisa relacionada aos militares é motivo de denúncia. A PM deve deixar de existir por qual motivo? Por que não faz sentido uma polícia ser “militarizada”, na concepção dos esquerdistas. A campanha contra os militares é incessante e feita de diversas formas. O mais irônico de tudo: essa campanha é feita exclusivamente via guerra cultural, não via luta armada.

Por terem vencido várias batalhas na guerra cultural, a esquerda hoje tirou toda a autoridade moral dos militares, assim como a autoestima de muitos deles. Hoje, vários deles pedem desculpas por serem militares. E se for Policial Militar então nem se fala. Aí a morte deles deve ser comemorada, como quando Carlos Latuff disse que o garoto que teria matado os pais, policiais militares, merecia uma medalha. Enfim, não há autoestima de uma categoria profissional que resista com isso.


Sendo assim, é vital o reconhecimento do óbvio por esse pessoal da Marcha da Família: quem aniquilou a autoestima dos militares não foram nem os próprios militares, mas principalmente grande parte da direita que não disputou a guerra cultural em seu devido tempo. É exatamente por isso que hoje em dia “apelar aos militares” (além de ser um erro em termos democráticos e éticos), é uma aposta tão absurda como tentar contratar um castrado, ex-pegador, para levar para a cama uma mulher vigarista.

Além de tudo, essa mera proposição é uma ofensa, que deveria ser respondida pelos militares dessa forma: “Vocês não fizeram nada pela gente em décadas de guerra cultural da esquerda e agora vem pedir ajuda? Tomem vergonha, no mínimo! Vocês realmente não percebem o quanto é indigno o que vocês estão fazendo?”.

Em síntese. Os militares não são tão burros para fazer uma intervenção militar. Mas mesmo que a intervenção militar fosse legítima ou viável politicamente (e não é, que fique bem claro), eles também não tem sequer a autoestima e nem mesmo o prestígio perante a população para fazer qualquer tipo de intervenção. Eles não tem nem sequer condições técnicas, pois o sucateamento das Forças Armadas foi intencional. Os méritos dessa aniquilação moral dos militares vão em grande parte para a direita que se omitiu da guerra cultural.

Por isso mesmo, a direita deveria fazer um único investimento: guerra cultural em retorno, contra a esquerda. Isso seria o mínimo para pagar em retorno o tanto de danos que a omissão da direita causou aos militares. E que se esqueça o discurso de “intervenção militar” de uma vez por todas.

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