RENATO RIELLA
Em pleno ano eleitoral, o Brasil viverá situação dramática, com a
perspectiva de racionamento de água em grandes cidades. Imaginem isso
num país que sempre se destacou entre todas as nações por ter água em
abundândia.
O problema afetará mais quem mora em São Paulo, cidade que já está
enfrentando um problema grave com o abastecimento de água.
E certamente
vai abalar o governador Geraldo Alckmin, do PSDB candidato favorito à
releição.
Estão sendo atingidas 8,1 milhões de pessoas que vivem na zona Norte,
no Centro e em alguns bairros das zonas Leste e Oeste de São Paulo.
Imaginem uma crise desse porte na principal cidade da América Latina!.
O problema atinge também as cidades próximas, como Franco da Rocha,
Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul,
além de regiões de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André.
Todos esses centros dependem diretamente dos rios e das represas do
sistema Cantareira para beber água, tomar banho e lavar louça, além do
uso industrial e comercial, etc.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sabendo que vai faltar
mesmo água no sistema Cantareira, tenta solução alternativa, para buscar
o líquido na Bacia do Rio Paraíba do Sul, que atende ao Estado do Rio
de Janeiro.
É um problema tão grave, que já preocupa muito a presidente Dilma
Rousseff. Uma crise desse porte em São Paulo também gera
responsabilidade para seu governo.
Relatório finalizado em março pelo Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) mostra que a Bacia do Rio Paraíba do Sul também atravessa
uma crise de estiagem que pode deixá-la com apenas 1,8% da capacidade
já em novembro.
O nível seria o mais baixo da história dos reservatórios
que abastecem a região do Vale do Paraíba e 80% do Estado do Rio.
SISTEMA CANTAREIRA ESTÁ SECANDO
Leandro Beguoci, do site Gizmodo, divulgou ampla reportagem no UOL,
mostrando que o sistema Cantareira está mesmo secando. “A questão não é
mais se vai faltar água. A questão é quando vamos entrar em
racionamento”, afirma ele.
No final de março, o Cantareira estava com apenas 13.4% da sua
capacidade – o menor nível já registrado na história. Dia após dia,
bate recordes negativos de armazenamento.
“Fotos dos reservatórios secos são de cortar o coração. O chão todo
quebrado, árvores retorcidas e mato, muito mato, tomaram o lugar dos
enormes depósitos de água que compunham a paisagem das represas.
Mas,
afinal, como chegamos a esse ponto? A gente foi pesquisar e acabou-se
descobrindo que algumas respostas já estavam diante dos nossos olhos há
algum tempo”, explica Leandro.
As rápidas mudanças pelas quais os municípios do sistema Cantareira
passaram, entre 1991 e 2013, ajudam a explicar a crise do abastecimento
de água na maior cidade do Brasil. E a Sabesp, a empresa controlada pelo
governo do Estado de São Paulo, responsável por saneamento e
abastecimento de água, já sabia disso.
No 7º Simpósio de Qualidade Ambiental, feito em 2010, o químico
Adilson Nunes Fernandes, da Sabesp, já havia exposto o problema de forma
cristalina. Na sua apresentação, Fernandes disse que um dos maiores
riscos ao abastecimento de água em São Paulo foi o avanço urbano sobre
as áreas de mananciais.
Entre 1991 e 2013, a população somada dos oito municípios que cercam
São Paulo e que dependem de Cantareira, saltou de 320 mil para 550 mil
pessoas. É um impressionante crescimento de 71,68%. Para se ter uma
ideia do tamanho disso, a população do Estado de São Paulo cresceu
38,22% no mesmo período.
E o que atraiu tanta gente? Segundo Leandro Beguoci, as pessoas foram
atraídas por duas coisas. Uma delas foi o preço baixo da terra e dos
imóveis. O segundo ponto é a economia, pois as cidades se desenvolveram
muito nos últimos anos.
Leandro explica mais a situação: “Não foi um crescimento provocado só
pelas pessoas mais pobres. No entorno da represa de Mairiporã, por
exemplo, foram construídos clubes e casas nas quais só se chega de balsa
ou de barco.
O mesmo fenômeno aconteceu em Piracaia e nas outras cidades que têm
grandes reservatórios no sistema Cantareira. Várias casas de veraneio,
enormes, luxuosas, foram erguidas ao lado ou coladas às represas.
Em Caieiras, condomínios de alto padrão foram construídos no trecho
da serra da Cantareira que passa pela cidade, onde estão várias
nascentes”.
SITUAÇÃO PODE PIORAR MAIS AINDA
A situação dos mananciais da região metropolitana de São Paulo
apresenta-se complexa e com tendências a deterioração, se os esgotos não
forem tratados e a ocupação do solo nas bacias hidrográficas continuar
de forma a degradar a cobertura vegetal.
Esse crescimento todo, portanto, veio sem planejamento e com muitas
consequências. Rios foram assoreados. Córregos foram canalizados. Os
pequenos trechos que compõem o sistema Cantareira vêm sendo destruídos.
(Exatamente o que a SEDHAB do Magela está fazendo no DF)
Porém, o impacto não foi só nas menores pontas do sistema. Os grandes
trechos também estão em risco. Apenas três cidades do sistema
Cantareira têm tratamento de esgoto.
O resto cai nos rios e córregos fedorentos que cortam alguns dos
bairros populosos dessas cidades e acabam, no final das contas, caindo
nas represas, sujando as águas e depositando dejetos e detritos nos
canos e tubos do Cantareira.
A falta de planejamento e de cumprimento da lei é tão marcante que,
aos poucos, as cidades que compõem o maior sistema de abastecimento de
água do Estado de São Paulo começam a passar por um problema bizarro:
falta de água para elas mesmas.
O QUE FAZER NESSA EMERGÊNCIA
Leandro Beguoci mostra coisas práticas que precisam ser feitas desde já na Região Metropolitana de São Paulo:
• Façam campanhas de racionamento de água.
• Não acreditem nos céticos do aquecimento global e se previnam, por favor.
• Tirem logo essas obras do papel.
• Cuidem dos mananciais como se eles fossem o jardim das vossas casas.
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