quinta-feira, 3 de abril de 2014

Copa em São Paulo? Vai ter. Água, ninguém sabe

RENATO RIELLA

Em pleno ano eleitoral, o Brasil viverá situação dramática, com a perspectiva de racionamento de água em grandes cidades. Imaginem isso num país que sempre se destacou entre todas as nações por ter água em abundândia.

O problema afetará mais quem mora em São Paulo, cidade que já está enfrentando um problema grave com o abastecimento de água. 

E certamente vai abalar o governador Geraldo Alckmin, do PSDB candidato favorito à releição. 

Estão sendo atingidas 8,1 milhões de pessoas que vivem na zona Norte, no Centro e em alguns bairros das zonas Leste e Oeste de São Paulo. Imaginem uma crise desse porte na principal cidade da América Latina!.

O problema atinge também as cidades próximas, como Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul, além de regiões de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André.

Todos esses centros dependem diretamente dos rios e das represas do sistema Cantareira para beber água, tomar banho e lavar louça, além do uso industrial e comercial, etc.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sabendo que vai faltar mesmo água no sistema Cantareira, tenta solução alternativa, para buscar o líquido na Bacia do Rio Paraíba do Sul, que atende ao Estado do Rio de Janeiro.

É um problema tão grave, que já preocupa muito a presidente Dilma Rousseff. Uma crise desse porte em São Paulo também gera responsabilidade para seu governo.

Relatório finalizado em março pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostra que a Bacia do Rio Paraíba do Sul também atravessa uma crise de estiagem que pode deixá-la com apenas 1,8% da capacidade já em novembro. 

O nível seria o mais baixo da história dos reservatórios que abastecem a região do Vale do Paraíba e 80% do Estado do Rio.

SISTEMA CANTAREIRA ESTÁ SECANDO

Leandro Beguoci, do site Gizmodo, divulgou ampla reportagem no UOL, mostrando que o sistema Cantareira está mesmo secando. “A questão não é mais se vai faltar água. A questão é quando vamos entrar em racionamento”, afirma ele. 

No final de março, o Cantareira estava com apenas 13.4% da sua capacidade – o menor nível já registrado na história. Dia após dia, bate recordes negativos de armazenamento. 

“Fotos dos reservatórios secos são de cortar o coração. O chão todo quebrado, árvores retorcidas e mato, muito mato, tomaram o lugar dos enormes depósitos de água que compunham a paisagem das represas. 

Mas, afinal, como chegamos a esse ponto? A gente foi pesquisar e acabou-se descobrindo que algumas respostas já estavam diante dos nossos olhos há algum tempo”, explica Leandro.

As rápidas mudanças pelas quais os municípios do sistema Cantareira passaram, entre 1991 e 2013, ajudam a explicar a crise do abastecimento de água na maior cidade do Brasil. E a Sabesp, a empresa controlada pelo governo do Estado de São Paulo, responsável por saneamento e abastecimento de água, já sabia disso.

No 7º Simpósio de Qualidade Ambiental, feito em 2010, o químico Adilson Nunes Fernandes, da Sabesp, já havia exposto o problema de forma cristalina. Na sua apresentação, Fernandes disse que um dos maiores riscos ao abastecimento de água em São Paulo foi o avanço urbano sobre as áreas de mananciais. 

Entre 1991 e 2013, a população somada dos oito municípios que cercam São Paulo e que dependem de Cantareira, saltou de 320 mil para 550 mil pessoas. É um impressionante crescimento de 71,68%. Para se ter uma ideia do tamanho disso, a população do Estado de São Paulo cresceu 38,22% no mesmo período.

E o que atraiu tanta gente? Segundo Leandro Beguoci, as pessoas foram atraídas por duas coisas. Uma delas foi o preço baixo da terra e dos imóveis. O segundo ponto é a economia, pois as cidades se desenvolveram muito nos últimos anos.

Leandro explica mais a situação: “Não foi um crescimento provocado só pelas pessoas mais pobres. No entorno da represa de Mairiporã, por exemplo, foram construídos clubes e casas nas quais só se chega de balsa ou de barco. 

O mesmo fenômeno aconteceu em Piracaia e nas outras cidades que têm grandes reservatórios no sistema Cantareira. Várias casas de veraneio, enormes, luxuosas, foram erguidas ao lado ou coladas às represas. 

Em Caieiras, condomínios de alto padrão foram construídos no trecho da serra da Cantareira que passa pela cidade, onde estão várias nascentes”.

SITUAÇÃO PODE PIORAR MAIS AINDA

A situação dos mananciais da região metropolitana de São Paulo apresenta-se complexa e com tendências a deterioração, se os esgotos não forem tratados e a ocupação do solo nas bacias hidrográficas continuar de forma a degradar a cobertura vegetal.

Esse crescimento todo, portanto, veio sem planejamento e com muitas consequências. Rios foram assoreados. Córregos foram canalizados. Os pequenos trechos que compõem o sistema Cantareira vêm sendo destruídos. 

 (Exatamente o que a SEDHAB do Magela está fazendo no DF)
 
Porém, o impacto não foi só nas menores pontas do sistema. Os grandes trechos também estão em risco. Apenas três cidades do sistema Cantareira têm tratamento de esgoto.

O resto cai nos rios e córregos fedorentos que cortam alguns dos bairros populosos dessas cidades e acabam, no final das contas, caindo nas represas, sujando as águas e depositando dejetos e detritos nos canos e tubos do Cantareira. 

A falta de planejamento e de cumprimento da lei é tão marcante que, aos poucos, as cidades que compõem o maior sistema de abastecimento de água do Estado de São Paulo começam a passar por um problema bizarro: falta de água para elas mesmas. 


O QUE FAZER NESSA EMERGÊNCIA


Leandro Beguoci mostra coisas práticas que precisam ser feitas desde já na Região Metropolitana de São Paulo:

• Façam campanhas de racionamento de água.

• Não acreditem nos céticos do aquecimento global e se previnam, por favor.


• Tirem logo essas obras do papel.


• Cuidem dos mananciais como se eles fossem o jardim das vossas casas.

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