quinta-feira, 1 de maio de 2014

A igualdade de oportunidade e a opressão do politicamente correto

Selecionei o trecho abaixo de um artigo escrito por Theodore Dalrymple, médico psiquiatra e escritor, extraído do Mídia Sem Máscara.

Sempre que profiro palestras, os membros mais jovens da plateia quase desmaiam de horror quando digo que não apenas não acredito em igualdade de oportunidades, como ainda considero tal ideia sinistra ao extremo, muito pior do que a mera igualdade de resultados.  Atualmente, dizer a uma jovem plateia que igualdade de oportunidades é uma ideia completamente maléfica e depravada é o equivalente a gritar “Deus não existe e Maomé não foi seu profeta” a plenos pulmões em Meca

.
O problema é sempre o mesmo: os defensores de determinadas ideias simplesmente não se dão ao trabalho intelectual de analisar as consequências práticas de sua implantação. Se a ideia da igualdade de oportunidades for realmente levada a sério, então seus proponentes terão de alterar toda a estrutura humana do planeta. 

Para começar, as pessoas não nascem iguais. Essa é a premissa mais básica de toda a humanidade. As pessoas são intrinsecamente distintas uma das outras. Algumas pessoas são naturalmente mais inteligentes que outras. Algumas têm mais destrezas do que outras. Algumas têm mais aptidões físicas do que outras.

Adicionalmente, mesmo que duas crianças nascessem com exatamente o mesmo grau de preparo e inteligência (algo improvável), o próprio ambiente familiar em que cada uma crescer será essencial na sua formação. Algumas crianças nascem em famílias unidas e amorosas; outras nascem em famílias desestruturadas, com pais alcoólatras, drogados ou divorciados. Há crianças que nascem inteligentes e dotadas de várias aptidões naturais, e há crianças que nascem com baixo QI. Toda a diferença já começa no berço e, lamento informar, não há nenhum tipo de engenharia social que possa corrigir isso.

As influências genética e familiar sobre o destino das pessoas teriam de ser eliminadas à força, pois elas indubitavelmente afetam as oportunidades e fazem com que elas sejam desiguais. 

No cruel mundo atual, pessoas feias não podem ser modelos; deformados não podem ser astros de futebol; retardados mentais não podem ser astrofísicos; baixinhos não podem ser boxeadores pesos-pesados. Não creio ser necessário prolongar a lista; qualquer um é capaz de pensar em milhares de exemplos.

É claro que pode ser possível nivelar um pouco a disputa criando leis que imponham a igualdade de resultado: por exemplo, insistindo que pessoas feias sejam empregadas como modelo de acordo com a proporção de seu predomínio na população. O novelista inglês L.P. Hartley, autor de The Go-Between, satirizou esta invejosa supressão da beleza (e, por consequência, todo e qualquer igualitarismo que não fosse restrito à igualdade perante a lei) em uma novela chamada Justiça Facial. 


Neste livro, Hartley contempla uma sociedade em que todos aspiram a uma face “mediana”, gerada por cirurgias plásticas que são feitas tanto nos anormalmente feios quanto nos anormalmente belos.  Somente desta maneira pode a suposta injustiça da loteria genética ser corrigida.

Gracejos à parte, o mais curioso sobre essa questão da desigualdade de oportunidades é que os arranjos políticos necessários para reduzi-la ao máximo possível já existem na maioria dos países ocidentais. Há saúde gratuita, há educação gratuita, há creches gratuitas, há escolas técnicas gratuitas, e há programas gratuitos de curas de vícios. Ainda assim, todos continuam infelizes ou descontentes. Consequentemente, continuamos atribuindo nossa infelicidade à falta de igualdade de oportunidades simplesmente por medo de olharmos para outras direções à procura de explicações verdadeiras, inclusive para nós mesmos.

Políticos adoram idealizar a ideia de igualdade de oportunidade exatamente porque se trata de algo impossível de ser alcançado plenamente - exceto se forem implantados arranjos que fariam a Coréia do Norte parecer um paraíso libertário. 


E justamente por ser impossível, a igualdade de oportunidades se torna uma permanente garantia de emprego para esses políticos, à medida que eles seguem prometendo a quadratura do círculo ou a criação do moto-perpétuo. Tais promessas garantem a importância deles perante o eleitorado. E conseguir importância é provavelmente a mais poderosa motivação de todo político.

“Você é contra a igualdade de oportunidades?” Eu sou. Sou plenamente a favor da oportunidade, mas totalmente contra a igualdade. E não adianta tentar me oprimir com perguntas politicamente corretas e maliciosamente formuladas.

Um comentário:


É equivocado dizer que existe saúde de graça, educação de graça e outras coisas que foram afirmadas no texto, existem hospitais e escolas sustentadas com dinheiro dos impostos, os serviços são pagos indiretamente. Também é equivocado dizer que esses serviços representam igualdade, pois as instituições publicas proporcionam serviços básicos, é possível pagar instituições privadas e receber serviços diferenciados.

Mas o ponto mais questionável do texto é a afirmação de que o autor é contra a igualdade, fazendo com que ele só possa ser a favor da desigualdade. O autor disse que é contra a igualdade e a favor da oportunidade, então suponho que ele seja a favor das cotas raciais, pois ela faz exatamente aquilo que o autor defende no texto, ou seja, é contra a igualdade de oportunidade que o exame seletivo proporciona, mas é a favor da oportunidade diferenciada que as cotas proporcionam.

Já sei... eu preciso de um intérprete, o autor quis dizer outra coisa completamente diferente daquilo que realmente disse. a) Perguntinhas maliciosamente formulada: por que a isenção de impostos para as igrejas não foi mencionada no texto? b) Onde há mais igualdade, na Coreia do Norte ou na Suécia?

Nenhum comentário: