Quem defende as barbaridades cometidas pelo o regime militar no Brasil costuma invocar os mortos pela ação dos que contestavam o regime.
Assim reduz-se tudo a uma contabilidade tétrica: meus mortos contra os seus. [não se trata de discutir quem matou mais e sim quem começou e os métodos utilizados.
As ações covardes, cruéis e sanguinárias foram iniciadas pela esquerda - atentado ao Aeroporto de Guararapes, explosão no quartel do 2º Exército, assaltos a bancos e várias outras - sempre usando de extrema covardia (ações covardes, realizadas de surpresa e que sempre vitimavam civis inocentes) e que obrigou as Forças Armadas e demais organismos de segurança a iniciar uma luta contra os traidores da Pátria, os assassinos frios e covardes, luta essa em que no seu inicio sempre os inimigos da democracia e da Pátria estavam um passo a frente.
Foram os guerrilheiros que iniciaram as ações covardes, a luta armada, e em todo o período inicial, foram eles que ditaram o ritmo da luta.]
Pode-se discutir se a luta armada contra o poder ilegítimo foi uma opção correta ou não, mas não há equivalência possível entre os mortos de um lado e de outro. Não apenas porque houve mais mortes de um só lado, mas por uma diferença essencial entre o que se pode chamar, com alguma literatice, de os arcos de cumplicidade.O arco de cumplicidade dos atentados contra regime era limitado à iniciativa, errada ou não, de grupos ou indivíduos clandestinos. Já o arco de cumplicidade na morte de contestadores do regime era enorme, era o Estado brasileiro. Quando falamos nos “porões da ditadura” onde pessoas eram seviciadas e mortas, nem sempre nos lembramos que as salas de tortura eram em prédios públicos, ou pagas pelo poder publico — quer dizer, por todos nós.
A cumplicidade com o que acontecia nos “porões” em muitos casos foi consentida, mesmo que disfarçada. Ainda está para ser investigada a participação de empresários e outros civis na chamada Operação Bandeirantes durante o pior período da repressão, por exemplo. Mas a cumplicidade da maioria com um Estado assassino só existiu porque o cidadão comum pouco sabia do que estava acontecendo.
[INVESTIGADA a participação de empresários e outros civis na OBAN? primeiro lugar não há nada a ser discutido, os crimes - tanto os da esquerda quanto os eventualmente cometidos pelos agentes das forças de segurança que tinham o DEVER de combater os guerrilheiros e terroristas que promoviam a luta armada - foram devidamente anistiados por lei promulgada há mais de 30 anos, que beneficiou ambos os lados - tanto que temos uma ex-terrorista exercendo a presidência da República e muitos outros ex-guerrilheiros e ex-terroristas exercendo cargos públicos de grande importância.
Além do mais era necessário - e também moral e eticamente necessário - que empresários e outros civis apoiassem os BRASILEIROS DO BEM que tinham o DEVER de combater os traidores da Pátria.]
A contabilidade tétrica visa a nivelar o campo dessa batalha retroativa pela memória do país e igualar os dois arcos de cumplicidade. Não distingue os mortos nem como morreram. Todas as mortes foram lamentáveis, mas os mortos nas salas de martírio do Estado ou num confronto com as forças do Estado na selva em que ninguém sobreviveu ou teve direito a uma sepultura significam mais, para qualquer consciência civilizada, do que os outros.
[cabe apenas lembrar que muitos dos terroristas mortos em CONFRONTO com os órgãos de segurança, foram enterrados com nomes falsos (o que eventualmente pode dificultar a identificação de algumas sepulturas) por livre opção deles, já que quando escolheram ingressar na criminalidade - na mais covarde e repugnante, qual seja a guerrilha e o terrorismo - optaram pelo uso de documentos falsos e quando eram abatidos, a identificação se tornava dificil, especialmente por naquela época não existir as técnicas de identificação hoje disponíveis.]
O que se quer saber, hoje, é exatamente do que fomos cúmplices involuntários.
Por: Luis Fernando Veríssimo, escritor - Blog do Noblat
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