quinta-feira, 22 de maio de 2014

O mercado da barganha política: quem não chora, não mama!



Quero mais benesses estatais!!!

Edward Amadeo foi meu professor na PUC, um dos melhores que tive. Não fiquei surpreso, portanto, ao ler seu excelente artigo publicado hoje no GLOBO. Toca em um ponto muito importante, que merece mais atenção da imprensa: com o aumento da intervenção estatal, há uma enorme valorização do mercado de barganha política vis-à-vis o mercado propriamente dito, econômico, em que indivíduos e empresas precisam trocar bens e serviços valorizados por seus consumidores.

Basta pensar no caso sintomático do BNDES: quando um banco público empresta R$ 200 bilhões a taxas altamente subsidiadas, abaixo até da inflação, quem pode ignorar essa fonte inestimável de recursos? Trata-se muitas vezes da oportunidade de uma vida, para suprir a falta de legítima competitividade. Cair nas graças do “rei” e obter um empréstimo desses passa a ser questão de vida ou morte. Qual o resultado evidente? Em vez de investir em aumento de produtividade, as empresas passam a “investir” em lobby político para vencer a disputa dentro do BNDES.

O mesmo vale para o restante da economia. Em um modelo inchado de “welfare state”, com o estado distribuindo benesses e decidindo os rumos de boa parte da economia, a máxima passa a ser o velho ditado “quem não chora, não mama”. Todos percebem que há um prêmio para quem grita mais alto, cria mais confusão, chama mais a atenção do governo, representa mais obstáculos políticos aos que estão no poder. Diz Amadeo:

Essa é uma história econômica com repercussões políticas. O governo passou a mensagem de que “ele manda”. Ora, se ele manda, tem que entregar. E vai entregar a quem tiver mais poder de barganha, quem gritar mais alto. Esse ambiente incita os grupos de interesse a reivindicar mais para os seus associados. Isso vale para empresários, políticos e sindicatos de servidores privados e públicos. Ao impedir o funcionamento do mercado de bens e serviços, o governo realça o mercado político.

Acrescente-se um fator circunstancial, as eleições, e temos um contexto favorável para as trocas entre o governo, que manda, e os grupos organizados, que reivindicam. Não por outra razão, o governo, que começou o ano dizendo que ia ser mais moderado nas áreas fiscal e creditícia, já mudou de ideia e, nas últimas semanas, voltou ao regime de provimento de benesses. Trata-se de populismo em estado puro.

Mas há um limite para esse processo. Começa a faltar recursos, o crescimento desaba, a inflação permanece elevada, e as pressões sociais vão aumentando. As greves passam a incomodar todos, as manifestações tiram o eleitor do sério, o clima vai deteriorando e as pessoas ficam cansadas do governo, refém dos grupos organizados. As expectativas são inevitavelmente frustradas. As tetas começam a secar, e os grupos de interesse passam a buscar uma alternativa, alguém que prometa novas regalias.

Acuado, o PT parte para a ofensiva, ataca a imprensa, tenta asfixiar a liberdade de expressão, para não deixar transparecer toda essa insatisfação popular. Isso é inadmissível, como conclui Amadeo:

Mas usar o argumento do oligopólio da comunicação como mote de campanha e ameaçar com a censura à imprensa é permitir que a política partidária venha a suprimir o oxigênio do organismo social, que é a liberdade de expressão. Porque é da livre expressão dos indivíduos que se faz a convivência humana, senão criativa e virtuosa, pelo menos suportável.

Rodrigo Constantino

Nenhum comentário: