Edward Amadeo foi meu professor na PUC, um dos melhores que tive. Não fiquei surpreso, portanto, ao ler seu excelente artigo
publicado hoje no GLOBO. Toca em um ponto muito importante, que merece
mais atenção da imprensa: com o aumento da intervenção estatal, há uma
enorme valorização do mercado de barganha política vis-à-vis o mercado
propriamente dito, econômico, em que indivíduos e empresas precisam
trocar bens e serviços valorizados por seus consumidores.
Basta pensar no caso sintomático do
BNDES: quando um banco público empresta R$ 200 bilhões a taxas altamente
subsidiadas, abaixo até da inflação, quem pode ignorar essa fonte
inestimável de recursos? Trata-se muitas vezes da oportunidade de uma
vida, para suprir a falta de legítima competitividade. Cair nas graças
do “rei” e obter um empréstimo desses passa a ser questão de vida ou
morte. Qual o resultado evidente? Em vez de investir em aumento de
produtividade, as empresas passam a “investir” em lobby político para
vencer a disputa dentro do BNDES.
O mesmo vale para o restante da economia.
Em um modelo inchado de “welfare state”, com o estado distribuindo
benesses e decidindo os rumos de boa parte da economia, a máxima passa a
ser o velho ditado “quem não chora, não mama”. Todos percebem que há um
prêmio para quem grita mais alto, cria mais confusão, chama mais a
atenção do governo, representa mais obstáculos políticos aos que estão
no poder. Diz Amadeo:
Essa é uma
história econômica com repercussões políticas. O governo passou a
mensagem de que “ele manda”. Ora, se ele manda, tem que entregar. E vai
entregar a quem tiver mais poder de barganha, quem gritar mais alto.
Esse ambiente incita os grupos de interesse a reivindicar mais para os
seus associados. Isso vale para empresários, políticos e sindicatos de
servidores privados e públicos. Ao impedir o funcionamento do mercado de
bens e serviços, o governo realça o mercado político.
Acrescente-se
um fator circunstancial, as eleições, e temos um contexto favorável
para as trocas entre o governo, que manda, e os grupos organizados, que
reivindicam. Não por outra razão, o governo, que começou o ano dizendo
que ia ser mais moderado nas áreas fiscal e creditícia, já mudou de
ideia e, nas últimas semanas, voltou ao regime de provimento de
benesses. Trata-se de populismo em estado puro.
Mas há um limite para esse processo.
Começa a faltar recursos, o crescimento desaba, a inflação permanece
elevada, e as pressões sociais vão aumentando. As greves passam a
incomodar todos, as manifestações tiram o eleitor do sério, o clima vai
deteriorando e as pessoas ficam cansadas do governo, refém dos grupos
organizados. As expectativas são inevitavelmente frustradas. As tetas
começam a secar, e os grupos de interesse passam a buscar uma
alternativa, alguém que prometa novas regalias.
Acuado, o PT parte para a ofensiva, ataca
a imprensa, tenta asfixiar a liberdade de expressão, para não deixar
transparecer toda essa insatisfação popular. Isso é inadmissível, como
conclui Amadeo:
Mas usar o
argumento do oligopólio da comunicação como mote de campanha e ameaçar
com a censura à imprensa é permitir que a política partidária venha a
suprimir o oxigênio do organismo social, que é a liberdade de expressão.
Porque é da livre expressão dos indivíduos que se faz a convivência
humana, senão criativa e virtuosa, pelo menos suportável.
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