Dilma e o ministro Manoel Dias: a culpa da baixa geração de empregos
não é da incompetência do governo. É dos empresários, dos partidos
políticos, da imprensa...
A indústria de transformação reagiu à desaceleração da
atividade econômica e encerrou abril com menos 3,4 mil vagas no mercado formal.
Esta foi a primeira vez desde 2001, pelo menos, que o setor fechou empregos
nesse mês, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(Caged). Demissões líquidas nessa época do ano estão totalmente fora do padrão
sazonal e nem em 2009, durante a recessão, a indústria fechou postos de
trabalho em abril.
O Caged mostrou criação de 105,3 mil vagas de trabalho em
abril, 46,5% a menos que em igual período do ano passado. Além da indústria,
que havia aberto 40,6 mil vagas no mesmo mês do ano passado, também tiveram
forte desaceleração no ritmo de geração de emprego a construção civil (32,9 mil
vagas em abril de 2013 e 4,3 mil no mês passado) e a agropecuária (de 24 mil
para 14 mil). "Esses três resultados foram muito negativos", observa
o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves.
Para ele, "o mercado formal reagiu à desaceleração da
atividade". Ele pondera que, após as dúvidas quanto ao ritmo real da
atividade no começo do ano - geradas pela diferença no número de dias úteis em
fevereiro e março, entre outras razões -, ficou mais claro que o quadro é muito
ruim. "Aquela ideia de que as empresas poderiam segurar o emprego acabou",
avalia ele. Para Gonçalves, o mercado de trabalho tende a mostrar mais
claramente, a partir de agora, os efeitos da desaceleração econômica.
Economistas e empresários não esperam ajuda da Copa do Mundo
e das eleições nos próximos meses. Pelo contrário. A expectativa é que, no
conjunto da economia, esses eventos atrapalhem o ritmo de crescimento. O
presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Calçados, Heitor
Klein, diz que a Copa do Mundo deve afetar negativamente a venda de calçados
porque as famílias tendem a destinar a renda disponível para consumo para
outros bens e serviços, mais ligados aos jogos.
O setor de calçados e confecções aparece, na estatística do
Caged, como um dos poucos segmentos da indústria com maior criação de
vagas em
relação ao ano passado: foram 20,5 mil empregos a mais entre janeiro e
abril do
ano passado e 21,2 mil em igual período de 2014. "Esse dado não reflete
uma boa notícia para nosso setor porque o ano passado é uma base ruim de
comparação", explica Klein. Além das vendas internas fracas, as
exportações não reagiram. Para a Argentina, o Brasil enviou 1,1 milhão
de
pares, 44% menos que no primeiro quadrimestre de 2013. Em valor, a queda
foi de
51%.
O ministro do Trabalho, Manoel Dias, tem avaliação diferente e espera um aquecimento
no mercado de trabalho nos próximos meses. "Haverá expansão de emprego em
maio e junho por conta da Copa". Dias acredita que "há setores"
que estão manipulando o cenário por conta da disputa eleitoral, inclusive
incitando manifestações e greves. "Partidos políticos estão explorando
isso. Há três candidaturas postas disputando as eleições presidenciais. É um
momento onde essas manifestações ficam em evidência", afirmou.
Mesmo esperando um aquecimento, Dias disse que o governo
pode reavaliar sua projeção de criação de 1,5 milhão de empregos. "Vamos
reavaliando, mas mantemos a projeção". Até abril foram abertas 458 mil
vagas, 16% menos que em igual período do ano passado. (Valor Econômico)
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