Existe a crença de que o eleitorado brasileiro é dividido em três grandes blocos: os que gostam do governo, os que são contra o governo e os que estão em dúvida. Tal projeção sempre foi feita nas eleições em que Lula (PT) perdeu para FHC (PSDB). Dizia-se que o PT tinha um teto e não conseguia romper a barreira de, aproximadamente, 30% dos votantes.
Com a perda de qualidade no governo FHC e a fadiga de material dos tucanos, o vento da mudança soprou e Lula conseguiu convencer os 30% sem lado a apoiá-lo. Posteriormente, quem passou a ter de conquistar os indecisos foi o PSDB. Não conseguiu. O sucesso do governo com suas políticas de distribuição de renda impulsionou Lula e, depois, Dilma Rousseff.
Hoje, com a aprovação do governo em declínio, a oposição vê a chance de cooptar os que estão em dúvida e derrotar os governistas. Entre indecisos, brancos e nulos, temos cerca de 30% do eleitorado.
No entanto, como apontou a Folha de S.Paulo em reportagem do dia 11 de maio, temos um percentual elevado de brancos, nulos e indecisos que contabiliza cerca de 24% dos eleitores. É o maior percentual já verificado para o período pré-eleitoral desde a volta das eleições diretas no país. A matéria da Folha não especula os motivos. Mas provoca os cientistas políticos a falar sobre isso.
Tenho algumas pistas. Nenhum dos candidatos à Presidência tende a ter uma imagem forte e inequívoca a ponto de dividir o eleitorado. Pela primeira vez, nenhum candidato tem uma grande bandeira que atravesse todas as classes. Lula venceu prometendo mudança, e a maioria queria mudanças. Ganhou a reeleição e elegeu Dilma com a garantia de manutenção dos ganhos em meio a um bom ambiente econômico.
Dilma não tem uma grande marca nem uma grande bandeira. Na falta de marca própria, vai apelar para a manutenção dos ganhos. A propaganda do PT disseminando o medo com a possibilidade de se perder as conquistas foi nessa direção.
Os demais candidatos, em que pesem seus méritos, não conseguiram até agora firmar uma marca nem um discurso forte. Mesmo tendo um início tão prematuro da campanha. E com o luxuoso auxílio das trapalhadas do governo.
Cumpre dizer que os tempos estranhos de hoje favorecem os políticos não tradicionais. Dos principais nomes da disputa, Eduardo Campos (PSB) é o tradicional menos tradicional. Em especial, pela presença da ex-senadora Marina Silva na chapa.
Porém, a descrença que percorre os setores mais abastados nesses tempos esquisitos ainda não conta com mecanismos de expressão e cooptação das classes populares, que são, inequivocamente, mais desinteressadas e/ou influenciadas pelo clientelismo.
As próximas eleições, como disse Merval Pereira no jornal O Globo do dia 4 de maio, na coluna intitulada “Critérios e tendências”, caminham para ser uma das mais disputadas dos últimos tempos. Isso é certo. Muito mais pelos erros estratégicos cometidos por Dilma do que pelas virtudes do discurso oposicionista.
Os ventos da mudança, que já sopram a partir de muitos lugares, ainda não está personificado. Se a mudança não tem cara, o conservadorismo pode prevalecer. E não devemos esquecer que Dilma ainda tem 49% das intenções dos votos válidos e que o jogo, para ela, está apenas começando.
Murillo de Aragão é cientista político. BLOG do NOBLAT
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