Josias de Souza
22.mai.2014
- Ônibus da Viação Santa Brígida não saíram da garagem da Vila Jaguara,
na zona norte de São Paulo, na manhã nesta quinta-feira (22). A
paralisação das atividades ocorreu pelo terceiro dia consecutivo. No fim
da manhã, os veículos voltaram a circular normalmente. Os motoristas e
cobradores protestam por melhores salários Leia mais Nelson Antoine/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Mediante a promessa de um encontro com o prefeito paulistano Fernando Haddad, às 10h desta quinta-feira (22), os motoristas e cobradores que paralisaram os ônibus em São Paulo por dois dias concordaram em voltar ao trabalho de madrugada. Ficou entendido que o superintendente regional do Ministério do Trabalho, Luiz Antônio Medeiros, providenciaria a reunião. Faltou combinar com o prefeito. Haddad não incluiu em sua agenda nenhuma conversa com rodoviários.
No horário acertado por Medeiros à revelia do dono da agenda, Haddad estará longe da prefeitura, no número 12.901 da Avenida das Nações Unidas. Funciona ali o Hotel Hilton. Num salão do prédio, Haddad participará, a partir das 9h, do seminário ‘Futuro das Cidades’, promovido pelo jornal Valor Econômico. Só deve estar de volta ao seu gabinete às 10h30. Nesse horário, receberá o diretor da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio (Comlurb), Fernando Alves de Oliveira Pinto, não os rodoviários de São Paulo.
O motorista Paulo Martins Santos, da viação Gato Preto, um dos líderes da paralisação, soou assim, na saída do encontro com Luiz Antonio Medeiros: “A nossa proposta é voltar a trabalhar e levar a comissão à prefeitura. Se não tiver negociações, vamos parar de novo.” Ouvido pelo blog na noite passada, um integrante da equipe de Haddad disse que, na visão do prefeito, não lhe cabe intermediar desavenças entre empresas de ônibus e trabalhadores do setor.
Enquanto Luiz Medeiros dizia aos rodoviários que a prefeitura não poderia “ficar fora dessa”, o próprio Haddad informava, em entrevista na noite passada, que notificara o sindicato dos rodoviários sobre a necessidade de cumprir o que está previsto nos contratos celebrados com a prefeitura. Ou os ônibus voltavam a rodar ou a administração municipal adotaria medidas judiciais —cíveis e penais— “visando a responsabilização pessoal dos diretores” sindicais.
O auxiliar do prefeito que conversou com o blog realçou que, também na noite de quarta, a desembargadora Rilma Aparecida Hemetério, do Tribunal Regional do Trabalho, concedera liminar ao sindicato patronal das empresas de ônibus determinando que pelo menos 75% das linhas de ônibus voltem a circular. Sob pena de aplicação de multa diária, a ser cobrada do sindicato dos motoristas e cobradores.
Ou seja: a menos que Fernando Haddad seja convencido do contrário, não haverá reunião com rodoviários na prefeitura municipal. A agenda do prefeito está tomada. Depois da conversa com o diretor da Comlurb do Rio, Haddad receberá, às 11h30, o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas, Luciano Amadio Filho. Na sequência, às 12h30, almoçará com o presidente do Tribunal de Contas do Município, Edson Simões. Entre 14h30 e 17h30, programou-se para receber nove secretários da sua administração. Fechando o expediente, terá uma reunião com a presidente do TRT, desembargadora Maria Doralice Novaes.
Nesse contexto, ou os rodoviários que divergem do acordo fechado pelo sindicato com os patrões dão meia-volta ou a população pobre de São Paulo, que depende dos ônibus para trabalhar, será submetida a novas jornadas de suplícios e humilhações. Presentes à reunião com Luiz Antônio Medeiros, representantes das empresas deixaram claro que não cogitam reabrir as negociações com a categoria.
As empresas ofereceram reajuste salarial de 10%, vale-refeição diário de R$ 16,50 e melhorias na participação nos lucros. Reunido em assembleia, o sindicato aprovou o pacote. O grupo dissidente cruzou os braços porque quer mais: 13,5% de aumento e vale-refeição de R$ 22. O presidente do sindicato, José Valdevan, que divergia dos dissidentes, reajustou a prosa depois da reunião com Medeiros: “Os trabalhadores estão dando esse voto de confiança ao prefeito para que ele se sensibilize com a nossa situação. O que havia de controvérsia entre os dissidentes e o sindicato foi resolvido.”
Nessa história toda, apenas uma coisa não foi resolvida por enquanto: a situação dos usuários de ônibus da capital paulista. A esses, por ora, reservou-se o papel de bucha de canhão. Pelas contas da prefeitura, a paralisação dos ônibus prejudicou cerca de 1 milhão de pessoas.
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