Por Bruna Fasano, na VEJA.com. Ainda voltarei ao assunto, é claro.
Um dia depois do encontro do PT que oficializou o nome da presidente Dilma Roussef, com presença do ex-presidente Lula, em São Paulo, o partido divulgou neste sábado um documento com as definições sobre a tática eleitoral para vencer o pleito de outubro. O texto traz também o que se parece com uma lista de diretrizes para um segundo mandato de Dilma – e quarto dos petistas. A tônica do encontro, como se viu na sexta-feira, ainda é a de abafar o ‘Volta, Lula’, que ganhou coro em setores da sigla.
Em número e
importância de caciques petistas, o segundo dia de encontro na capital
paulista foi menos prestigiado. Com plateia bastante esvaziada, poucos
delegados do partido discursaram. A presença de Rui Falcão, presidente
nacional da legenda, teve como objetivo manter os representantes
regionais unidos e buscou reforçar o sentimento de que Dilma ainda é a
melhor opção para manter o governo em mãos petistas.
Uma
brochura entregue aos delegados, para que estes passem adiante as
decisões do encontro, traz definições sobre a tática eleitoral e a
política de alianças para 2014. O documento reconhece que a disputa
eleitoral deve resultar em ataques ao desempenho do governo Dilma, já
bastante criticado. Como é tradição no partido, a imprensa foi
responsabilizada pela perda de popularidade da presidente.
“Setores da
mídia monopolizada, que funciona como verdadeiro partido de oposição,
representam um projeto oposto”, diz um trecho do documento. Em outro
parágrafo, o texto pede que o partido deve “apoiar incondicionalmente” o
projeto de continuidade, e, ainda assim, “manter e manifestar o desejo
de mudança”. Ou seja, internamente, o PT acredita ser possível convencer
o eleitor de que o jeito de mudar é manter as coisas como estão.
No
programa de governo há um ataque indireto ao pré-candidato do PSB ao
Palácio do Planalto, Eduardo Campos. “As oposições estão estagnadas, sem
discurso consistente, sem programa. Não escondem a disposição de
abandonar as políticas de emprego e de renda dos governos Lula e Dilma.
Reivindicam a “autonomia” do Banco Central (autonomia em relação a
quem?)”
Também
pré-candidato, o senador tucano Aécio Neves (MG) não foi poupado. “A
oposição anuncia ‘medidas amargas’, ‘impopulares’, caso venham a ser
eleita (…) Amargas para quem?”, diz outro trecho da brochura. Neste
ponto, o PT faz referência à entrevista concedida por Aécio Neves em
abril, quando o pré-candidato do PSDB afirmou não temer “medidas
amargas” e disse que, se eleito, não se tornaria refém de avaliações
impopulares.
Caso Padilha
Ao final do evento, Falcão falou a jornalistas sobre a candidatura de Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde, ao governo de São Paulo. “Não cogitamos substituir o candidato, até porque não há nenhum motivo para isso”, afirmou. Padilha vive um momento turbulento, com nome ligado constantemente a figuras presas e investigadas pela operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Entre os “amigos ocultos” revelados pela investigação está o doleiro Alberto Youssef, dono de uma empresa de fachada – o laboratório Labogen – que firmou contrato com o Ministério da Saúde na gestão do petista à frente do Ministério da Saúde. Entre os líderes petistas que participaram do encontro neste sábado estavam o líder do PT na câmara, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, o deputado federal Paulo Teixeira e o senador Eduardo Suplicy – todos de São Paulo.
O
presidente nacional do PT passou boa parte do evento nos bastidores,
articulando com alas radicais e minimizando os resultados das últimas
pesquisas eleitorais que apontam que o desempenho de Dilma não é
animador. Na última análise divulgada, 49,1% dos entrevistados
desaprovaram o desempenho pessoal da presidente. Alas radicais dizem que
o partido deveria ir às ruas protestar contra a prisão dos mensaleiro
presos no julgamento da ação penal 470 – única forma que o PT se refere
ao mensalão. E, em documento, defendem que José Dirceu, José Genoino,
Delúbio Soares e João Paulo Cunha são representantes legítimos do PT,
embora Lula tenha afirmado em entrevista recentemente que eles não
seriam de sua ‘confiança’.
A
necessidade de acalmar as correntes radicais mostra, mais uma vez, o
tamanho do racha interno que atormenta o partido e o governo. Conhecido
por embates internos intensos, o PT, cujo comando tentou nos últimos
dois dias demonstrar união em torno do nome de Dilma, termina o evento
sem a certeza de que sepultou o ‘Volta, Lula’. Apesar do esforço, mais
importante do que o discurso oficial seria reverter a tendência de queda
de Dilma, mantida nas últimas três pesquisas eleitorais.
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