Dizem que banqueiros e políticos são
iguais. Os primeiros não gostam de ninguém, gostam de dinheiro. Os
segundos
idem, pois o seu único sentimento vagamente humano é pelo poder. Claro
que existe ai uma dose exagerada de maldade, mas com um fundo de
verdade, sim. Hoje a colunista Eliane Cantanhêde levanta
a possibilidade de uma chapa Aécio-Serra, viável desde que ambos
esqueçam o
passado, como se políticos - a maldade de novo! - olhassem para qualquer
coisa que não fosse o futuro,
que se resume em vencer a próxima eleição. O
resto é poesia, não é política.
Segue abaixo, a coluna publicada na Folha:
A chapa Aécio-Serra
BRASÍLIA - Ninguém acreditava, mas a possibilidade de José Serra ser
candidato a vice na chapa de Aécio Neves é real e está crescendo. Significa que Serra pode dar a Aécio o que Aécio negou a Serra em 2010,
com enorme impacto negativo na campanha tucana de então.
A operação, claro, não é fácil e embute vantagens e desvantagens tanto
para um quanto para outro. Mas é o que melhor se apresenta para ambos, num
momento de grande ânimo nas oposições diante da queda de Dilma nas pesquisas e
do salve-se quem puder governista.
As principais vantagens para Aécio, ao agregar Serra como vice, seriam
fortalecer a campanha em São Paulo, surfar no recall do nome dele e conferir um
ar, digamos, mais maduro à chapa puro-sangue. A desvantagem é que Serra não tem
um temperamento nada fácil e ninguém --muito menos Aécio-- pode esperar que
seja um vice humilde, silencioso e omisso nos debates sempre acalorados de
campanha.
E, para Serra, a vantagem é que ele não tem alternativa. O que é
melhor, ser deputado e morar em apartamento funcional ou tentar ser
vice-presidente, desfrutar do Palácio do Jaburu e participar do centro do
poder?
Desde jovem, ainda presidente da então combativa UNE, Serra sonha com
algo que jamais irá conquistar: ser eleito presidente da República. Se esse sonho
se esvaiu, sobra a possibilidade de ser vice e sentar na cadeira todas as vezes
que o presidente viajar, por exemplo.
A desvantagem? Ele vai ter que engolir o próprio orgulho em seco,
esquecendo os traumas e as desfeitas de Aécio em Minas em 2010. Afinal, a união
não é por amor, é por pragmatismo e cálculo político e individual.
Na avaliação oposicionista, desde 2002 não há tanta chance de vitória,
mas para Aécio ou para Eduardo Campos? As pesquisas dirão. Se Aécio não vencer
a eleição, o que Serra tem a perder? Na verdade, muito pouco. A candidatura a
vice é pegar ou largar.
Gostaram da coluna da Cantanhêde? Da minha parte, iria mais fundo. Acrescentaria, especialmente para
Serra, que é quem está em busca de um lugar ao sol, mais algumas vantagens. A
principal é a visibilidade nacional. Como vice, poderia continuar a correr o
país, mantendo o seu capital político que, sem dúvida alguma - basta olhar as
pesquisas -, está desaparecendo a cada dia que passa.
Se vencer a eleição junto com Aécio,
Serra poderá ser o super ministro das reformas, o cara que vai acabar com
ministérios e que terá o papel técnico de reorganizar o Estado brasileiro,
deixando para o Presidente a costura política para que elas sejam viabilizadas.
Um trabalho de negociação e acordos que, definitivamente, Serra não sabe fazer
e que Aécio faz com maestria.
Se perder a eleição, Serra poderá
voltar a disputar a prefeitura de São Paulo, em 2016, assim como estará com
cacife para demandar a indicação do PSDB tanto para o governo de São Paulo como
até mesmo para a Presidência da República, em 2018.
Para Aécio, a decisão é bem mais
complexa. A presença de Serra na chapa retira o aspecto de renovação na
política e o termo aqui não tem nada a ver com idade, mas sim com fadiga de
material. Serra não tem nada de novo, além de possuir uma imagem associada à
derrota em duas eleições presidenciais.
Ao mesmo tempo, nada impede que
Aécio, se vencedor, ofereça para um Serra deputado ou senador o mesmo
papel que
o paulista poderia ter como vice eleito. Sem o ônus do Jaburu, na secura
da Esplanada dos Ministérios. E Serra aceitará, porque continuará
buscando visibilidade nacional e exposição da sua “marca” para,
futuramente... querer o lugar de Aécio.
A decisão para Aécio não é fácil, precisando como precisa de São Paulo,
mas nada que meia dúzia de qualis não resolvam. Em 2010, assistimos
Serra tascando
um beijo na bochecha do mineiro, em busca do seu apoio. Em 2014,
poderemos ver Aécio fazendo o mesmo
na careca do paulista? É bem mais dífícil. Mas imponderável é a
política, onde beijos são apenas acidentes de
percurso rumo ao que importa: o poder.
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