domingo, 4 de maio de 2014

Violência no Rio de Janeiro retoma níveis pré-UPPs




No Rio




Policial patrulha rua na favela da Maré Policial patrulha rua na favela da Maré

Os dados de criminalidade no primeiro trimestre de 2014, divulgados pelo Instituto de Segurança Pública, mostram que a violência no Rio voltou aos níveis do mesmo período de 2008, quando o Estado ainda não havia iniciado o programa de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) --a primeira unidade começou a funcionar em dezembro daquele ano no morro Santa Marta, em Botafogo, na zona sul.

Por conta do recrudescimento da violência, com aumento de homicídios dolosos, autos de resistência e crimes contra o patrimônio, o governo antecipou o plano especial de segurança da Copa e suspendeu a segunda folga semanal de 2.000 policiais militares.

O índice de criminalidade divulgado na sexta-feira mostrou que 1.459 pessoas foram assassinadas no primeiro trimestre de 2014 - próximo do número de 1.562 registrados em 2008. Em 2012, ano em que houve o menor índice de homicídios (4.030, no total), o primeiro trimestre teve 1.100 casos.




Violência em UPPs no Rio de Janeiro


27.mai.2013 - Policiais patrulham o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, um dia após tiroteio feito por traficantes antes da corrida Desafio da Paz. O tiroteio assustou os participantes e atrasou em uma hora a largada da corrida. O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, estava no local para participar do evento e declarou que o Estado não sairá do Complexo do Alemão, onde uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) foi instalada em 2012. 

A corrida Desafio da Paz é feita em um percurso de 5 quilômetros pela rota de fuga que foi usada por traficantes em 2010, durante a ocupação na região Leia mais Antonio Scorza/UOL
 

Depois das UPPs, índices de ocorrências vinham mostrando declínio. Houve 358 autos de resistência (morte em confronto com a polícia) registrados no primeiro trimestre de 2008. Esse número caiu para 111 em 2012 e 96 em 2013. Em 2014, voltou a subir - está em 153. Os roubos de veículos haviam caído de 7.359 nos três primeiros meses de 2008, para 5.598 em 2012. No primeiro trimestre deste ano, ultrapassou a marca pré-UPP - foram registrados 9.209.

Os roubos de rua (índice que reúne número de assaltos a transeuntes, roubos de celular e em transporte público) também voltaram a subir. Houve 20.648 casos de janeiro a março de 2008. Em 2012, houve 15.422 casos no período. Este ano, foram registrados 23.675.

"Essa ideia que se espalhou de que há migração do crime está fazendo sentido. Há mudança de padrão da criminalidade na Baixada Fluminense e outras áreas da região metropolitana do Rio, como Niterói e São Gonçalo, não só com aumento da criminalidade, mas com pessoas que passaram a circular armadas. Há uma rearrumação do mundo do crime. 

E as políticas de segurança foram lentas para responder a isso", afirmou a cientista política Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes.





Comunidades com UPPs no Rio de Janeiro


26.mai.2012 - Policiais da UPP do morro dos Macacos realizaram o sonho do casamento em uma cerimônia coletiva. A cerimônia com 12 casais foi organizada pela comunidade do bairro da Tijuca, zona norte do Rio. 

Lançado no final de 2008, o programa das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) tem evoluído a passos lentos no Rio, com as facções criminosas respondendo à ação da polícia. Mortes de policiais em áreas pacificadas parecem mostrar que o domínio dos territórios ainda não está definido Daniel Ramalho/UOL

"O que estamos vendo é um momento de crise da política de segurança, e essa crise vem vindo desde 2013", afirmou. "Chegamos a um momento ótimo em 2012, com redução dos homicídios. Mas isso não se sustentou. A política das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não tem sido mais suficiente para segurar os índices de redução de crimes contra a vida."

Os dados referentes à atividade policial, comparando-se os primeiros trimestres de 2008 e 2014, mostram que a produtividade vem crescendo. Os registros de apreensão de drogas cresceram 211% (a quantidade não é divulgada), recuperação de veículos teve aumento de 25% e cumprimentos de mandados de prisão subiram 60%. Já o número de registros de armas apreendidas caiu 11%.

O Estado tem 38 unidades de polícia pacificadora, que abrangem mais de 250 favelas e 1,5 milhão de pessoas. O governador Luiz Fernando Pezão disse, na sexta-feira, que não haverá mudança no programa de pacificação. 

Já o secretário José Mariano Beltrame ressaltou que os dados são referentes aos primeiros meses do ano. "Não dá para avaliar em cima de dois meses. Olhem o histórico que eu acho que o saldo é muito positivo", afirmou.

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