Enviado por Ricardo Noblat -
26.6.2014
A infidelidade partidária, tendo como pano de fundo o toma lá dá cá fisiológico, se firmou como uma das marcas registradas da política brasileira. Mas as alianças com vistas às eleições deste ano prometem atingir níveis ainda mais baixos de descompromisso com projetos efetivos de governo e poder, até mesmo em termos de cinismo com o eleitor.
O que aconteceu nos últimos dias no Rio de Janeiro, tachado com propriedade de orgia política, espelha bem o estilhaçamento do quadro partidário do país, diante de um eleitorado sem entender como adversários históricos, com desavenças que resvalaram para o plano pessoal, aparecem aos abraços para constituir palanques regionais que nada têm a ver com entendimentos nacionais. Ou vice-versa.
A adesão do ex-prefeito Cesar Maia (DEM) à chapa “Aezão”, nome fantasia criado para designar a aliança de boa parte do PMDB ao PSDB, no apoio à candidatura a presidente de Aécio Neves em dobradinha com a campanha do vice-governador Luiz Fernando Pezão ao Palácio Guanabara, significa colocar a política fluminense de cabeça para baixo.
Significa dizer para o eleitorado que todo tiroteio entre Cesar Maia, Sérgio Cabral, Pezão e respectivos liderados era de mentirinha, deve ser esquecido. Tudo é muito ruim para a democracia representativa.
A deflagradora da barafunda foi a adesão do PSB, do candidato a presidente Eduardo Campos, ao PT de sua adversária Dilma Rousseff, na aproximação dos partidos para sustentar a candidatura em perigo do senador petista Lindbergh Farias ao governo do estado.
Em resposta, o DEM foi convidado a lugar de destaque no “Aezão”. Isso estimulou o prefeito Eduardo Paes, adversário (ainda) de Cesar Maia, de quem foi pupilo, a fundar o “Dilmão”, para apoiar Dilma, sem sair do palanque de Pezão. No troca-troca, Maia ganhou vaga na chapa de Pezão para disputar o Senado.
Na prática, desmonta-se no estado e na cidade do Rio de Janeiro uma aliança, cantada em prosa e verso nos últimos anos por Sérgio Cabral, Paes, Dilma e Lula, entre PMDB e PT, entendida como a que viabilizou uma série de investimentos na região metropolitana carioca, enfim beneficiada — era dito com insistência — pelo raro entendimento político entre estado, município e Executivo federal.
As causas desta e outras orgias que transcorrem pelo país, em ritmo frenético na contagem regressiva do prazo para a realização de convenções partidárias, são várias.
Há desde a perspectiva de o poder mudar de donos em 2015, no Planalto, fator de excitação de políticos, a raízes históricas e culturais, bem como graves falhas na legislação político-eleitoral. Além do anabolizante das mazelas constituído pelas práticas petistas do fisiologismo.
Espera-se que no ano que vem, enfim, o Palácio, com ou sem Dilma, leve a sério a imperiosa necessidade de uma reforma política efetiva. Mas sem bravatas, voluntarismos, assembleias constituintes e golpismos do tipo.
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