quarta-feira, 2 de julho de 2014

Moradores temem que Força Nacional deixe morro no Rio após a Copa


Marcelo Carnaval/Agência O Globo



Maria Luísa de Melo
Do UOL, no Rio




Força Nacional completa dois anos no Morro Santo Amaro, no Rio



A presença de 150 homens da Força Nacional de Segurança Pública patrulhando o Morro Santo Amaro, no Catete (zona sul do Rio de Janeiro), já dura mais de dois anos e conta com apoio da população local, que teme que os agentes deixem a comunidade depois da Copa do Mundo Marco Antônio Cavalcanti/UOL
A presença de 150 homens da Força Nacional de Segurança Pública patrulhando o Morro Santo Amaro, no Catete (zona sul do Rio de Janeiro), já dura mais de dois anos e conta com apoio da população local, que teme que os agentes deixem a comunidade depois da Copa do Mundo. O medo dos moradores é que usuários de crack voltem a ocupar becos e lajes da favela, e traficantes voltem a agir livremente.

Desde maio de 2012 a Força Nacional de Segurança Pública apoia o governo fluminense na chamada Operação Pacificadora 2, que integra o programa "Crack, é Possível Vencer", do governo federal, para combater a venda da droga.

Ao longo desses dois anos de ocupação, quatro acordos de cooperação foram assinados entre o governo do Rio de Janeiro e o Ministério da Justiça, cada um de 180 dias. O último, firmado em janeiro deste ano, expira no dia 16 de julho, três dias depois da final da Copa do Mundo.

Apesar de o Ministério da Justiça informar que o governo do Rio de Janeiro já manifestou interesse em prorrogar a permanência da tropa na cidade, o pedido formal não chegou a ser feito ao governo federal.




Força Nacional faz mutirão para pintar casas em favela no Rio

26.dez.2013 - Mutirão formado por 120 homens da Força Nacional de Segurança começa a pintar as casas da favela Santo Amaro, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro. A favela já foi um forte ponto de venda de crack. Segundo o secretário municipal de Governo, Rodrigo Bethlem, o objetivo é melhorar a autoestima dos moradores Leia mais Ale Silva/Futura Press/Estadão Conteúdo
Para a dona de casa Severina Manoel da Silva, que vive no Santo Amaro há 34 anos, o melhor da ocupação está sendo poder torcer pelo Brasil livre de tiros pro alto, como aconteceu no último Mundial, em 2010, antes da chegada dos agentes.

"Ouvimos boatos de que depois da Copa vai acabar a ocupação no Santo Amaro. Mas ninguém sabe se é verdade ou não. Espero que realmente não passe de um boato", afirmou.

Nascida na comunidade, a cabelereira Cristiane Bernardino, 42, decidiu deixar o morro em 2010, dois anos antes da ocupação. Diante da convivência com dezenas de usuários de crack na porta de casa, ela mudou-se para Realengo, na zona oeste da cidade. 

Só voltou depois que amigos lhe contaram sobre mudanças na favela. 

"Antes da Força Nacional chegar, era tiroteio direto e usuários de crack espalhados para tudo quanto era lado. Hoje em dia, não. As crianças ficam à vontade até qualquer hora do dia ou da noite", disse. "Tenho vários amigos que moram em outras comunidades em que há Unidades de Polícia Pacificadora e, pelo que me contam, percebo uma grande diferença. 

Os policiais daqui são mais respeitadores, não são truculentos.  Temos medo de que a ocupação acabe e tudo volte ao que era antes." 

A demora no pedido de prorrogação, segundo o tenente coronel Claudimir Binsfeld, comandante de uma das companhias que atua no Santo Amaro, é normal. 

"Geralmente, estes acordos são assinados já nos últimos dias vigentes do acordo anterior. Não há com o que se preocupar", afirmou. 

Não há prazo máximo para ocupações da Força Nacional de Segurança. O maior tempo de ocupação da tropa, fundada em 2004, foi a Operação Defesa da Vida, em Roraima, que durou seis anos e dois meses.

A laje antes destinada ao consumo de crack, conhecida como "Caixa D'Água" por contar com um reservatório, agora é local de encontro de crianças.  Cristiano Bráz da Silva, 32, é um dos que traz o filho para brincar na praça improvisada.

"Antes as crianças ficavam mais limitadas, porque a polícia podia fazer operações a qualquer horário do dia. Hoje não é mais assim. Há uma sensação maior de segurança dentro da favela", disse. 

Na ocasião da ocupação, diante de grande concentração de usuários de crack na comunidade, foi prometido que um centro de reabilitação para dependentes químicos seria erguido no Santo Amaro. No entanto, passados mais de dois anos, a unidade não foi construída.

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a rede de saúde mental do Rio conta com dois centros de tratamento de dependentes químicos na zona sul, "não havendo necessidade" de uma nova unidade. A SMS informou que as unidades do Instituto Philippe Pinel e Centra-Rio terão capacidade de atendimento ampliada. 

Para o presidente da associação de moradores do Santo Amaro, Cassiano Silva, o centro de reabilitação não está fazendo falta depois da dispersão dos usuários de crack. "Os viciados sumiram, porque não eram moradores daqui. Não há porque ter um centro de tratamento se não vamos ter demanda. Vai ficar às moscas", diz. 

A apreensão de drogas na comunidade também tem sido pouco expressiva, segundo agentes da Força Nacional. "Há um ano, quando cheguei aqui, tinha muito mais drogas por aí. 

Hoje em dia é capaz de apreendermos só meia dúzia de cigarros de maconha durante uma semana", conta o cabo Guarley Durães, o policial mais antigo na ação.  

Ainda de acordo com ele, as denúncias que mais chegam dão conta de som alto que incomoda a vizinhança e agressão a mulheres. Em todo o ano passado, a 9ª DP, onde são registrados crimes cometidos no Catete e em bairros vizinhos, recebeu 95 ocorrências de apreensão de drogas. Já nos primeiros cinco meses deste ano foram 114 ocorrências deste tipo.




Violência no Rio de Janeiro em 2014


Nascida na comunidade, a cabelereira Cristiane Bernardino, 42, decidiu deixar o Morro Santo Amaro, na zona sul do Rio de Janeiro, em 2010, dois anos antes da ocupação da Força Nacional, e voltou depois que amigos lhe contaram sobre mudanças na favela Marco Antônio Cavalcanti/UOL

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