quarta-feira, 4 de junho de 2014

A Embrapa e a fome eleitoral


Bartolomeu Rodrigues 


Publicado: 3 de junho de 2014 às 17:33 -Diário do Poder


E a Embrapa? Até onde o leitor vem acompanhando os desdobramentos de um possível esfacelamento de sua unidade de pesquisas do cerrado, aqui ao lado de Brasília?

Este fato encerra outra grande preocupação que não se circunscreve à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária: o aparelhamento político de áreas federais até então preservadas, ou vacinadas, contra esse tipo de contágio. 


O eloquente silêncio da cúpula da Embrapa, de tão ensurdecedor, torna-se revelador.


A Embrapa Cerrados pode ter de ceder uma área considerável de seu campo de pesquisa em Planaltina ao programa Minha Casa Minha Vida, alguma coisa onde caibam 4 mil unidades habitacionais.  


Não vai resolver o problema do déficit habitacional do Distrito Federal, mas pode matar um bocado da fome por votos.


Centros de pesquisas agrícolas ocupam áreas distantes de aglomerados populacionais justamente para permitir que os estudos se desenvolvam dentro de certos rigores necessários, com um mínimo de interferência. É assim em todo o mundo. 


É inconcebível, ingênuo até, pensar que uma simples placa de advertência ou uma cerca de arame irão evitar visitas inoportunas na calada da noite, quem sabe mandando para o brejo anos e anos de trabalho de observação.


Falar da importância dessas pesquisas e as consequências práticas em variedades de grãos, leguminosas e outras fontes de alimento, além da preservação de espécies nativas exclusivas da região, requer um espaço muito, mas muito maior. 

O cerrado brasileiro é um dos biomas mais importantes do planeta, tragicamente envolvido num cenário de calamidade desde a década de 1970. 


Entre 2002 e 2008, o desmatamento foi o dobro do ocorrido na floresta amazônica, representando a supressão vegetal de 127,5 mil quilômetros quadrados em seis anos, ou 21 mil quilômetros quadrados por ano. 


Trata-se de uma questão estratégica olhar para a região com uma boa dose de cautela.


Entretanto, que fazer quando o governo escolhe, entre a fome de pesquisa e o apetite eleitoreiro, saciar este último?

Numa reportagem ao jornal O Globo, o subsecretário de Regularização Fundiária do DF, Paulo Valério, declarou que a Embrapa ocupa irregularmente aquele terreno. É uma terra urbana, disse ele, “com vocação urbana”. 


Disse mais: Embrapa já foi notificada e as obras devem começar em agosto.

Teremos eleições em outubro, certo?
Bartolomeu Rodrigues é jornalista em Brasília.

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