“Os que crêem que a culpa de nossos
males está em nossas estrelas e não em nós mesmos ficam perdidos quando
as nuvens encobrem o céu.” (Roberto Campos)
O ex-presidente Lula, a presidente Dilma e
o ministro Mantega acertaram o compasso e fizeram coro na narrativa: o
resultado medíocre da economia é responsabilidade do “mau humor” dos
brasileiros, em especial dos empresários. Em suma, tudo culpa das
estrelas!
O discurso oficial, que agride a lógica e ofende nossa inteligência, foi endossado por Zuenir Ventura em sua coluna
de hoje no GLOBO. Ele busca em Domenico de Masi apoio para defender o
modelo brasileiro, que estaria na vanguarda mundial do “ócio criativo”.
Diz ele:
Algumas
pessoas já perceberam que uma onda de mau humor nos atingiu. O sociólogo
italiano Domenico De Masi, admirador e estudioso do Brasil, aonde vem
com frequência, declarou em entrevista que o país está “deprimido”, e
sem motivo para isso, pois acha que poucas nações avançaram tanto nesses
últimos 30 anos. Ele acredita que podemos contribuir para a construção
de um modelo de vida universal, “baseado na miscigenação, na sabedoria,
na beleza e na harmonia”. E, eu acrescentaria, na vocação para a
alegria.
Para Zuenir, estamos demonstrando um mau
humor sem sentido, reclamando de “tudo isso que está aí”, como se não
houvesse motivo para reclamar realmente de tudo. Somos masoquistas, diz o
intelectual. A Copa é só o pretexto do momento. Não fosse isso,
estaríamos nos queixando de qualquer outra coisa “insignificante”, só
pelo prazer de reclamar.
O que Lula, Dilma, Mantega e Zuenir
Ventura parecem ignorar é que o mau humor não vem do nada, não surge do
além, não é ocasionado pelo alinhamento errado das estrelas ou por falta
de lítio em nossos cérebros. Normalmente, como é o caso hoje, ele tem
fundamento, encontra respaldo nos fatos, na dura e lamentável realidade.
Os governantes e intelectuais não
conseguem imaginar razões para tanto mau humor?
Que tal o caos urbano,
com engarrafamentos cada vez mais caóticos? Que tal a violência, já que o
Brasil, com menos de 3% do total da população mundial, concentra 10%
dos homicídios do planeta? Que tal a corrupção escancarada do governo,
que toma as páginas dos jornais diariamente?
Não basta? Que tal, então, o resultado patético da economia, sem crescimento e com alta inflação? Alexandre Schwartsman, em sua coluna da Folha hoje, fala do “pibículo”, diminutivo adequado de PIB, pois rima com ridículo. Diz ele:
Tudo indica
que nos encaminhamos para um número mais perto de 1% do que 1,5% em
2014. Se confirmado, o crescimento médio do PIB no governo Dilma ficaria
em 1,8% ao ano, o pior desempenho desde a estabilização da economia.
Eis o
resultado da “nova matriz econômica”, anunciada com fanfarra há alguns
anos, e hoje pouco defendida, seja pelo governo, seja pelos nossos
“keynesianos de quermesse”: crescimento medíocre, inflação em alta,
desequilíbrio externo, queda do investimento e desarrumação geral da
economia.
Não seriam bons motivos para tanto mau humor? No mesmo jornal, Vinicius Torres Freire fala
do mau humor também, mas não acha graça alguma na piada do governo, de
que a fraqueza da economia tem ligação com o estado de espírito dos
empresários, em vez de ser o contrário. O PT adora trocar a causalidade
das coisas. Diz ele:
Mas de onde
vem o mau humor? De uma epidemia de enxaqueca? Do clima seco? De um
surto de alheamento da realidade, que levou consumidores e empresários a
enxergar arame farpado em ovo, dado que estaria tudo bem no país?
[...]
No mais, o
argumento do governismo é oportunista e “ad hoc”, como de costume. O
país cresceria a 6% ou 4%, era a história do governo até 2013. Não
cresceu. A culpa era da crise mundial, que no entanto está aí desde
2008. Antes de o crescimento minguar sistematicamente, era o governo que
ignorava os efeitos da crise.
Agora, o
governo atribui o crescimento parco e minguante deste ano ao mau humor
dos “empresários”, a quem no mais o governo tratou muito bem com muitos
subsídios e empréstimos a juros de pai para filho.
Essa
conversa fiada evidencia um equívoco constrangedor e primário a respeito
do funcionamento da economia e uma desconversa descarada sobre as
condições econômicas do Brasil nos últimos três anos.
Primeiro, o governo acredita que a economia é movida à base de cenoura e porrete, de agrados e castigos ao “empresariado”.
Sinais de
preços, custos, expectativas de lucros ou outros incentivos,
previsibilidade de médio prazo ao menos, que no fundo influenciam a
massa de decisões da economia, não parecem relevantes. O negócio é
administrar a demanda e rendas na conversa com, digamos caricatamente, o
“comitê da burguesia”.
Quem liga para os fundamentos, não é
mesmo? O mais preocupante é que o PT parece crer mesmo que tudo depende
do “estado de espírito” dos agentes econômicos, de suas expectativas, e
não de sólidos fundamentos econômicos que amparam as suas previsões. É o
rabo que balança o cachorro!
Não é à toa que os petistas se tornaram
mestres em bravatas, discursos, narrativas: tentam apenas administrar
crenças e expectativas, já que são totalmente incapazes de administrar o
país, a economia. Mas não dá para enganar todos o tempo todo, para
levar apenas no “gogó”. Um dia a máscara cai, e os fundamentos ruins
começam a pesar.
Ao que tudo indica, chegou esse momento.
Atônitos, os petistas olham para as estrelas atrás de culpados, enquanto
deveriam buscá-los diante de um espelho.
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