Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Arnaldo Jabor
As fotos do Maluf abraçado no Alexandre Padilha merecem uma análise semiológica. Nelas podemos ver o belo e dramático constrangimento do petista superando as agruras da dignidade pequeno-burguesa para ter mais um minuto na TV. Quão pragmático, quão tarefeiro, quão obediente o Padilha, cumprindo a estratégia do PT!...
O partido não anuncia programas para S. Paulo. Mas, para vencer, precisam de um bonde. Um bonde chamado Maluf. A antiga foto dele com Lula já foi absorvida, mas essa foto com Padilha não chocou tanto; já nos habituamos.
Nas fotos, Padilha faz um grande esforço para não sorrir, como se dissesse: “Estou cumprindo ordens!”. Enquanto isso, Maluf se diverte ao afagá-lo com carinho, tentando amolecê-lo, fazendo-lhe cócegas e com tapinhas amigos, orlados de vingança, como se dissesse: “Calma, Padilhão, a vida é assim mesmo...”.
O que fascina em Maluf é ver como ele goza, como se orgulha de estar solto, livre, acima de todas as provas que surgiram, um prazer perverso de se sentir um intocável útil. Maluf não tem um resquício de culpa; ele adora sua fama de mau. Virou um aliado indispensável ao descalabro que está se gestando: reeleição de Dilma, Lula em 18 e depois o infinito.
O rosto feliz de Maluf: “Eles me desprezam, mas vêm a mim. Eles não têm a liberdade que conquistei em anos de negações absolutas que me trouxeram a impunidade e a irresponsabilidade — privilégios raros. Eu sou livre!”.
Nas fotos vemos que Maluf está simpático, Padilha é
antipático; fica falso quando tenta a simpatia. Mas, não é a antipatia de
rancor ou inveja; é a seriedade de quem tem uma missão política a cumprir
(qual?). O petista de carteirinha sente um certo orgulho por sua “realpolitik”
mesmo desonesta. Moralismo é coisa de pequeno burguês da UDN.
O gênio Rui Falcão cunhou a frase fatal: “Isto é uma aliança de princípios!”. Pronto, Maluf pode dizer, como já disse: “Perto do Lula eu é que sou comunista!”. E perto de Maluf, os petistas são o quê? Quais são os princípios comuns aos dois? Ambos usam quaisquer maracutaias para vencer? Ambos sabem negar tudo até o fim? Ambos têm desprezo pela moral de classe média que condena roubalheiras? Criticando os tucanos, Padilha disse que o PCC manda em S. Paulo. Como explicar então os petistas envolvidos com doleiros e a facção criminosa, via Vargas e Luiz Moura? Será mais uma aliança “necessária”?
Maluf não tem missão nenhuma — só curte sua liberdade. Maluf declarou gostosamente: “Lula é o maior estadista do país!”, lembrando sua ausência na foto. Lula não está na foto, mas sua presença está ali: é um pai carismático que todos obedecem, é uma versão simplificada de todas as ideologias daqueles que se dizem de “esquerda”.
Seus seguidores dizem que a política nos obriga a sujar as mãos. Tudo bem; mas, no caso, um pôs a mão no outro. Quem é o sujo? Os dois?
Maluf já foi julgado em vão e é procurado pela Interpol; se pisar em Paris, cana. Os petistas têm negócios internacionais sujos (Pasadena, etc.) mas nunca serão julgados, principalmente agora que o Barbosão saiu, aquele que eles chamam de “monstro” e de “negro pernóstico”. Aliás, perto do escândalo da refinaria Abreu e Lima, Pasadena é um troco — de US$ 2 bilhões orçados, vai custar mais de US$ 20 bilhões.
Maluf acha que Dilma vai ganhar e a apoia porque ela (sacaneou ele) “terá mais propaganda do que as Casas Bahia, a Petrobras e a Caixa”, como se ela fosse um produto de varejo. Talvez ela seja.
Maluf disse que o PT era uma nuvem de gafanhotos e Lula disse que Maluf era uma ave de rapina. Pois a ave e os gafanhotos se perdoaram mutuamente. Maluf parece dizer a Padilha: “Eu sou você amanhã”. Padilha tenta escapar com seu “não sorriso”: “Eu não sou você hoje”. Mas é.
É uma aliança entre corrupção privada e pública. Maluf só pensou em si, privado. O PT criou a “corrupção revolucionária”, “pública” — tascar a grana do povo para o “bem” do povo.
Essas fotografias são os indícios do que vem por aí, com a vitória de Dilma, já que seus eleitores mais pobres (grande maioria) não têm ideia do que está acontecendo no Brasil.
Os sinais estão no ar. Será o fim do constrangimento autoritário, será o fim das luvas de pelica, o fim das meias palavras, o fim das envergonhadas “defesas” da democracia “burguesa”, será a crescente bolivarianização da nossa vida. Será o ataque imediato da liberdade de expressão e da mídia a ser “regulada” do jeito de Kirschner ou Maduro. O Lula tem repetido diuturnamente que “a imprensa é a pior forma de oposição” e disse que vai se vingar das denúncias e verdades que publicamos. Lula é um Maluf sindicalista que subiu na vida.
E mais: o caráter brizolista de Dilma virá à tona. Ela pensa igual a seu antigo chefe, que ela largou para se filiar ao PT, mas continuou fiel às suas ideias — as mais atrapalhadas bobagens que ele teceu com cartilhas socialistas.
Escreveu Rodrigo Constantino outro dia:
“Se Brizola já se foi, o brizolismo continua vivo. Infelizmente. Seus filhotes políticos governaram o Rio por muitos anos. Um dos principais ícones mais recentes deste brizolismo é Anthony Garotinho. Sua marca é a demagogia elevada, a retórica de luta de classes, o nacionalismo xenófobo, e a idolatria do Estado como único meio para os fins nobres. A simbiose entre governo e máfias sindicais tem sido outra marca do brizolismo também.
Brizola sempre foi uma das mais virulentas vozes contrárias ao processo de desestatização. Em abril de 1997, chegou a escrever no “Jornal do Commercio”: “A privatização da Vale é um ato insano e injustificável; eu desconfio da inteireza mental do presidente Fernando Henrique”. O discurso de Brizola contra o suposto “entreguismo” sempre foi carregado de xenofobia, como se o comércio mundial fosse apenas uma batalha de estrangeiros contra brasileiros.
Em suma, como mostram as fotografias, estávamos prontos para levantar voo, quando o mais burro regressismo tomou conta do governo. A frase que mais ouço hoje em dia, travada de impotência, é: “Nunca vi o país assim...”.
O gênio Rui Falcão cunhou a frase fatal: “Isto é uma aliança de princípios!”. Pronto, Maluf pode dizer, como já disse: “Perto do Lula eu é que sou comunista!”. E perto de Maluf, os petistas são o quê? Quais são os princípios comuns aos dois? Ambos usam quaisquer maracutaias para vencer? Ambos sabem negar tudo até o fim? Ambos têm desprezo pela moral de classe média que condena roubalheiras? Criticando os tucanos, Padilha disse que o PCC manda em S. Paulo. Como explicar então os petistas envolvidos com doleiros e a facção criminosa, via Vargas e Luiz Moura? Será mais uma aliança “necessária”?
Maluf não tem missão nenhuma — só curte sua liberdade. Maluf declarou gostosamente: “Lula é o maior estadista do país!”, lembrando sua ausência na foto. Lula não está na foto, mas sua presença está ali: é um pai carismático que todos obedecem, é uma versão simplificada de todas as ideologias daqueles que se dizem de “esquerda”.
Seus seguidores dizem que a política nos obriga a sujar as mãos. Tudo bem; mas, no caso, um pôs a mão no outro. Quem é o sujo? Os dois?
Maluf já foi julgado em vão e é procurado pela Interpol; se pisar em Paris, cana. Os petistas têm negócios internacionais sujos (Pasadena, etc.) mas nunca serão julgados, principalmente agora que o Barbosão saiu, aquele que eles chamam de “monstro” e de “negro pernóstico”. Aliás, perto do escândalo da refinaria Abreu e Lima, Pasadena é um troco — de US$ 2 bilhões orçados, vai custar mais de US$ 20 bilhões.
Maluf acha que Dilma vai ganhar e a apoia porque ela (sacaneou ele) “terá mais propaganda do que as Casas Bahia, a Petrobras e a Caixa”, como se ela fosse um produto de varejo. Talvez ela seja.
Maluf disse que o PT era uma nuvem de gafanhotos e Lula disse que Maluf era uma ave de rapina. Pois a ave e os gafanhotos se perdoaram mutuamente. Maluf parece dizer a Padilha: “Eu sou você amanhã”. Padilha tenta escapar com seu “não sorriso”: “Eu não sou você hoje”. Mas é.
É uma aliança entre corrupção privada e pública. Maluf só pensou em si, privado. O PT criou a “corrupção revolucionária”, “pública” — tascar a grana do povo para o “bem” do povo.
Essas fotografias são os indícios do que vem por aí, com a vitória de Dilma, já que seus eleitores mais pobres (grande maioria) não têm ideia do que está acontecendo no Brasil.
Os sinais estão no ar. Será o fim do constrangimento autoritário, será o fim das luvas de pelica, o fim das meias palavras, o fim das envergonhadas “defesas” da democracia “burguesa”, será a crescente bolivarianização da nossa vida. Será o ataque imediato da liberdade de expressão e da mídia a ser “regulada” do jeito de Kirschner ou Maduro. O Lula tem repetido diuturnamente que “a imprensa é a pior forma de oposição” e disse que vai se vingar das denúncias e verdades que publicamos. Lula é um Maluf sindicalista que subiu na vida.
E mais: o caráter brizolista de Dilma virá à tona. Ela pensa igual a seu antigo chefe, que ela largou para se filiar ao PT, mas continuou fiel às suas ideias — as mais atrapalhadas bobagens que ele teceu com cartilhas socialistas.
Escreveu Rodrigo Constantino outro dia:
“Se Brizola já se foi, o brizolismo continua vivo. Infelizmente. Seus filhotes políticos governaram o Rio por muitos anos. Um dos principais ícones mais recentes deste brizolismo é Anthony Garotinho. Sua marca é a demagogia elevada, a retórica de luta de classes, o nacionalismo xenófobo, e a idolatria do Estado como único meio para os fins nobres. A simbiose entre governo e máfias sindicais tem sido outra marca do brizolismo também.
Brizola sempre foi uma das mais virulentas vozes contrárias ao processo de desestatização. Em abril de 1997, chegou a escrever no “Jornal do Commercio”: “A privatização da Vale é um ato insano e injustificável; eu desconfio da inteireza mental do presidente Fernando Henrique”. O discurso de Brizola contra o suposto “entreguismo” sempre foi carregado de xenofobia, como se o comércio mundial fosse apenas uma batalha de estrangeiros contra brasileiros.
Em suma, como mostram as fotografias, estávamos prontos para levantar voo, quando o mais burro regressismo tomou conta do governo. A frase que mais ouço hoje em dia, travada de impotência, é: “Nunca vi o país assim...”.
Arnaldo Jabor é Cineasta e Jornalista.
Originalmente publicado em o Globo e Estadão em 3 de junho de 2014.
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