Muitos já sabem da tal “lista negra” que o
vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, publicou no site oficial do
partido, com o nome de nove colunistas ou formadores de opinião que
seriam “inimigos da pátria”.
O que mais choca nesse episódio nem é a
atitude do PT, esperada para quem não é alienado e não hibernou no
Alasca nos últimos 12 anos.
O mais impressionante é o ensurdecedor
silêncio da imprensa.
Algo desta feita era para despertar
reação firme de todos os principais defensores da liberdade de imprensa
no país.
Era para ser tema de editoriais, para ter uma notícia estampada
na primeira página, chamando a atenção de todos os leitores para a
absurda tentativa de intimidar críticos do governo.
Mas não tivemos nada
disso. Tivemos um conivente silêncio. O descalabro foi simplesmente
ignorado, como se não fosse notícia relevante.
Reinaldo Azevedo, um dos citados na lista do PT, usou sua coluna
de hoje na Folha para fazer seu alerta, chamando as coisas por seus
nomes. O paralelo é evidente: estamos diante de uma prática autoritária,
típica de regimes que jamais toleraram as divergências democráticas. Os
nazistas agiram da mesma forma:
É calúnia e difamação, mas isso é para o tribunal. Falas como a do sr. Cantalice têm história. Fiz uma tradução do discurso
proferido por Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois
de Hitler ter assumido o cargo de chanceler. Seu alvo era a “imprensa
judaica”, que acusava de “ameaçar o movimento Nacional-Socialista”.
Advertiu: “Um dia nossa paciência vai acabar, e calaremos esses judeus
insolentes, bocas mentirosas!” Cumpriu a ameaça.
À lista de
Cantalice seguiu-se um previsível silêncio na própria imprensa –vai ver
somos mesmo os “judeus insolentes” da hora. Mais uma advertência de
Goebbels para quem está aliviado por ter sido poupado: “E, se outros
jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado com as
suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: ‘Por favor, não se
deem ao trabalho!’”.
Pronto! Já escrevi o que queria, menos uma coisa: “Goebbels, vai tomate cru!”.
Os jornalistas acovardados que tentam se
esconder, se calar ou simular uma “imparcialidade” e um “neutralismo”
para não entrar para a lista do PT agem como todos aqueles que fizeram
vista grossa ao avanço nazista, na esperança de que não fossem alvos da
horda dos bárbaros. Preciso mesmo lembrar que não funcionou?
Fecho com a célebre passagem do pastor alemão Martin Niemoller:
“Quando os nazistas levaram os
comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista. Quando
eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque, afinal, eu
não era social-democrata. Quando eles levaram os sindicalistas, eu não
protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista. Quando levaram os
judeus, eu não protestei, porque, afinal, eu não era judeu. Quando eles
me levaram, não havia mais quem protestasse.”
Há, também, caso a mensagem por algum
incrível motivo não tenha ficado clara o suficiente, o poema de Eduardo
Alves da Costa, “No Caminho, com Maiakóvski”, que diz:
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Em regimes autoritários que incitam a
perseguição aos “inimigos”, o mais perigoso nem sempre é o próprio
governante. Pode ser o vizinho rancoroso, o rapaz ressentido ao lado, o
fracassado invejoso, o jovem “revolucionário” imbuído do fanatismo
ideológico, o soldado da seita, o vândalo mascarado em busca de um
pretexto para extravasar toda a sua fúria e rebeldia, seu niilismo e seu
ódio. Eis aí o ovo da serpente…
Rodrigo Constantino
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