sexta-feira, 20 de junho de 2014

Segurança falha na Copa - Um míssil no telhado - segurança da Copa se prepara para o impossível e esquece o possível

BLOG PRONTIDÃO




O Exército Brasileiro instala uma bateria de projéteis terra-ar em um edifício domiciliar a 200 metros do Maracanã para proteger o estádio de qualquer ameaça aérea

A segurança no Brasil é três vezes maior que a da Copa de 2010

Carlos G., engenheiro carioca de 51 anos, embarcou em um avião para Londres com sua família no dia em que começou a Copa. Morador do bairro do Maracanã, decidiu organizar suas férias anuais "para escapar das multidões, dos incômodos, do trânsito...”. 


Seu caso é bastante particular: no telhado do edifício de 12 andares, onde vive com sua mulher e sua filha de 16 anos, a 200 metros do estádio, o Exército brasileiro colocou uma bateria de mísseis terra-ar para proteger o recinto de qualquer ameaça aérea.

“Vieram alguns soldados e nos explicaram que a instalação não acarretava nenhum risco...”, explica dando de ombros: “Pode imaginar o efeito que causa na minha mulher”. 


 A medida, por mais surpreendente que pareça, está incluída no exaustivo plano de segurança colocado em prática pelo Governo brasileiro na Copa das Copas, cuja “prioridade fundamental", como afirmou o chefe do Estado Maior da Forças Armadas Brasileiras, José Carlos de Nardi, “é manter a segurança nos estádios”.


 



Soldados do Exército escoltando a equipe inglesa no Rio. / B. S. (AFP)
 
Perto de completar a primeira semana de competição, as autoridades brasileiras mantêm um discreto otimismo sobre a evolução dos protestos que há um ano marcam o dia-a-dia do país. 



As manifestações contra os gastos feitos em estádios, o precário estado de escolas e hospitais e a corrupção crônica, foram paulatinamente minguando de tamanho. Para isso, contribuiu o acordo provisório feito entre o Governo de Dilma Rousseff e o Movimento dos Sem Teto para que este abandonasse parte de sua agenda de mobilizações em troca de ter atendidas algumas de suas reivindicações. 


 
Porém mais efetivos parecem ser os cordões de isolamento estabelecidos pela polícia a dois quilômetros de cada estádio para impedir que os protestos (que existem, todos os dias) consigam chegar aos locais das partidas. Ainda sem grandes incidentes, os agentes brasileiros fizeram uso de sua proverbial violência. 


Na tarde de domingo, logo antes de Argentina e Bósnia, dois agentes foram flagrados por um jornalista da Associated Press utilizando munição real para repelir o avanço de 300 ativistas armados com coquetéis molotov que tentavam chegar no Maracanã e tinham destruído as agências de vários bancos. 


[a polícia está certíssima e mais ainda os dois agentes - os bandidos usavam coquetéis molotov (que possuem grande poder destruidor, inclusive capacidade de gerar grandes incêndios); ou será que os caras da AP querem que os policiais combatam bandidos sem usar armas?]  



A Polícia Militar do Rio assegurou nesta segunda-feira à noite que investiga o uso de armas pelos agentes, que também usaram gás lacrimogêneo e balas de borracha.
 


O tamanho das concentrações registradas, onde ultimamente existem mais agentes e jornalistas que manifestantes, contrasta com sua radicalização crescente e o endurecimento da repressão policial. 



Semelhante dureza não é nenhuma surpresa para qualquer habitante das 969 favelas do Rio, cuja política oficial de “pacificação” nos últimos anos se viu constantemente ofuscada por casos de torturas e homicídios policiais que, por sua vez, descambam em explosões de violência popular como o vivido dois meses atrás no bairro de Copacabana.  


“A diferença é que os manifestantes do último ano foram sobretudo de classe media”, afirma Roberto Kant de Lima, antropólogo da Universidade Fluminense do Rio, “e agora as pessoas começam a prestar atenção na brutalidade policial, que de repente parece inaceitável”.


 
A insegurança no Rio parece inexistente por estes dias na superprotegida e visitada zona sul, mas seu rastro é visível todos os dias para qualquer um que atravesse a fronteira do Rio mais turístico. 



Cerca de 100 pessoas acompanharam ontem o enterro de Lucas Farias Canuto, garoto de 13 anos morto durante um tiroteio entre policiais e traficantes na favela Cidade de Deus, a inspiradora do filme homônimo que em 2002 mostrou ao mundo a autêntica realidade das favelas cariocas. 


Também, o teleférico do Alemão, na Zona Norte da cidade, foi suspenso ontem por conta do tiroteio desencadeado entre facções rivais no local na noite de segunda.


 
Paola H. é outra das moradoras do imóvel escolhido pelo Exército para colocar sua bateria de mísseis no Maracanã. Conta que no domingo “se ouvia o rumor da multidão” no estádio e que já havia se acostumado a dormir com o armamento em cima de sua cabeça, guardado por soldados. Mas não parece contente. [a área referida se caracteriza por elevado índice de criminalidade; talvez a moradora Paola H., prefira o barulho dos disparos dos traficantes, mesmo moldes do que mataram o garoto Lucas.]


 

A segurança no Brasil é três vezes maior que a da Copa de 2010

Um total de 150.000 homens trabalharão para manter a paz nas doze cidades sedes da Copa do Mundo, incluindo agentes infiltrados nas torcidas dos estádios
 
Nunca uma festa esportiva teve tanta presença policial. As autoridades brasileiras, no momento de máxima exposição internacional do país, afirmam ter aproveitado a Copa do Mundo para integrar seus diferentes corpos de segurança e modernizar suas equipes de manutenção da ordem pública para impedir que os protestos ou qualquer outro incidente impeçam o funcionamento normal da Copa do Mundo.  


“Para nós, esta integração é o grande triunfo deste mundial”, afirmou na manhã de terça-feira o diretor da Secretaria Extraordinária para Grandes Eventos (SESGE), Andrei Rodrigues, na apresentação do plano de segurança nacional para o evento. 


Mais de 150.000 agentes trabalharão para manter a paz nas doze sedes do evento, três vezes mais do que o último Mundial da África do Sul, aonde foram mobilizados 53.000 pessoas.


 

“O grande objetivo é que não aconteça nada nos estádios”, enfatizou José Carlos Nardi, chefe do Estado Maior das Forças Armadas, no Forte de Copacabana, que confirmou a mobilização de doze batalhões de contingência prontos “para garantir a lei e a ordem” no caso de qualquer imprevisto grave forçar os governadores dos Estados a solicitar sua intervenção urgente para a presidenta da República, Dilma Rousseff. 


Além dos 70.000 soldados e 60.000 policiais dos diferentes corpos mobilizados no total, 20.000 agentes de segurança privada estarão presentes nos estádios, segundo a confirmação do Diretor Geral de Segurança do Comitê Organizador Local, Hilário Medeiros. O vice-diretor da Agência Brasileira de Inteligência, Ronaldo Belham, anunciou também que a FIFA reservou um número indeterminado de ingressos de cada um dos 64 jogos para agentes infiltrados no público, que informarão “qualquer ocorrência” antes, durante e depois das partidas.

A operação militar inclui também a presença (visível há alguns dias) de uma fragata, uma corveta e vários barcos auxiliares nas quatro cidades marítimas que abrigarão partidas: Fortaleza, Natal, Salvador e Rio de Janeiro. Além da proteção dos estádios e suas imediações (a grande preocupação do responsável maior do Exército), os soldados têm encomendada a proteção de 170 “infraestruturas críticas” para o funcionamento correto dos recintos esportivos, entre elas, subestações elétrica e centros de telecomunicações. 


Como se não bastasse, está prevista a instalação de baterias de mísseis antiaéreos nas imediações de alguns estádios, entre eles o mítico Maracanã, como aconteceu nos Jogos Olímpicos de Londres. As autoridades confirmaram que o orçamento para aquisição de armamento e mobilização das diferentes forças se aproxima dos 2 bilhões de reais (660 milhões de euros), que ficará como “legado para o país”, uma vez finalizada a “Copa das Copas”.

Nesta terça a seleção inglesa atravessou a praia de Copacabana com um dispositivo que incluía um blindado militar, em uma imagem que se repetirá numerosas vezes com diversas seleções durante o torneio. O vice-diretor de Inteligência explicou que foram feitas “análises de risco” de cada seleção baseadas em quatro índices: possibilidades de terrorismo, sensibilidade geopolítica, sensibilidade esportiva e caráter crítico de determinadas partidas. 


Belham não quis revelar o conteúdo do ranking: limitou-se a assinalar que os Estados Unidos figuram entre as sete equipes que receberão maior proteção. Consultado depois por este jornal, justificou sua discrição pelo “pandemônio” que ocorreria se a classificação fosse conhecida neste momento.

A utilização das Forças Armadas, segundo o Chefe do Estado Maior, permitiu equipar o país com material de defesa contra ataques químicos, biológicos e rádio nucleares. Perguntado sobre se as forças de ordem pública se viram obrigadas a impedir algum tipo de ataque ou plano anti-Copa, afirmou que “até agora tudo vai muito bem”.

Fonte: El País


 

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