Com bons resultados em campo e torcida ruidosa fora dele, vizinhos surgem como ameaça nas oitavas e quartas. Contra eles, o fator casa vai pesar menos
Giancarlo Lepiani
Torcedores do Uruguai pintam o rosto com as cores da bandeira do país, no Itaquerão -
Ivan Pacheco/VEJA.com
Dentro do quadro atual da competição, desenha-se uma fase
eliminatória com dois desafios seguidos contra sul-americanos: Chile e
depois Colômbia ou Uruguai
O favoritismo atribuído ao Brasil antes do início desta Copa do
Mundo se devia não só ao talento de Neymar, à experiência de Luiz Felipe
Scolari e ao ótimo retrospecto recente da equipe.
O fato de a seleção
pentacampeã jogar em casa, diante de sua torcida, foi apontado como
fator importantíssimo na hora de se avaliar as chances de cada equipe.
Os brasileiros não perdem um jogo oficial em seus domínios há quase
quatro décadas (a última derrota foi em 1975, para o Peru, na Copa
América). No ano passado, na Copa das Confederações, o público local
empurrou o time de Felipão ao título. Muita gente se esqueceu, no
entanto, que não é só o Brasil que encontra condições favoráveis neste
Mundial.
Pela proximidade geográfica, semelhanças climáticas e presença
maciça de seus torcedores, as outras seleções sul-americanas também
parecem estar em casa na Copa de 2014.
Com a vitória do Uruguai sobre a Inglaterra, na quinta-feira,
em São Paulo, as equipes do continente ampliarem sua superioridade em
relação aos europeus: nos confrontos diretos entre equipes dos dois
continentes, são cinco triunfos dos locais contra apenas uma dos
visitantes (a Suíça virou sobre o Equador, que parece ser a seleção mais
fraca entre todos os vizinhos, no último minuto).
Leia também:
Torcida nota zero: sul-americanos dão mau exemplo no Rio
Em Brasília, a seleção da Colômbia parecia estar 'em casa'
'Constrangida' com invasão, Fifa quer segurança reforçada
Torcida mexicana surpreende e ofusca o público cearense
Em todas as Copas realizadas na América do Sul, sempre o campeão foi
da própria região (Uruguai em 1930 e 1950, Brasil em 1962 e Argentina em
1978). O Brasil esperava manter essa sequência conquistando o hexa –
mas, para isso, provavelmente será necessário medir forças com rivais
continentais. Dentro do quadro atual da competição, desenha-se uma fase
eliminatória com dois desafios seguidos contra sul-americanos.
Se a
seleção de Felipão cumprir seu papel e avançar em primeiro lugar no
Grupo A, é bem provável que o adversário das oitavas de final seja o
Chile, que trouxe uma torcida fanática e até incontrolável em alguns
momentos de fanatismo mais exacerbado – os chilenos, vale lembrar, invadiram o Maracanã para assistir à partida de sua equipe contra a Espanha.
O retrospecto é bom: em três duelos em Mundiais, foram três vitórias do Brasil sobre o Chile
(incluindo, coincidentemente, triunfos em duas outras disputas de
oitavas de final, em 1998 e 2010).
A partida aconteceria em Belo
Horizonte - onde, aliás, o time chileno está concentrado. Seguindo
adiante, o Brasil poderá encarar Colômbia ou Uruguai nas quartas de
final, jogo que acontecerá em Fortaleza. De novo, um confronto perigoso:
os colombianos vieram em peso ao Brasil e venceram seus dois jogos na
competição, e o Uruguai voltou a mostrar do que é capaz na sexta.
Além do bom momento das seleções vizinhas, do fato dessas seleções
conhecerem bem o time de Felipão e da adaptação imediata às condições
encontradas no país-sede da Copa, o que mais preocupa nos possíveis
duelos sul-americanos na Copa é a perda de parte da vantagem de jogar
com o apoio da torcida.
É garantido que o Brasil sempre terá maioria nas
arquibancadas: os brasileiros compraram a maior parte dos ingressos em
todas as partidas do torneio, e o porcentual é maior ainda nos jogos da
seleção, é claro. Mas como mostraram os mexicanos no último jogo da
equipe local, em Fortaleza, há algumas seleções da América que serão
capazes de minimizar o peso do fator casa através do barulho de seu
torcedor.
Caso supere as oitavas e quartas e vença também sua semifinal
(em que o adversário, desta vez, deverá ser europeu), a seleção pode
fazer uma final absolutamente eletrizante contra a seleção mais temível
do outro lado da chave, a Argentina (se ela também confirmar seu
favoritismo, evidentemente). A decisão está marcada para o Maracanã,
onde as torcidas dos dois países já travaram um duelo (na estreia da
equipe de Lionel Messi, contra a Bósnia).
Até lá, porém, há um longo
caminho, tanto para argentinos como brasileiros – e não faltarão rivais
locais para atrapalhar essa aguardada decisão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário