Problema ocorre em vários pontos do DF, mas é na área central que o déficit é mais preocupante
Renan Bortoletto
renan.bortoletto@jornaldebrasilia.com.br
Problema crônico do Distrito Federal, o déficit de vagas públicas para estacionamento de veículos ainda é visto como um dos principais desafios a serem vencidos na capital federal, em relação à mobilidade urbana. Encontrar uma vaga, na maioria das vezes, requer paciência e tempo. Este é o retrato de uma Brasília cada vez mais “inchada” e carente de projetos voltados ao transporte.
É o que mostra mais uma reportagem da série #Brasíliaquerandar.
Levantamento da Secretaria de Governo aponta um déficit de 7,5 mil vagas só na Esplanada dos Ministérios. O Detran, por sua vez, estima que ao menos 13 mil vagas seriam necessárias para atender o Setor Comercial Sul.
Rotina
Estacionada em uma vaga que mais parece um canteiro de obras inacabado, a professora Raquel Couto, de 48 anos, vê o problema como parte do cotidiano brasiliense. “Isso porque não está chovendo, senão seria pior. Achar vaga é cada dia mais difícil. Se não estacionar em local privado, logo chega um flanelinha para te cobrar. Não tem mais jeito”, reclamou.
O estagiário Rafael Almeida, 25 anos, disse que apesar de novo, o Setor de Administração Federal Sul já enfrenta o mesmo problema. “Tem dia que nem venho de carro. Alguns prédios têm os seus estacionamentos, mas não dão conta da demanda.”
Para a recepcionista Kelly Cristina Alcântara, de 29 anos, o jeito é sair de casa mais cedo. “Venho para o Setor Comercial Sul todos os dias trazer a minha irmã e tenho que estacionar. Depois das 8h já não acha nenhuma vaga, é uma briga”, observou.
Ciclo vicioso
Na visão do professor Carlos Pena Brescianini, pesquisador e especialista em mobilidade urbana, a construção de mais vagas públicas para estacionamentos faz parte de um ciclo vicioso que, em vez de incentivar o transporte público coletivo e independente, colabora para a saturação das vias públicas e não amortiza o problema.
“Acho tudo isso (a construção de mais vagas) um dos maiores absurdos e erros crassos quando se fala em mobilidade urbana”, defende o professor. Criar mais vagas para automóveis incentiva o transporte privado, que é o principal causador de congestionamentos e reduz até mesmo o tempo de lazer do trabalhador”, completa.
Brescianini argumenta ainda que é ilusório achar que a construção de vagas sanaria os problemas de mobilidade urbana e defende uma gama maior de investimentos no transporte de trens, metrôs e até mesmo de bicicletas.
Metrô: sistema mais rápido e eficiente
O professor Carlos Pena Brescianini, pesquisador e especialista em mobilidade urbana, explica que, “quando se cria novas vagas, também calcula-se quanto tempo vai levar para que as faixas novas congestionem como as velhas. Isso tudo porque o número de veículos só tende a aumentar”.
Para Brescianini, o mesmo trajeto que milhares de pessoas fazem em seus veículos privados deve ser oferecido em linhas de metrô, meio de transporte que gasta menos tempo e leva muitos passageiros de uma só vez.
“Ao contrário disso, o uso cada vez maior de carros para o trabalho, por exemplo, faz com que os horários de pico sejam cada vez mais constantes. Estamos caminhando para um verdadeiro nó, um caos”, sentencia o
especialista.
Apelar para o privado pode sair caro
Quando os espaços públicos já não dão conta da demanda, o jeito é apelar para os privados. Programa de lazer de milhares de brasilienses, ir ao shopping nunca foi tão caro.
Além da alta dos preços dos bilhetes de cinema e despesas com alimentação, deixar o carro em estacionamento particular tem pesado no bolso.
Se levado em conta que a permanência média num shopping para quem está disposto — e com dinheiro na carteira — a arcar com todas estas regalias é de quatro horas, o susto pode ser ainda maior na hora de pagar.
Deixar o carro em estacionamento pago por quatro horas pode variar de R$ 8,40 a R$ 20, segundo levantamento do Jornal de Brasília com base em tabela de preços de oito shoppings da capital.
Os preços, considerados por muitos usuários como abusivos, são cobrados sem nenhum tipo de fiscalização. Tudo porque não há uma lei no Distrito Federal que regulamente ou isente os usuários da cobrança.
Critérios
Em 2011, a maioria dos shoppings de Brasília conseguiu liminar que suspendeu os efeitos da Lei Distrital 4.624/11, de 23 de agosto, que estabelecia critérios para isentar consumidores da cobrança pelo uso de estacionamentos particulares em centros comerciais.
Na época, a lei foi publicada no Diário Oficial e vigorou por menos de 24 horas. O texto do documento previa gratuidade para permanência de veículos por até 60 minutos no estacionamento de shoppings e hipermercados. Caso a permanência fosse superior a uma hora, o cliente poderia isentar-se da taxa se comprovasse com nota fiscal que gastou duas vezes o valor cobrado pelo estacionamento.
renan.bortoletto@jornaldebrasilia.com.br
Problema crônico do Distrito Federal, o déficit de vagas públicas para estacionamento de veículos ainda é visto como um dos principais desafios a serem vencidos na capital federal, em relação à mobilidade urbana. Encontrar uma vaga, na maioria das vezes, requer paciência e tempo. Este é o retrato de uma Brasília cada vez mais “inchada” e carente de projetos voltados ao transporte.
É o que mostra mais uma reportagem da série #Brasíliaquerandar.
Levantamento da Secretaria de Governo aponta um déficit de 7,5 mil vagas só na Esplanada dos Ministérios. O Detran, por sua vez, estima que ao menos 13 mil vagas seriam necessárias para atender o Setor Comercial Sul.
Rotina
Estacionada em uma vaga que mais parece um canteiro de obras inacabado, a professora Raquel Couto, de 48 anos, vê o problema como parte do cotidiano brasiliense. “Isso porque não está chovendo, senão seria pior. Achar vaga é cada dia mais difícil. Se não estacionar em local privado, logo chega um flanelinha para te cobrar. Não tem mais jeito”, reclamou.
O estagiário Rafael Almeida, 25 anos, disse que apesar de novo, o Setor de Administração Federal Sul já enfrenta o mesmo problema. “Tem dia que nem venho de carro. Alguns prédios têm os seus estacionamentos, mas não dão conta da demanda.”
Para a recepcionista Kelly Cristina Alcântara, de 29 anos, o jeito é sair de casa mais cedo. “Venho para o Setor Comercial Sul todos os dias trazer a minha irmã e tenho que estacionar. Depois das 8h já não acha nenhuma vaga, é uma briga”, observou.
Ciclo vicioso
Na visão do professor Carlos Pena Brescianini, pesquisador e especialista em mobilidade urbana, a construção de mais vagas públicas para estacionamentos faz parte de um ciclo vicioso que, em vez de incentivar o transporte público coletivo e independente, colabora para a saturação das vias públicas e não amortiza o problema.
“Acho tudo isso (a construção de mais vagas) um dos maiores absurdos e erros crassos quando se fala em mobilidade urbana”, defende o professor. Criar mais vagas para automóveis incentiva o transporte privado, que é o principal causador de congestionamentos e reduz até mesmo o tempo de lazer do trabalhador”, completa.
Brescianini argumenta ainda que é ilusório achar que a construção de vagas sanaria os problemas de mobilidade urbana e defende uma gama maior de investimentos no transporte de trens, metrôs e até mesmo de bicicletas.
Metrô: sistema mais rápido e eficiente
O professor Carlos Pena Brescianini, pesquisador e especialista em mobilidade urbana, explica que, “quando se cria novas vagas, também calcula-se quanto tempo vai levar para que as faixas novas congestionem como as velhas. Isso tudo porque o número de veículos só tende a aumentar”.
Para Brescianini, o mesmo trajeto que milhares de pessoas fazem em seus veículos privados deve ser oferecido em linhas de metrô, meio de transporte que gasta menos tempo e leva muitos passageiros de uma só vez.
“Ao contrário disso, o uso cada vez maior de carros para o trabalho, por exemplo, faz com que os horários de pico sejam cada vez mais constantes. Estamos caminhando para um verdadeiro nó, um caos”, sentencia o
especialista.
Apelar para o privado pode sair caro
Quando os espaços públicos já não dão conta da demanda, o jeito é apelar para os privados. Programa de lazer de milhares de brasilienses, ir ao shopping nunca foi tão caro.
Além da alta dos preços dos bilhetes de cinema e despesas com alimentação, deixar o carro em estacionamento particular tem pesado no bolso.
Se levado em conta que a permanência média num shopping para quem está disposto — e com dinheiro na carteira — a arcar com todas estas regalias é de quatro horas, o susto pode ser ainda maior na hora de pagar.
Deixar o carro em estacionamento pago por quatro horas pode variar de R$ 8,40 a R$ 20, segundo levantamento do Jornal de Brasília com base em tabela de preços de oito shoppings da capital.
Os preços, considerados por muitos usuários como abusivos, são cobrados sem nenhum tipo de fiscalização. Tudo porque não há uma lei no Distrito Federal que regulamente ou isente os usuários da cobrança.
Critérios
Em 2011, a maioria dos shoppings de Brasília conseguiu liminar que suspendeu os efeitos da Lei Distrital 4.624/11, de 23 de agosto, que estabelecia critérios para isentar consumidores da cobrança pelo uso de estacionamentos particulares em centros comerciais.
Na época, a lei foi publicada no Diário Oficial e vigorou por menos de 24 horas. O texto do documento previa gratuidade para permanência de veículos por até 60 minutos no estacionamento de shoppings e hipermercados. Caso a permanência fosse superior a uma hora, o cliente poderia isentar-se da taxa se comprovasse com nota fiscal que gastou duas vezes o valor cobrado pelo estacionamento.
Furtos em área fechada
Embora os estabelecimentos tentem se eximir da responsabilidade de
roubos e furtos dentro das áreas fechadas, a Súmula 130 do Supremo
Tribunal de Justiça (STF) é clara: “A empresa responde, perante o
cliente, pela reparação do dano ou furto de veículo ocorridos em seu
estacionamento.” Veja como proceder:
1 Guarde provas. O consumidor terá sempre que provar que havia
colocado o carro no local de onde foi levado (ou no caso, os objetos).
Boa parte dos que não recebem indenização é porque não conseguem
comprovar tal fato.
2 Produza as provas. As testemunhas são muito importantes. Se estiver acompanhado de alguém no dia do incidente, peça para cooperar e testemunhar
sua causa.
3 Tenha em mãos nota fiscal. Guarde o canhoto ou a nota fiscal de
suas compras no shopping, ele vai ajudar você a provar que esteve no
local.
4 Faça um boletim de ocorrência. Se possível, leve a (s)
testemunha (as) para também relatar o fato à delegacia mais próxima do
local do furto/roubo.
5 Guarde o tíquete de entrada. Os tíquetes não devem ser
devolvidos em hipótese alguma, pois é uma prova fundamental para que o
cliente consiga o reembolso.
Cobrança sem parâmetro
Na visão do presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa
das Relações de Consumo (Ibedec), José Geraldo Tardin, é necessário que
as cobranças sigam um parâmetro justo e lógico.
“Não existe um tabelamento de preços. O que passou a ser implantado
por alguns shoppings no DF é a cobrança proporcional pelo tempo que o
usuário permanece. Nota-se a necessidade de regulamentar uma lei que, de
fato, ampare o consumidor”, esclareceu.
Em Brasília, o shopping Pier 21 atualmente tem o mais caro
estacionamento entre os oito pesquisados. Quatro horas de permanência
podem custar R$ 20. Já o Taguatinga Shopping cobra o menor preço entre
os shoppings consultados, onde quatro horas custam R$ 8,40.
“Fui ao Shopping Pier 21 com minha namorada e amigos e deixei o
carro no estacionamento. Ficamos exatas quatro horas e 26 minutos, que
foi o tempo de ir ao cinema, lanchar, bater um papo e ir pra casa.
Quando fui pagar o estacionamento, me cobraram R$ 25, sendo R$ 5 de cada
hora e mais R$ 5 pelos 26 minutos da quinta hora”, contou o analista de
sistemas Gabriel Feitosa, de 29 anos.
Indignado, Feitosa tirou uma foto da nota fiscal emitida pelo
estacionamento e postou no grupo Brasília $urreal, no Facebook. “Eu me
senti lesado, e ao mesmo tempo com a obrigação de compartilhar este
completo absurdo.”
A opinião é a mesma do advogado Ricardo Reis Gomes. “Não tenho
dúvida de que são preços abusivos. Se você precisar dar um pulo no
cartório e gastar 15 minutos, você é cobrado pelo preço da hora”, disse.
Para quem quer “driblar” a tabela de preços do estacionamento, vale
parar longe do local de trabalho. É o que faz o professor de educação
física Ricardo Vilela, de 38 anos, que dá aulas em uma academia de um
shopping de Brasília. “Eu evito o máximo. Já nem me lembro da última vez
que parei no estacionamento particular”, contou.
Versão Oficial
A assessoria de imprensa do Shopping Pier 21 afirmou que o
estacionamento é terceirizado pela empresa Estapar. A Estapar, por sua
vez, informou em nota que “os preços dos estacionamentos seguem uma
lógica de mercado, conforme a microrregião onde está estabelecido, a
oferta e procura, o deficit de vagas em vias públicas e, em especial, a
variação dos principais custos como locação, seguro e sinistros”. A
empresa alegou ainda que estes fatores tiveram aumento acima da
inflação, o que teria pressionado a base de preços. A Estapar disse
ainda que oferece seguro e se responsabiliza por eventuais danos dentro
dos estacionamentos terceirizados.
Fonte: Da redação do Jornal de Brasília
Nenhum comentário:
Postar um comentário