Por Paulo Roberto Gotaç
A reportagem do New York Times do último domingo, intitulada "Grandes Visões Fracassam no Brasil" (Great Visions Fizzle in Brazil), de autoria de Simon Romero, jornalista americano que cobre o Brasil desde 2011, apresenta uma radiografia lúgubre e depressiva da situação atual do nosso país.
A matéria se inicia pela referência à
decadência que se seguiu ao boom artificial de progresso que, como
qualquer cidadão razoavelmente informado não desconhece, não foi construído em
alicerces sólidos mas baseado no estímulo ao consumo irresponsável e no
populismo de resultados imediatos, visando a objetivos puramente
eleitorais.
A reportagem desfia, em seguida, um rosário
de projetos mal concebidos e dispendiosos, obras grotescamente inacabadas,
destacando-se a construção de várias pontes ferroviárias, testemunhos patéticos
e fantasmagóricos de ligações desligadas e pernetas que unem o ar daqui
com o ar de lá, vestígios da Ferrovia Transnordestina, iniciada em 2006,
interrompida e, hoje, abandonada, depois de desalojar e deslocar inúmeras
famílias que não receberam nenhuma compensação e vivem hoje numa atmosfera de
desesperança e miséria.
Cita também o incrível teleférico de 32
milhões de reais, construído numa comunidade do Rio de janeiro e que só
realizou, com o prefeito fazendo o papel de mestre da banda, a viagem
inaugural, em 2012, parado desde então.
Foram lembrados também os geradores
eólicos, sem "tomadas" e linhas de transmissão, necessidades óbvias
para a oferta de energia, além dos gastos mal direcionados e sem propósito,
como o monumento aos ET's, em Varginha, um espelho da incompetência da
administração pública, atualmente parado, no esqueleto, e oxidando.
O que dizer então do projeto futurista
construído em Natal, inaugurado em 2008, assinado por afamado arquiteto, também
abandonado, servindo, no momento, de habitação para desabrigados?
Dignos de menção são também os projetos
megalomaníacos de irrigação cuja prontificação, prometida para 2010, apresenta
como único resultado, no entanto, até agora, a degradação do solo por onde
deveriam passar quantidades generosas de água para atender agricultores
nordestinos secularmente torturados pela seca.
Sobre toda essa rede de absurdos desconexos
e capengas, está o impacto produzido pela construção de luxuosos estádios para
a Copa do Mundo que se aproxima, alguns dos quais em locais em que o futebol
desperta menos interesse que lançamento de coco, em cidades nas quais grande
parte do esgoto ainda corre a céu aberto.
Enfim, a matéria expõe um quadro de
apreensão, agravado por uma disputa eleitoral no corrente ano que promete ser a
mais desleal dos últimos tempos, tudo adornado com um crescimento raquítico,
uma inflação persistente, uma classe política mergulhada em fétido ambiente de
corrupção e pragmatismo corrosivo e uma justiça a serviço dos propósitos de um
executivo ensandecido pela manutenção do poder a qualquer custo.
Ao contrário de "Viva o Povo
Brasileiro", título de uma das obras mais significativas de João Ubaldo
Ribeiro, somos forçados a falar baixinho,"Pobre Povo Brasileiro".
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra,
reformado.
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