A marca registrada da esquerda o leitor já conhece: inverter tudo. Foi o que fez Vladimir Lênin, digo, Safatle em sua coluna
de hoje na Folha. Ao ler essa verdadeira peça de ficção, o leitor sai
convencido de que a enorme taxa de rejeição ao socialista Hollande na
França se deve à sua migração para a direita.
O rabo é que balança o
cachorro!
Hollande não é o mais impopular de todos
porque seu governo é medíocre em resultados, pois ignorou o bom senso da
austeridade, resolveu sobretaxar os ricos, nada disso; é porque ele é
“transformista” ideológico, fez como um tocador de violino: pegou o
poder com a esquerda e tocou com a direita. Ou assim quer Safatle que
seus leitores pensem.
Diz o membro do PSOL:
Suas
políticas econômicas não têm nada, mas absolutamente nada a oferecer de
diferente em relação às receitas vigentes de “austeridade”. A mesma
ladainha a respeito da diminuição do “custo do trabalho” e dos “gastos
públicos” (ou seja, precarização do trabalho, menores salários e bancos
com lucros recordes).
É mesmo? Nenhuma menção ao imposto de 75%
sobre os mais ricos, responsável pela fuga de capitais e gente da
França, com resultados terríveis para o país? Que austeridade é essa se
Hollande veio com aumento de gastos e do papel do estado?
O discurso atual, que prega mais
austeridade, é justamente conseqüência do fracasso das bandeiras de
esquerda. Isso já aconteceu com Mitterrand no passado. A história se
repete, ou rima muito. A esquerda, com um mapa de voo totalmente
equivocado, faz um monte de besteira e depois precisa fazer concessões à
realidade, com reformas mais liberais. Podemos pensar no PT tendo de
privatizar…
Safatle conclui, invertendo uma vez mais tudo na equação cronológica:
Prova disso é
a nomeação de seu novo primeiro-ministro, o senhor Manuel Valls, alguém
que como ministro do Interior era exímio patrocinador das milenares
tradições da caça aos ciganos, um verdadeiro marco do Iluminismo. Seu
discurso securitário, exaltador dos “valores nacionais” e brutalizado
fez dele alguém muito mais popular entre os eleitores de direita do que
aqueles de esquerda. Foi a ele que Hollande recorreu depois de ter
levado uma das maiores surras eleitorais na eleição municipal de semanas
atrás.
Com esse
mimetismo ideológico e essa prova de ausência completa de ideário
próprio, os eleitores franceses se perguntam por que não entrar logo com
os dois pés na direita do tipo Front National (frente nacional, em
francês), não por acaso o partido que mais cresce atualmente. Tudo isso
demonstra que nada pior do que uma esquerda que tem medo de dizer seu
nome.
É o contrário. O socialista precisou
apelar para alguém menos radical de seu partido justamente porque o povo
cansou do socialismo. A extrema-direita de Le Pen cresce sem parar
justamente por causa das burradas que a esquerda tem feito, com péssimos
resultados. É o cachorro que balança o rabo, Safatle…
Se a esquerda radical que o próprio
Safatle defende não tivesse medo de dizer seu nome (“revolução”,
“socialismo”), aí mesmo é que seria mais impopular ainda! Parte do
relativo sucesso eleitoral dessa esquerda tem sido exatamente esconder seu nome, suas intenções, sua ideologia totalmente anticapitalista. Mostrando a cara, teria ainda menos voto.
Como o PSOL aqui no Brasil, que já percebeu isso e vem trabalhando na maquiagem e na falsa embalagem justamente para ocultar seu nome e deixar de ser um partido nanico…
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