A reportagem do New York Times do último domingo, intitulada
"Grandes Visões Fracassam no Brasil" (Great Visions Fizzle in
Brazil), de autoria de Simon Romero, jornalista americano que cobre o Brasil
desde 2011, apresenta uma radiografia lúgubre e depressiva da situação
atual do nosso país.
A matéria se inicia pela referência à decadência que
se seguiu ao boom artificial de progresso que, como qualquer cidadão
razoavelmente informado não desconhece, não foi construído em alicerces
sólidos, mas baseado no estímulo ao consumo irresponsável e no populismo de
resultados imediatos, visando a objetivos puramente eleitorais.
A reportagem desfia, em seguida, um rosário de projetos
mal concebidos e dispendiosos, obras grotescamente inacabadas, destacando-se a
construção de várias pontes ferroviárias, testemunhos patéticos e
fantasmagóricos de ligações desligadas e pernetas que unem o ar daqui com
o ar de lá, vestígios da Ferrovia Transnordestina, iniciada em 2006,
interrompida e, hoje, abandonada, depois de desalojar e deslocar inúmeras
famílias que não receberam nenhuma compensação e vivem hoje numa atmosfera de
desesperança e miséria.
Cita também o incrível teleférico de 32 milhões de
reais, construído numa comunidade do Rio de janeiro e que só realizou,
com o prefeito fazendo o papel de mestre da banda, a viagem inaugural, em 2012,
parado desde então.
Foram lembrados também os geradores eólicos, sem
"tomadas" e linhas de transmissão, necessidades óbvias para a oferta
de energia, além dos gastos mal direcionados e sem propósito, como o monumento
aos ET's, em Varginha, um espelho da incompetência da administração pública,
atualmente parado, no esqueleto, e oxidando.
O que dizer então do projeto futurista construído em
Natal, inaugurado em 2008, assinado por afamado arquiteto, também abandonado,
servindo, no momento, de habitação para desabrigados?
Dignos de menção são também os projetos megalomaníacos
de irrigação cuja prontificação, prometida para 2010, apresenta como único
resultado, no entanto, até agora, a degradação do solo por onde deveriam
passar quantidades generosas de água para atender agricultores
nordestinos secularmente torturados pela seca.
Sobre toda essa rede de absurdos desconexos e
capengas, está o impacto produzido pela construção de luxuosos estádios para a
Copa do Mundo que se aproxima, alguns dos quais em locais em que o futebol desperta
menos interesse que lançamento de coco, em cidades nas quais grande parte do
esgoto ainda corre a céu aberto.
Enfim, a matéria expõe um quadro de apreensão,
agravado por uma disputa eleitoral no corrente ano que promete ser a mais
desleal dos últimos tempos, tudo adornado com um crescimento raquítico, uma
inflação persistente, uma classe política mergulhada em fétido ambiente de
corrupção e pragmatismo corrosivo e uma justiça a serviço dos propósitos de um
executivo ensandecido pela manutenção do poder a qualquer custo.
Ao contrário de "Viva o Povo Brasileiro", título
de uma das obras mais significativas de João Ubaldo Ribeiro, somos forçados a
falar baixinho, "Pobre Povo Brasileiro".
16 de abril de 2014
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.
Blog Lorotas políticas e verdades efêmeras
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