Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Nivaldo Cordeiro
A
imprensa hoje está cheia de análises sobre um possível volta, Lula, tentando
explicar porque isso pode acontecer. Um ponto comum nas análises é culpar a
presidente Dilma pelos problemas econômicos, como se ela fosse a autora do
projeto que está em curso no país. Claro, ela está de acordo com ele, mas é
preciso separar o trigo do joio. A política econômica é a do PT, não é
meramente da presidente, assim como sua política “social”. A coisa tem raízes
históricas mais profundas.
Quem
estuda a história econômica do Brasil sabe que, desde os anos Trinta, um
suposto conjunto de conhecimentos em economia foi desenvolvido para patrocinar
o desenvolvimento econômico. A obra de Celso Furtado é um momento de
consolidação dessa visão de mundo, que tem gerado legiões de discípulos
universitários, que ora ocupam o poder. Tudo começou com o Partido Comunista.
Essa visão de mundo infiltrou-se no Estado paulatinamente desde então.
Politicamente, vivemos o apogeu desse falso saber no comando do Estado com o
PT. Aí está a origem da tragédia que se anuncia.
Todos
os ensaios anteriores de desenvolvimentismo foram fracassados, mas, em troca, a
visão no ensino universitário consolidou-se e fez-se predominante, a invés de
levar essa gente para as boas lições de economia.
A
realidade podia negar as teorias desenvolvimentistas, mas seus teóricos não
querem saber do real. Sua motivação é unicamente colocar o Estado como agente e
comandante do “desenvolvimento”, a palavra mágica que tem permitido todo tipo
de violência sobre as pessoas, a começar pela imensa carga tributária e pelo
excessivo e alucinado processo de regulamentação da economia.
A
teoria funciona meramente como justificadora da ação dos agentes no poder. Não
tem nenhum valor explicativo, não serve para formulação econômica, torna cegos
aqueles que comandam o processo econômico. Se uma escola está plenamente
identificada com esse falso saber é a Unicamp, que tem gerando os “melhores”
piores quadros no comando do Estado.
O
núcleo fundamental da teoria, que acusava os países “centrais” de se
apropriarem da renda dos países da “periferia”, pelos termos de troca, não
resiste à mínima avaliação. Esse ponto foi fundado nos livros tortos de Lênin
sobre o imperialismo, deles derivando diretamente. Um exame dos dados vai
mostrar que isso não é real. No período recente, aconteceu o contrário, com a
valorização absurda dos preços dos alimentos e minérios. O Brasil ganhou muito
com isso. Esses preços tão favoráveis aconteceram durante o governo Lula e,
pode-se dizer, se arrastam até hoje. Há uma grande ironia histórica
nesse fato. O que eles chamavam de setor primário-exportador é o que está
pagando a conta da gente brasileira. A experiência, todavia, não serviu para
essa gente repensar sua falsa percepção do real.
Vê-se
que esses teóricos não conseguem pensar os indivíduos como autonomias que de
fato geram o desenvolvimento, que só pode derivar do empreendedorismo e da
capacidade de trabalho dos cidadãos. Muito ao contrário, querem ser os tutores
de tudo, via Estado. Acabam por inviabilizar o Brasil, como estamos vendo
acontecer. Como vimos nos tempo de Jango. Se a trajetória da política econômica
não mudar imediatamente teremos um desastre meteórico.
Outro
pondo essencial dessas teorias, abusando de um keynesianismo bastardo, é pôr a
emissão de moeda a serviço do desenvolvimento. Esses teóricos não creem que a
inflação seja o mal, aliás eles dizem que é um bem. Por isso, quando estão no
poder metem sempre o país na aventura inflacionária, provocando calamidades.
Estamos de novo navegando no rumo da alta inflação.
A
coisa só não é pior porque membros graúdos do próprio PT aprenderam que é
melhor manter alguma ortodoxia monetária, sob pena do processo sair do
controle. Mas o ativismo orçamentário inviabiliza a saúde financeira,
praticamente condenando o exercício de alguma ortodoxia do Banco Central à
ineficácia.
O
problema que vejo é que hoje em dia todo o funcionalismo público, e não apenas
no âmbito econômico, foi formado nessas falsas teorias. Basta um exame nos
programas dos cursos universitários e nas bancas de concurso público de
admissão para constatar a hegemonia da falsa ciência. Quem não estuda essa
maçaroca indigesta de falsas teorias está fora do jogo. Fácil de aprender,
difícil de se livrar mentalmente dessas falsas lições de economia. É preciso
anos de reflexão e de exame para que alguém possa superar o falso aprendizado,
enfrentado a opinião pública hegemônica.
O
desenvolvimentismo é uma fraude teórica e um perigo como elemento inspirador da
administração do Estado. Mas como mudar isso, se a maioria dos funcionários
públicos acha que o erro teórico é a verdade? Se quem opera a economia e o
direito, basilares na coordenação do Estado, estão cegos, sem luz da ciência e
da sensatez? Essa é a dimensão “operacional” da nossa tragédia, que os quadros
dirigentes são despreparados e equivocados.
O
volta, Lula, não é e não será um retorno à boa política econômica, que só será
implantada de novo se o PT for removido do poder. É preciso que se diga que o
PSDB foi fundado nessa falsa visão de mundo, mas como FHC teve que enfrentar a
altíssima inflação dos anos 90 o partido amadureceu e prefere a boa política
econômica. O PT não terá tempo de aprender, até porque repudiou vigorosamente a
política de FHC. Acham que estão certos e são insensíveis ao real.
É
por isso que eu tenho ironizado nas redes sociais ao comentar o noticiário
econômico com o bordão “vai quebrar”. Porque nada ficará inteiro enquanto a voz
da razão não prevalecer sobre esses utopistas.
Nivaldo
Cordeiro é Jornalista. Originalmente publicado em 9 de abril de 2014 no site do
autor: www.nivaldocordeiro.net
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