Claudionor Araújo foi a Inhapi negociar a liberação das obras do Canal do Sertão e afirma que foi mantido preso no local
16/04/2014 09h27
Segundo relato feito pelo secretário ao TNH1, os trabalhadores sem-terra ocuparam na segunda-feira (14) a unidade de trabalho da empresa OAS, responsável pela construção do Canal, impedido a entrada dos operários, o que paralisou a obra no quilômetro 74.
Araújo conta que o gerenciamento de crises da Polícia Militar teria sido acionado, mas não compareceu ao local por conta de outras demandas, como a interdição das principais rodovias de Maceió por taxistas, em protesto contra a Arsal, na terça-feira (15).
O secretário foi então convocado para negociar com os sem-terra, e viajou até Inhapi. Por volta das 13h, ele e o servidor da Seinfra chegaram ao quilômetro 74 do Canal, e só teriam conseguido sair de lá por volta das 17h.
De acordo com o relato do secretário, após uma rápida conversa sobre as reivindicações apresentadas pelo MST e a condição do governo, de desocupação do espaço da construtora, cerca de 30 coordenadores do movimento liderados por Marquinhos e Nininho, como ele identificou, teriam decidido manter os dois representantes do Estado presos no local.
“O Marquinhos disse: ‘O senhor vai ficar aqui juntamente com o Porcidônio, até que haja uma solução para esses problemas. Hoje, amanhã, a Semana Santa, o senhor vai dormir aqui, comer aqui’”, conta Araújo.
O secretário teria protestado: “Eu vou ficar refém de vocês agora? E o Marquinhos respondeu: ‘O senhor dê o nome que quiser’. Eu retruquei: ‘Eu desconhecia essa prática de vocês do MST de fazer as pessoas refém’. Foi quando ele me disse: ‘Não tínhamos, mas agora teremos’”, relata.
A atitude teria sido uma reação dos manifestantes às alegações apresentadas pelo secretário. Eles expuseram na reunião reivindicações antigas, que não tiveram avanço, e que não têm prazo para serem atendidas.
Entre elas está a doação de uma área de 2 mil hectares próxima ao Canal, para que os agricultores possam usufruir da água para a criação de gado e cultivo de frutas; ainda, a construção de poços artesianos nos acampamentos do Sertão, onde, segundo o secretário, é inviável por conta da salinidade da água e das condições do solo; e, por último, a estruturação de 10 passagens para carros e pedestres sobre áreas que ficam intransitáveis no inverno, as chamadas passagens molhadas.
Os coordenadores do MST teriam ordenado que o secretário fizesse os contatos necessários para atender às reivindicações enquanto era mantido no local. “Depois de encontrar um lugar onde o celular pegou, consegui fazer contatos. Paralelamente, outros coordenadores do MST faziam uma reunião em Maceió com o secretário Álvaro Machado [do Gabinete Civil]”, diz.
Araújo conta que passou cerca de uma hora e meia tentando negociar com os sem-terra, apontando quais das reivindicações eram viáveis.
Após uma mudança de posicionamento dos manifestantes, parte dos coordenadores teria sugerido que o secretário marcasse uma reunião para a próxima semana, no município de Delmiro Gouveia, com representantes da Seinfra, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Agricultura, Secretaria de Articulação Social, Centro de Gerenciamento de Crises da PM, Incra e Codevasf.
Além disso, eles pediram a doação de mil cestas básicas e 60 rolos de lona preta, e o transporte de todos os trabalhadores do local do protesto para seus acampamentos, em Inhapi, Mata Grande e Água Branca.
Os pedidos foram atendidos e após uma reunião de cerca de uma hora entre os coordenadores, teria sido decidida a soltura do secretário e do servidor da Seinfra.
Eles deixaram o local por volta das 17h, quando eram aguardados por policiais militares do Batalhão de Delmiro Gouveia, próximo ao local do protesto, e conseguiram chegar a Maceió às 22h, sob críticas do secretário. “Isso afeta a boa relação que o governo tem com os movimentos. Foi um ato de violência, antidemocrático. Este foi o governo que melhor se relacionou com os movimentos sociais, a ponto de criar uma secretaria, que é a de Articulação Social, para dialogar com eles”, condenou.
Apesar da avaliação, o secretário diz que as reivindicações serão atendidas. “Continuo à disposição, mas vou fazer o relato do que houve ao governador Téo Vilela, e indicar que a obra do Canal vai continuar”.
‘Denúncia ilegítima’
O MST também informou que a negociação das reivindicações do grupo foi feita com o secretário Álvaro Machado, em Maceió. “Ele foi lá dialogar com os trabalhadores e saiu de lá tranquilamente. Disse que os trabalhadores estavam armados, mas eles portavam facões e foices, que são instrumentos de trabalho dos agricultores. Não compreendemos ele ter ido lá quando éramos atendidos em Maceió pelo secretário Álvaro Machado”, afirmou o movimento por meio da assessoria.
Eles também apontaram que o secretário de Articulação teria prometido para março deste ano o início de obras de irrigação nos acampamentos próximos ao Canal do Sertão, o que não ocorreu. “O que queremos é terras e água para produzir já que estamos tão perto do Canal e não vemos nada, apesar das promessas”, declara.
“Não legitimamos a posição do Claudionor e ficamos impressionados com o posicionamento dele. Já o Álvaro machado, representando o Estado, encaminhou nossa pauta positivamente”, continuou.
Segundo o MST, uma equipe técnica da Seinfra e Semarh será enviada semana que vem aos acampamentos. E no dia 29, haverá uma reunião com o governador.
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