quarta-feira, 16 de abril de 2014

Tão bonzinhos!Secretário de Estado diz que foi feito refém por membros do MST



Claudionor Araújo foi a Inhapi negociar a liberação das obras do Canal do Sertão e afirma que foi mantido preso no local

16/04/2014 09h27
Claudionor Araújo é Secretário de Articulação Social (Crédito: TNH1 Arquivo)
Claudionor Araújo é Secretário de Articulação Social
 
 
O secretário estadual de Articulação Social de Alagoas, Claudionor Araújo, e um servidor da Secretaria de Estado da Infraestrutura, identificado só como Porcidônio, afirmam que foram feitos reféns por um grupo de manifestantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), quando tentavam negociar a desocupação de uma área dentro da obra do Canal do Sertão, no município de Inhapi, Sertão de Alagoas. 


Segundo relato feito pelo secretário ao TNH1, os trabalhadores sem-terra ocuparam na segunda-feira (14) a unidade de trabalho da empresa OAS, responsável pela construção do Canal, impedido a entrada dos operários, o que paralisou a obra no quilômetro 74. 


Araújo conta que o gerenciamento de crises da Polícia Militar teria sido acionado, mas não compareceu ao local por conta de outras demandas, como a interdição das principais rodovias de Maceió por taxistas, em protesto contra a Arsal, na terça-feira (15). 


O secretário foi então convocado para negociar com os sem-terra, e viajou até Inhapi. Por volta das 13h, ele e o servidor da Seinfra chegaram ao quilômetro 74 do Canal, e só teriam conseguido sair de lá por volta das 17h. 


De acordo com o relato do secretário, após uma rápida conversa sobre as reivindicações apresentadas pelo MST e a condição do governo, de desocupação do espaço da construtora, cerca de 30 coordenadores do movimento liderados por Marquinhos e Nininho, como ele identificou, teriam decidido manter os dois representantes do Estado presos no local. 


“O Marquinhos disse: ‘O senhor vai ficar aqui juntamente com o Porcidônio, até que haja uma solução para esses problemas. Hoje, amanhã, a Semana Santa, o senhor vai dormir aqui, comer aqui’”, conta Araújo. 


O secretário teria protestado: “Eu vou ficar refém de vocês agora? E o Marquinhos respondeu: ‘O senhor dê o nome que quiser’. Eu retruquei: ‘Eu desconhecia essa prática de vocês do MST de fazer as pessoas refém’. Foi quando ele me disse: ‘Não tínhamos, mas agora teremos’”, relata. 


A atitude teria sido uma reação dos manifestantes às alegações apresentadas pelo secretário. Eles expuseram na reunião reivindicações antigas, que não tiveram avanço, e que não têm prazo para serem atendidas. 


Entre elas está a doação de uma área de 2 mil hectares próxima ao Canal, para que os agricultores possam usufruir da água para a criação de gado e cultivo de frutas; ainda, a construção de poços artesianos nos acampamentos do Sertão, onde, segundo o secretário, é inviável por conta da salinidade da água e das condições do solo; e, por último, a estruturação de 10 passagens para carros e pedestres sobre áreas que ficam intransitáveis no inverno, as chamadas passagens molhadas. 


Os coordenadores do MST teriam ordenado que o secretário fizesse os contatos necessários para atender às reivindicações enquanto era mantido no local. “Depois de encontrar um lugar onde o celular pegou, consegui fazer contatos. Paralelamente, outros coordenadores do MST faziam uma reunião em Maceió com o secretário Álvaro Machado [do Gabinete Civil]”, diz. 


Araújo conta que passou cerca de uma hora e meia tentando negociar com os sem-terra, apontando quais das reivindicações eram viáveis. 


Após uma mudança de posicionamento dos manifestantes, parte dos coordenadores teria sugerido que o secretário marcasse uma reunião para a próxima semana, no município de Delmiro Gouveia, com representantes da Seinfra, Secretaria de Meio Ambiente, Secretaria de Agricultura, Secretaria de Articulação Social, Centro de Gerenciamento de Crises da PM, Incra e Codevasf. 


Além disso, eles pediram a doação de mil cestas básicas e 60 rolos de lona preta, e o transporte de todos os trabalhadores do local do protesto para seus acampamentos, em Inhapi, Mata Grande e Água Branca. 


Os pedidos foram atendidos e após uma reunião de cerca de uma hora entre os coordenadores, teria sido decidida a soltura do secretário e do servidor da Seinfra. 


Eles deixaram o local por volta das 17h, quando eram aguardados por policiais militares do Batalhão de Delmiro Gouveia, próximo ao local do protesto, e conseguiram chegar a Maceió às 22h, sob críticas do secretário. “Isso afeta a boa relação que o governo tem com os movimentos. Foi um ato de violência, antidemocrático. Este foi o governo que melhor se relacionou com os movimentos sociais, a ponto de criar uma secretaria, que é a de Articulação Social, para dialogar com eles”, condenou. 


Apesar da avaliação, o secretário diz que as reivindicações serão atendidas. “Continuo à disposição, mas vou fazer o relato do que houve ao governador Téo Vilela, e indicar que a obra do Canal vai continuar”. 


‘Denúncia ilegítima’


O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra foi procurado pelo TNH1 e declarou, por meio da assessoria de imprensa, que não reconhece a versão apresentada por Claudionor Araújo. 


O MST também informou que a negociação das reivindicações do grupo foi feita com o secretário Álvaro Machado, em Maceió. “Ele foi lá dialogar com os trabalhadores e saiu de lá tranquilamente. Disse que os trabalhadores estavam armados, mas eles portavam facões e foices, que são instrumentos de trabalho dos agricultores. Não compreendemos ele ter ido lá quando éramos atendidos em Maceió pelo secretário Álvaro Machado”, afirmou o movimento por meio da assessoria. 


Eles também apontaram que o secretário de Articulação teria prometido para março deste ano o início de obras de irrigação nos acampamentos próximos ao Canal do Sertão, o que não ocorreu. “O que queremos é terras e água para produzir já que estamos tão perto do Canal e não vemos nada, apesar das promessas”, declara. 


“Não legitimamos a posição do Claudionor e ficamos impressionados com o posicionamento dele. Já o Álvaro machado, representando o Estado, encaminhou nossa pauta positivamente”, continuou. 


Segundo o MST, uma equipe técnica da Seinfra e Semarh será enviada semana que vem aos acampamentos. E no dia 29, haverá uma reunião com o governador. 

UOL Noticias

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