Este sucesso se deve a uma conjugação de fatores, a começar pela arquitetura financeira do MCMV: subsídios governamentais para viabilizar a oferta de moradia para a camada mais pobre da população, poupança dos adquirentes e fartos financiamentos do mercado de crédito imobiliário.
Implementado em uma conjuntura caracterizada por estabilidade econômica, forte demanda por habitação, elevação da renda das famílias e crédito farto, o programa atraiu tanto as empresas que já operavam no segmento da moradia popular como as grandes construtoras e incorporadoras.
Entretanto, nos últimos tempos alguns problemas tem diminuído o entusiasmo dos investidores, especialmente para construir na chamada faixa 1, voltada às famílias com renda de até R$ 1.600. Um desses problemas tem sido a não correção dos valores pagos pelo governo federal para as construtoras edificarem os conjuntos habitacionais.
Em cidades onde o licenciamento dos projetos demora até um ano e com a inflação na construção civil mais elevada por conta de reajustes salariais acima do aumento da produtividade do trabalho, essa ausência de correção desmotivou boa parte das construtoras e incorporadoras de apresentarem novos projetos no programa.
Há o temor de que o atraso nos pagamentos se repita, desmotivando ainda mais as empresas de prosseguirem as obras presidente do SindusCon-SP, sobre problemas no Minha Casa, Minha Vida
Já no município de São Paulo, nesta faixa 1, o programa contratou apenas cerca de 4.500 moradias, pois o custo da construção mais o preço do terreno é muito superior ao valor pago pelo governo federal. O governo municipal também se dispôs a oferecer subsídio, e com isso espera contratar mais 30 mil moradias. Mas são números insignificantes diante da dimensão do deficit habitacional no município, estimado por alguns em 1 milhão de famílias.
Indefinição
Foi neste cenário que, no primeiro trimestre, o governo federal atrasou os pagamentos das construtoras que executam obras para o programa, esfriando ainda mais o ânimo dos investidores. O inesperado atraso dos pagamentos, ocorrido pela primeira vez desde o lançamento do programa, provocou vultosos prejuízos às empresas. Em função das estreitas margens e do pequeno porte da grande maioria das construtoras que operam no MCMV, tais atrasos colocaram em risco a solidez financeira delas.
No início de abril, aparentemente, os pagamentos foram colocados em dia, mas há o temor de que, em função das dificuldades de caixa do governo, esse atraso se repita, desmotivando ainda mais a maioria das empresas de prosseguir as obras e até de ingressar em novas contratações dentro do MCMV.
Outro fato preocupante é que já se encerrou o primeiro trimestre e até o momento não temos notícia do projeto que está sendo preparado para a fase 3 do programa. Sem uma clareza sobre a continuidade, investidores e construtoras não têm como começar o planejamento e mobilizar recursos para os próximos empreendimentos, o que significará a descontinuidade das obras e da entrega dos conjuntos habitacionais a partir do início do próximo mandato presidencial.
Espera-se que a Presidência da República, que tanto se empenhou pelo sucesso do programa, tome as medidas necessárias para evitar a desestruturação e a insolvência dessas construtoras, ao mesmo tempo em que exponha o projeto que está planejando para depois de 2014.
Neste sentido, o ideal seria atender a aspiração que não é só da construção, mas dos movimentos sociais de luta pela moradia, das centrais dos trabalhadores e de governos estaduais e municipais, pela implementação de uma política de Estado para a habitação de interesse social em nosso país, com garantia de recursos financeiros perenes do orçamento.
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