domingo, 13 de abril de 2014
Artigo
no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por
Carlos I. S. Azambuja
Meu
povo está subjugado na mais negra miséria. Torturam-se pessoas e um quinto da
população fugiu por razões políticas. O povo cubano vive esperando o abraço
solidário dos mandatários ibero-americanos. Estes, porém, o negam às vítimas e
o oferecem ao carrasco” (Armando Valladares, poeta que passou 22 anos nas masmorras cubanas).
O
Diretório Geral de Informações (DGI) é um dos serviços de Inteligência do
Estado cubano. Está sob a jurisdição do Ministério do Interior (MININT), sendo
que o seu diretor, durante mais de 30 anos foi Manuel Piñero Losada (falecido
em 1998, em Havana, em um acidente de automóvel dirigido por ele próprio). Ele
assumiu a chefia dos serviços de segurança e informações ainda quando a
guerrilha castrista combatia em Sierra Maestra. Após a tomada do Poder, Piñero
recebeu de Fidel a tarefa de exportar a revolução, o que lhe permitiu realizar
um sem número de ações fora do território cubano.
O
efetivo do DGI está integrado por sociólogos, psiquiatras, jornalistas,
advogados, psicólogos, médicos, líderes religiosos e estudantis,
locutores, cientistas e outros profissionais.
Todos
os organismos da administração central do Estado, assim como as empresas,
estabelecimentos, instituições de investigação científica, meios de difusão,
organizações sociais, etc., são sistematicamente supervisionadas por oficiais
do DGI. Em cada quadra há uma ou mais pessoas classificadas pelo DGI como “pessoal
de confiança”. Essas pessoas geralmente mantêm uma falsa atitude de crítica
ativa ao sistema ou de pouca militância política.
Seu
objetivo consiste em informar ao DGI o que ocorre em seus locais de residência.
Sua missão é independente daquela que realizam os membros dos CDR (Comitês de
Defesa da Revolução), cuja estrutura organizativa possui um “Responsável de
Vigilância” que também colabora com o DGI, porém sem a capacitação e alcance do
“Pessoal de Confiança”.
O DGI
também organiza, assessora, capacita e mobiliza as temíveisBrigadas de Resposta
Rápida encarregadas de reprimir com violência as atividades dos movimentos
de oposição política. Há numerosos testemunhos de oposicionistas do regime que
sofreram ataques dessas Brigadas. Em cada comunidade foram criados pelo DGI os Sistemas
Únicos de Exploração e Vigilância, formados por pessoas adeptas incondicionais
do regime, dirigidas por militantes do Partido Comunista.
A partir de 1967, em sua tarefa de exportar a revolução, inclusive antes do triunfo de Allende, começaram a chegar ao Chile agentes da Inteligência cubana sob a cobertura de “bolsas de estudo”. Essa afirmação é de Rafael Nuñez, um ex-funcionário cubano que cumpriu várias missões em Santiago durante o governo da Unidade Popular. Segundo ele, o objetivo era converter o país em uma base de apoio à subversão na América Latina: “Desde a embaixada cubana em Santiago se administravam as operações na Argentina, Brasil e Uruguai”.
O
próprio Manuel Piñero esteve várias vezes no Chile antes da deposição de
Allende e em uma dessas visitas conheceu a chilena Marta Harnecker, uma
militante do MAPU (Movimento Unificado de Ação Popular), que seria sua segunda
esposa.
Em
1974, a fim de potenciar a exportação da ação revolucionária a todo o
Continente, Fidel Castro criou um aparato de Inteligência próprio, paralelo ao
DGI e às Tropas Especiais, que já existiam sob a dependência do Ministério do
Interior.
Essa nova entidade, que ficou a cargo de Piñero, foi denominada Departamento América, dentro do organograma do Comitê Central, com orçamento próprio e ampla autonomia. Por quase duas décadas, esse organismo foi o oxigênio da insurgência continental e, mais tarde, com o desmanche do socialismo real, o foco dirigente da chamada “bandidagem revolucionária”, o “Ministério da Revolução”, como o batizou Fidel Castro.
Essa nova entidade, que ficou a cargo de Piñero, foi denominada Departamento América, dentro do organograma do Comitê Central, com orçamento próprio e ampla autonomia. Por quase duas décadas, esse organismo foi o oxigênio da insurgência continental e, mais tarde, com o desmanche do socialismo real, o foco dirigente da chamada “bandidagem revolucionária”, o “Ministério da Revolução”, como o batizou Fidel Castro.
Com
seu espírito conspirativo, Manuel Piñero moldou a seu modo a sua gente da
América Latina, em sua maioria jovens humildes aos quais transmitiu o gosto por
“los fierros” (armas).
Os
membros do Departamento América foram distribuídos sob a cobertura das embaixadas
cubanas, coordenando todas as operações nos diversos países. Após a deposição
de Allende, como no governo Pinochet não havia representação cubana no Chile, o
lugar das operações foi transferido para Buenos Aires, de onde os grupos
terroristas chilenos eram ajudados com dinheiro, informação, armas e
documentação falsa para viagens a Cuba, quase sempre via Lima, Peru e daí para
Havana, pela Cubana de Aviación.
Em
dezembro de 1989, quando do seqüestro do empresário Abílio Diniz, no Brasil,
por um grupo de argentinos, chilenos e canadenses, em algumas agendas
apreendidas com os seqüestradores figurava o nome do embaixador de Cuba na
Argentina, Santiago Eduardo Díaz Paez, codinome “Terry”, membro do Departamento
América desde, pelo menos, 1985. Nessa época, 1989, o Conselheiro Político da
embaixada na Argentina era Daniel Enrique Herrera Perez, subchefe do DA para o
Cone Sul.
As
operações dirigidas pelo Departamento América, que chamamos de “bandidagem
revolucionária” foram inúmeras, todas ou quase todas utilizando a mão de obra
ociosa do MIR chileno, que era considerado “o filho predileto” de Piñero.
Essas operações consistiam basicamente em seqüestros e assaltos a bancos. O
Departamento América apontava os alvos, organizava as ações e grupos compostos
por guerrilheiros de distintos países as realizavam.
Um dos personagens mais importantes dessa estrutura era o chileno René Valenzuela Bejas (“El Gato”), que chefiou no Brasil o seqüestro de Abílio Diniz, embora na época não tenha sido identificado, tendo sido posteriormente detido, em 1992, na Espanha por participar de seqüestros junto com a organização Eta-Basca. Valenzuela era, então, um dos dirigentes do MIR chileno, responsável pela obtenção de“solidariedade no exterior”.
Um dos personagens mais importantes dessa estrutura era o chileno René Valenzuela Bejas (“El Gato”), que chefiou no Brasil o seqüestro de Abílio Diniz, embora na época não tenha sido identificado, tendo sido posteriormente detido, em 1992, na Espanha por participar de seqüestros junto com a organização Eta-Basca. Valenzuela era, então, um dos dirigentes do MIR chileno, responsável pela obtenção de“solidariedade no exterior”.
Foram realizados vários assaltos a bancos no México e um dos seqüestros mais comentados ocorreu em 1984, quando militantes do MIR chileno se apoderaram do empresário panamenho Sam Kardensky, no Panamá, que foi libertado quase um ano depois no Equador. O resgate pago foi de US$ 9 milhões.
Os
seqüestros de Luiz Salles, Geraldo Alonso, Antonio Beltran Martinez, Washington
Olivetto e Abilio Diniz, todos em São Paulo, foram operações do Departamento
América. O objetivo era arrecadar fundos destinados às guerrilhas ainda
existentes na América Latina, em face da escassez de recursos decorrente do
desmantelamento do socialismo real, que pôs um fim ao fluxo do chamado “ouro de
Moscou”. Observe-se a coincidência da modalidade do primeiro contato, em todos
esses seqüestros, com as famílias dos seqüestrados, feito através de cartas
acompanhadas de ramos de flores.
Alguns
livros confirmaram a “bandidagem revolucionária”: “A Utopia Desarmada” do
mexicano Jorge Castañeda (editado no Brasil em 1994), “Fin de Siglo em Havana”,
dos jornalistas franceses Jean Pierre Fogel e Bertrand Rosenthal, lançado em
Bogotá, Quito e Caracas em 1994, e “Uma Questão de Justiça”, da jornalista
canadense Isabel Vincent, lançado simultaneamente no Brasil e Canadá em 1995.
Segundo ela, “o cartel (de seqüestros) teria ramificações em mais de
doze países, incluindo terroristas do grupo separatista basco Eta-Basca”.
Também
o atentado ao general Pinochet (“Operação Século XX”) em 1986 – quando cinco
militares da sua segurança foram mortos e dez ficaram feridos -, o atentado que
causou ferimentos ao general Gustavo Leigh, bem como o seqüestro de Christian
Edwards Del Río, filho do proprietário do jornal “El Mercúrio”, em 1991,
contaram com a assessoria da Inteligência cubana.
O poder de Piñero já vinha sofrendo danos com o fortalecimento dos “Contras” na Nicarágua, com o fim da guerrilha em El Salvador, mediante um acordo de paz e, fundamentalmente, pela queda do bloco soviético, nos anos de 1989, 1990 e 1991.
Finalmente, a demissão de Piñero da chefia do Departamento América, em 24 de fevereiro de 1992, parece ter sido em conseqüência da “bandidagem revolucionária”, pois para os Serviços de Inteligência da América Latina não era mais segredo a responsabilidade cubana nos bastidores.
Observe-se
que no ano de 1978 Manuel Piñero respaldou a chamada “Operação Retorno”, do
MIR, mediante a qual voltaram ao Chile, clandestinamente, inúmeros militantes
com formação militar em Cuba. Não obstante, essa operação fracassou, sendo
detida a maior parte dos retornados, desarticulado o núcleo urbano e aniquilado
o “Foco Guerrilheiro” que havia sido instalado na região de Netume.
Apesar desse fracasso, Piñero sobreviveu na chefia do DA graças ao saldo acumulado pela participação na vitória sandinista, em 1979, na Nicarágua e ao estabelecimento de um regime pró-castrista em Granada.
Apesar desse fracasso, Piñero sobreviveu na chefia do DA graças ao saldo acumulado pela participação na vitória sandinista, em 1979, na Nicarágua e ao estabelecimento de um regime pró-castrista em Granada.
Finalmente,
uma referência deve ser feita ao Departamento de Operações Especiais, órgão a
cargo das Tropas Especiais, unidade paramilitar vinculada ao Ministério do
Interior, através do qual militantes dos chamados movimentos de libertação
nacional, escolhidos pelo Departamento América, recebem treinamento militar em
Cuba. Embora oficiais desse Departamento mantenham contatos diretos com membros
do aparato militar de determinados movimentos de libertação, a supervisão de
tais contatos é, no entanto, do DA.
Em 26
de agosto de 2004, a presidente do Panamá, Mireya Moscoso, decidiu soberanamente indultar
quatro anticastristas presos sob a acusação de conspirar para matar Fidel
Castro. Imediatamente o governo cubano divulgou uma nota anunciando
o rompimento das relações diplomáticas entre os dois países, tachando a
presidente do Panamá de “cúmplice e protetora do terrorismo”.
O
governo cubano, descaradamente, conta com a falta de memória da mídia e dos
povos para acusar a outros daquilo que sempre fez e que constitui o bê-a-bá de
sua política externa: a bandidagem revolucionária.
Carlos
I. S. Azambuja é Historiador. Originalmente publicado no site Mídia Sem
Máscara.
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