Policiais militares do Rio relatam terror em UPPs: ''pior são as rajadas''
Maria Luisa de Melo
Do UOL, no Rio
Do UOL, no Rio
Os sucessivos e violentos ataques às UPPs (Unidades de Polícia
Pacificadora) têm espalhado o medo entre os policiais militares do Rio
de Janeiro. Entre março e abril, quatro unidades sofreram ataques de
traficantes de drogas. Só na favela da Rocinha, na zona sul da capital
fluminense, foram registrados dois atentados em menos de 24 horas, e um
policial foi gravemente ferido. Criminosos também tentaram intimidar PMs
com rajadas de tiros no morro do Cantagalo, no Complexo do Lins e no
Complexo do Alemão.
Lotado na UPP Rocinha há dois anos e meio, o soldado R. relatou já ter tido dois amigos feridos e um morto. Além disso, ante a diversas ameaças de morte sofridas, ele disse ter medo de ser alvo de traficantes até nos dias de folga. "Os traficantes marcam a fisionomia da gente e corremos risco mesmo quando não estamos na favela trabalhando", declarou a PM.
Para se ter uma ideia, na semana do Carnaval, eu e alguns colegas fomos
escalados para tirar plantão extra. Na hora que estávamos voltando para
o batalhão, dois colegas foram atingidos na Estrada da Gávea, a
principal da favela. Um mototaxista transportava um traficante armado
que atingiu meus colegas no braço e no abdômen. Estamos muito
vulneráveis", declarou o PM.
"Antes da inauguração da UPP, um amigo meu, que se formou comigo, levou um tiro na cabeça e morreu. Não me sinto nem um pouco seguro principalmente porque os traficantes têm armamento pesado e estão em maior número que os PMs, e isso faz muita diferença. Só na Rocinha tem mais ou menos 600 policiais e mais que o dobro de traficantes", completou.
Além dos traficantes em maior número, R. afirma que há espaços dentro da favela onde a polícia nunca conseguiu entrar: "Os bandidos vivem nos afrontando pelo rádio e a gente não tem como entrar em várias áreas da Rocinha. Os traficantes armados ficam não só nos becos, mas até nas ruas principais. E os moradores também são ameaçados pelos bandidos para tratarem a gente muito mal. Tenho muita vontade de deixar de trabalhar em UPP. Já pedi ao meu comando uma transferência, mas até agora não fui atendido".
Há quase dois anos no policiamento da UPP Cantagalo, em Copacabana, na zona sul da cidade, o soldado L. diz lembrar das rajadas de tiros contra as bases da UPP quando questionado sobre o pior momento já vivido por ele nas filas da Polícia Militar.
"Só abordar os elementos em atividade suspeita na favela já é complicado. Muitos moradores acertam pedras e pontas de azulejos na gente. Nosso trabalho tá ficando cada dia pior. Todos os policiais têm muito medo, mas não há o que se possa fazer. É difícil sobreviver numa UPP. Os homens são poucos em comparação com o número de bandidos. Para mim, o pior até agora são as rajadas de tiros, mas também levamos pedradas direto", relatou.
L. era um dos policiais de serviço na manhã do dia 2 de abril, quando houve tiroteio entre dois grupos de facções rivais no Cantagalo. Revoltados, moradores atearam fogo em lixeiras. Segundo ele, toda vez que há um ataque de criminosos, os PMs têm folgas suspensas.
"Só neste último ataque eu tive que trabalhar três dias seguidos,
sem folgas, dormindo no alojamento da UPP. Além disso, os meus dias de
folga e os dos meus colegas vem sendo reduzido. Antes a gente trabalhava
24 horas e folgava outras 48. Agora, não. Temos que trabalhar 24 horas
seguidas e só podemos folgar por mais 24. E não vamos ganhar nenhum
centavo a mais por isso, porque a PM não está classificando este
trabalho a mais como horas extras. Eles dizem que é uma necessidade de
serviço a mais", afirmou.
"Como se não bastassem todos os problemas que a gente já enfrenta nas UPPs, ainda tem esse problema do pagamento. Confesso que já não vejo tantas vantagens em ser policial. Tenho pensado muito em trabalhar em outra área e largar a PM. Tá muito difícil sobreviver assim", finalizou.
Lotado na UPP Rocinha há dois anos e meio, o soldado R. relatou já ter tido dois amigos feridos e um morto. Além disso, ante a diversas ameaças de morte sofridas, ele disse ter medo de ser alvo de traficantes até nos dias de folga. "Os traficantes marcam a fisionomia da gente e corremos risco mesmo quando não estamos na favela trabalhando", declarou a PM.
27.mai.2013
- Policiais patrulham o Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de
Janeiro, um dia após tiroteio feito por traficantes antes da corrida
Desafio da Paz. O tiroteio assustou os participantes e atrasou em uma
hora a largada da corrida. O secretário de Segurança do Rio de Janeiro,
José Mariano Beltrame, estava no local para participar do evento e
declarou que o Estado não sairá do Complexo do Alemão, onde uma UPP
(Unidade de Polícia Pacificadora) foi instalada em 2012.
A corrida
Desafio da Paz é feita em um percurso de 5 quilômetros pela rota de fuga
que foi usada por traficantes em 2010, durante a ocupação na região
Leia mais Antonio Scorza/UOL
Leia mais Antonio Scorza/UOL
"Antes da inauguração da UPP, um amigo meu, que se formou comigo, levou um tiro na cabeça e morreu. Não me sinto nem um pouco seguro principalmente porque os traficantes têm armamento pesado e estão em maior número que os PMs, e isso faz muita diferença. Só na Rocinha tem mais ou menos 600 policiais e mais que o dobro de traficantes", completou.
Além dos traficantes em maior número, R. afirma que há espaços dentro da favela onde a polícia nunca conseguiu entrar: "Os bandidos vivem nos afrontando pelo rádio e a gente não tem como entrar em várias áreas da Rocinha. Os traficantes armados ficam não só nos becos, mas até nas ruas principais. E os moradores também são ameaçados pelos bandidos para tratarem a gente muito mal. Tenho muita vontade de deixar de trabalhar em UPP. Já pedi ao meu comando uma transferência, mas até agora não fui atendido".
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13.abr.2014
- Morador do Complexo da Maré, zona norte do Rio de Janeiro, afirma que
militares arrombaram seu carro duas vezes atrás de armas e drogas.
Ele
escreveu um recado em que diz: "Carro de trabalhdor. Tem dono, é velho,
mas ainda funciona! Não tem drogas e nem armas dentro desse carrro".
No
texto, o morador deixa os contatos para que os militares o procurem se
quiserem vasculhar o veículo Nina Lima/Extra/Agencia O Globo
Há quase dois anos no policiamento da UPP Cantagalo, em Copacabana, na zona sul da cidade, o soldado L. diz lembrar das rajadas de tiros contra as bases da UPP quando questionado sobre o pior momento já vivido por ele nas filas da Polícia Militar.
"Só abordar os elementos em atividade suspeita na favela já é complicado. Muitos moradores acertam pedras e pontas de azulejos na gente. Nosso trabalho tá ficando cada dia pior. Todos os policiais têm muito medo, mas não há o que se possa fazer. É difícil sobreviver numa UPP. Os homens são poucos em comparação com o número de bandidos. Para mim, o pior até agora são as rajadas de tiros, mas também levamos pedradas direto", relatou.
L. era um dos policiais de serviço na manhã do dia 2 de abril, quando houve tiroteio entre dois grupos de facções rivais no Cantagalo. Revoltados, moradores atearam fogo em lixeiras. Segundo ele, toda vez que há um ataque de criminosos, os PMs têm folgas suspensas.
"Como se não bastassem todos os problemas que a gente já enfrenta nas UPPs, ainda tem esse problema do pagamento. Confesso que já não vejo tantas vantagens em ser policial. Tenho pensado muito em trabalhar em outra área e largar a PM. Tá muito difícil sobreviver assim", finalizou.
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