CoroneLeaks
Paulinho, como era chamado por Lula, mantinha uma detalhada contabilidade do propinoduto que foi montado dentro da Petrobras.
A Polícia Federal apreendeu na
casa do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está
preso em Curitiba desde o último dia 20 por conta da Operação Lava-Jato, uma
extensa planilha de negócios da Costa Global — empresa de consultoria de sua
propriedade que prestava serviços para centenas de fornecedoras da Petrobras.
A
maioria das consultorias, assinadas depois que ele se aposentou da estatal, em
2012, envolve taxas de sucesso com percentagens que variam entre 5% e 50% dos
valores dos contratos assinados pelas empresas com a petrolífera. A PF acha que
Costa fazia uso de sua influência política para fechar os contratos de
consultoria.
Entre as empresas listadas, está,
por exemplo, a empreiteira Camargo Corrêa, que pagaria, segundo a planilha, uma
mesada de R$ 100 mil a Costa, num contrato que, até setembro de 2015, vai
render R$ 3 milhões ao ex-diretor da Petrobras. A PF suspeita que ele receba o
pagamento mensal da empreiteira como uma espécie de contrapartida pelo fato de
Costa ter contribuído com a empresa enquanto era diretor da estatal. A Camargo
Corrêa é responsável pelas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, com
um contrato de R$ 8,9 bilhões. Esse contrato é citado na Operação Lava-Jato.
As centenas de contratos de
consultoria de Costa com fornecedoras da Petrobras atingem volumes vultuosos.
Só da Iesa, ele recebe R$ 100 mil por mês, num contrato que terminaria agora em
abril. Da Queiroz Galvão, recebeu, segundo a PF, R$ 100 mil por mês. Já a
Equador Log pagaria a Costa, até agosto, mais R$ 135 mil por mês.
Na planilha apreendida pela PF,
Costa anotava o número do contrato, o nome da empresa da qual recebia mesadas,
os valores recebidos e também o nome do diretor da empresa pela qual era
contemplado com elevados mimos.
A maior parte das mesadas
anotadas por Costa representa 5% dos contratos, mas há casos de 15% e até de
50%, como acontece com a WSA. Na planilha, na linha referente a um contrato com
a empresa de dois anos de duração, aparecem anotados os valores “50%/50%”.
O percentual de 50% aparece nas
planilhas também em situações em que ele é cobrado para além da taxa de
sucesso. É o caso da Astromarítima Navegação S.A., como revelado pelo
“Fantástico” neste domingo. Segundo afirmou ao programa o advogado de Paulo
Roberto Costa, Fernando Fernandes, neste caso, o valor adicional da taxa de
sucesso seria de 50% aplicados sobre 5% que aparecem na planilha, o que daria
um total de 7,5%.
Mas o “Fantástico” mostrou documentos que revelam que o
acordo entre a Astromarítima e a consultoria de Costa especificava que os 50%
seriam cobrados sobre tudo que excedesse o valor de R$ 110 milhões. Também ao
programa, Alcir Burbon, um dos sócios da Astromarítima, disse que o único
contrato que a empresa teve com a Costa Global, do ex-diretor, foi na busca de
novos investidores, mas não deu certo.
Ao GLOBO, o advogado disse que
seu cliente não fez nada de irregular e que não estaria impedido de intermediar
negócios com a Petrobras por já ter cumprido quarentena após ter saído da
empresa em 2012. Sobre os 50% que constam no caso da WSA, ele afirmou que
seriam 50% sobre um percentual de 5% (que não consta da planilha), totalizando,
portanto, 2,5%.
Na última coluna da planilha
consta o status da operação: se ela está em andamento ou não. Mas uma expressão
chamou a atenção dos policiais. Costa registrou em algumas a frase “sem firma
reconhecida”. Os policiais acreditam, portanto, que esses contratos nem registrados
são e que Costa receberia as benesses “por fora”, alimentando seu caixa-dois.
Na agenda de Costa que foi
apreendida pela PF em seu apartamento no Rio, consta ainda uma série de
pagamentos feitos “por fora” e inclusive a partidos políticos, sobretudo PP,
PMDB e PT. Só para o PP, que o manteve por oito anos no cargo de diretor de
Abastecimento da Petrobras, ele pagou, em 2010, R$ 28,5 milhões, dos quais R$
5,5 milhões foram para o deputado João Pizzolatti. Outros R$ 4 milhões foram
para Nelson Meurer.
Costa era tão organizado que toda
a movimentação financeira de suas empresas era anotada em planilhas e nos
computadores que foram apreendidos em sua casa na Barra da Tijuca. Na planilha
de entradas e saídas de valores de 30/11/12 a 3/6/13, Costa revela ter em caixa
R$ 3,079 milhões, além de US$ 645 mil e € 279 mil. No dia em que a PF esteve no
apartamento de Costa, seus parentes, inclusive filhas e genros, tentaram
carregar documentos e pen-drives em sacolas e malas. Costa foi preso e
conduzido a Curitiba, aliás, por ter tentando esconder provas.
Mas o que mais chamou a atenção
da PF nas planilhas apreendidas é que há uma lacuna com o nome “Primo” (como o
doleiro libanês Alberto Youssef é conhecido pela PF), fazendo repasses de
grandes quantias de dinheiro a Costa. Os dois seriam sócios em vários negócios
de intermediação com fornecedores da Petrobras. Entre 17/12/12 e 15/3/13,
Youssef deu “entrada” na conta de Costa com totais de R$ 1,060 milhão, US$ 500
mil e outros € 35 mil. Com esses totais, em junho de 2013 Costa tinha um caixa
geral de R$ 4,139 milhões, US$ 1,145 milhão e € 314 mil.
Fora dos padrões de mercado
O professor Fernando Zilveti, da
FGV/SP, diz que “taxas de sucesso” de 50% do contrato estão totalmente fora dos
padrões do mercado de consultoria para intermediação de contratação.— Esse percentual não existe. É
feito para camuflar o pagamento de um serviço não prestado. Os percentuais
normalmente praticados são de 5% a 10%. Quando o contrato é muito alto, pode
ser de 1%. Com valores muito baixos, a comissão por intermediação pode chegar a
15%. Um percentual desse (50%) não é compatível com padrão adequado de
governança. Isso é totalmente obscuro.
O GLOBO entrou em contato com a
Queiroz Galvão ontem à noite, mas a assessoria informou que não conseguiu
localizar nenhum diretor. Os responsáveis pelas demais empresas não foram
encontrados. (O Globo)
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