14/04/2014 05h19
Documentos mostram comissão que ex-diretor da Petrobras receberia
Novos documentos apreendidos pela Polícia Federal e exibidos pelo Fantástico mostram detalhes dos negócios feitos pela consultoria do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e empresas que tinham contratos com a Petrobras.
A PF apreendeu na casa de Costa, no Rio de Janeiro, planilhas onde o
ex-diretor da Petrobras listava as empresas que contrataram os serviços
da Costa Global, consultoria criada depois que ele saiu da Petrobras em
2012.
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O ex-diretor da Petrobras mantinha um controle detalhado de todas
operações que ele intermediava entre a Petrobras, empreiteiras e
fornecedores. É justamente essa riqueza de informações que está ajudando
a Polícia Federal a descobrir as ligações dele e o tamanho da rede que
ele operava.
Numa das planilhas obtidas pelo Fantástico, aparece ao lado do nome das
empresas a porcentagem que o ex-diretor da Petrobras receberia caso
conseguisse contratos para elas. Em muitos casos, a comissão é de 50%
Costa e o doleiro Alberto Youssef, suspeito de chefiar suposto esquema
de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, foram presos pela operação
Lava Jato. Segundo as investigações, o esquema pode ter movimentado
cerca de R$ 10 bilhões.
Operação Lava Jato
A operação Lava Jato foi deflagrada em 17 de março. Na ocasião, a PF executou mandados em Curitiba e outras 16 cidades do Paraná, além de cidades de outros seis estados.
Na sexta-feira (11), foram cumpridos 16 mandados de busca, quatro de
condução coercitiva (quando o suspeito é levado para depor) e um de
prisão temporária nas cidades de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro,
Macaé e Niterói. Os documentos recolhidos e os R$ 70 mil apreendidos
nesta segunda fase da operação Lava Jato foram levados para a
Superintendência da Polícia Federal (PF) no Paraná, em Curitiba.
CONFIRA A SEGUIR A ÍNTEGRA DA REPORTAGEM DO FANTÁSTICO:
O Fantástico teve acesso com exclusividade a novos documentos
apreendidos na casa do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. Ele
foi preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato. Paulo Roberto e o
doleiro Alberto Youssef são suspeitos de participar de um esquema de
lavagem de dinheiro que pode ter movimentado R$ 10 bilhões.
Esses novos documentos mostram detalhes de negócios feitos entre a
consultoria de Paulo Roberto e empresas que tinham contratos com a
Petrobras. A reportagem é de Fernando Parracho e James Alberti.
A Polícia Federal apreendeu na casa do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa documentos e planilhas onde ele listava as empresas que
contrataram os serviços da Costa Global, a consultoria que ele criou
depois que saiu da Petrobras, em 2012.
Paulo Roberto mantinha um controle detalhado de todas as operações que
ele intermediava entre a Petrobras, empreiteiras e fornecedores. É
justamente essa riqueza de detalhes que está ajudando a Polícia Federal a
descobrir as conexões de Paulo Roberto Costa e o tamanho da rede que
ele operava.
Em uma planilha, a que o Fantástico teve acesso, Paulo Roberto anotava
ao lado do nome das empresas, a porcentagem que ele receberia, caso
conseguisse contratos para elas.
Chama a atenção que em muitos casos, a comissão do ex-diretor da
Petrobras é de 50%. Uma das empresas é a Astromarítima Navegação S.A.,
que funciona no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro. Em outubro
do ano passado, a Astromarítima assinou com a Petrobras seis contratos
de serviço de fretamento de embarcações. No total, aproximadamente R$
490 milhões, em valores convertidos no câmbio deste domingo (13).
A empresa assinou ainda um outro contrato com a Petrobras em janeiro de
2014, no valor de mais de R$ 69 milhões, pelo câmbio deste domingo.
Em 28 de novembro de 2013, um mês após a assinatura do primeiro
contrato da Astromaritima com a Petrobras, Paulo Roberto Costa menciona a
empresa em uma planilha.
Na coluna referente ao Success Fee, a comissão que a Costa Global
receberá da Astromarítima, caso tivesse sucesso no negócio, seria de 5%
do valor bruto, mais 50% não especificados.
Mas, este acerto aparece detalhado em outro documento aprendido pela
Polícia Federal. É uma espécie de contabilidade feita por Paulo Roberto
dos negócios da Costa Global.
No trecho em que se refere aos contratos em andamento, o documento
confirma que a Astromarítima Navegações S.A. pagaria comissão de 5% do
valor bruto, até o limite de R$ 110 milhões, e mais 50% sobre o montante
que ultrapassasse este valor.
“Essas anotações se referem a contratos obtidos pela empresa do Paulo
Roberto, declarados e legais e que, nesse caso, se refere a tentativa de
investimento ou venda desta empresa. Nenhuma relação com a Petrobras”,
afirma Fernando Augusto Fernantes, advogado do Paulo Roberto Costa.
O doleiro Alberto Youssef, que foi preso com Paulo Roberto Costa, pela
Polícia Federal durante a Operação Lava-Jato, no mês passado, também
aparece nestas planilhas.
Em um balanço contábil de negócios feitos entre novembro de 2012 e
junho de 2013, Paulo Roberto registrou entradas de R$ 1 milhão e 60 mil,
parte em euros, parte em dólares. E atribuiu a origem deste dinheiro, a
uma pessoa que ele chama de "primo".
A investigação da Polícia Federal aponta que "primo" é o apelido de
Alberto Youssef, algumas vezes também chamado de "Beto". Ele e Paulo
Roberto teriam operado o esquema de lavagem de dinheiro que movimentou
US$ 10 bilhões em quatro anos.
'Balcão de negócios'
O deputado Fernando Franceschini, do Solidariedade, membro da comissão externa criada pela Câmara Federal para investigar os contratos da Petrobras com a empresa holandesa SBM, quer que a comissão investigue também os contratos suspeitos de terem sido intermediados pelo ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa.
Para o deputado, Paulo Roberto usou a Petrobras para levantar uma quantia milionária.
“As denúncias são gravíssimas novamente. Mostram que o senhor Paulo
Roberto, diretor da Petrobras à época, montou um balcão de negócios
dentro da sua atividade. Dividindo lucro de negócios escusos, usando o
doleiro Alberto Youssef para lavar esse dinheiro, que muitas vezes ia
parar nas campanhas políticas”, destaca Fernando Francischini, deputado
federal do Solidariedade / PR.
O advogado de Paulo Roberto Costa, Fernando Fernandes, disse que o
cliente dele não responde a manifestações políticas de pessoas que,
segundo ele, estão se aproveitando do momento eleitoral. Quanto aos 50%
de comissão que estão destacados na planilha apreendida pela Polícia
Federal, ele diz que se referem à metade de 5%, o que daria um total de
7,5% de comissão sobre o contrato fechado.
A produção do Fantástico conseguiu localizar um dos sócios da
Astromarítima. Alcir Bourbon Cabral informou, por telefone, que o único
contato que a empresa teve com a Costa Global, de Paulo Roberto Costa,
foi na busca de novos investidores. Mas não deu certo, e nenhum contrato
foi fechado com a intermediação dele.
Segundo Alcir Cabral, os contratos que a Astromarítima tem com a Petrobras foram submetidos às concorrências previstas por lei.
A Petrobras confirmou que tem contratos com a Astromarítima desde a
década de 1980. Mas disse que, neste domingo (13), não conseguiria dar
mais detalhes.
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